Quarta 15 de Maio de 2024

Nacional

Viva a luta dos controladores de vôo!

"Não confiamos em nossos equipamentos e não confiamos em nossos comandos!"

03 Apr 2007   |   comentários

Com essa afirmação categórica os controladores de vóo cruzaram os braços na última sexta-feira. Resultado imediato: Paralisação completa dos aeroportos brasileiros.

Desta vez não houve meio-termo os controladores expostos à enorme pressão e superexploração passaram por cima do comando oficial da Aeronáutica, do Governo e da reacionária constituição brasileira que não lhes garante o direito democrático fundamental de greve. Deixaram todos os aviões no chão, mostrando o poder que esta categoria tem e o papel estratégico que cumprem no funcionamento do país e da economia. Isso na mesma semana em que, “a pedido de Lula” , a GOL, se apoderou facilmente da Varig sem tocar no assunto dos mais de 9 mil trabalhadores demitidos pela “velha Varig” que 10 meses depois continuam sem ver qualquer centavo dos salários, rescisões, FGTS e demais direitos, e o que é pior, completamente abandonados por seus sindicatos da CUT e Força Sindical.

O que vemos é a consolidação de um duopólio, ou centralização do “direito” de explorar e lucrar nas mãos de duas novas potências capitalistas nacionais, a TAM e a GOL. Duopólio que já nasce marcado pela promoção do sofrimento para passageiros que são tratados como mera fonte de enriquecimento “a baixo custo” e trabalhadores superexplorados.

Entretanto na contramão desta crise da aviação que ainda tende muito a se desenvolver, fica claro que os trabalhadores, confiando nas suas próprias forças e com seus métodos históricos de luta, podem não só resistir contra os planos desferidos pelo governo ao conjunto da classe trabalhadora do país mas também fazer frente a corrida pelo lucro promovida pelos monopólios da aviação, podendo reverter a situação a seu favor.

O levantamento dos Controladores: um processo avançado da luta de classes no Brasil

Nos aeroportos as cenas dos saguões lotados e os passageiros desnorteados em meio ao mar de desinformação, onde nem INFRAERO, nem a ANAC, nem as companhias ofereceram suporte dignos, demonstrou um quadro desconcertante para Lula, viajando, e ainda mais para o gabinete de crise formado pelo governo que tratou a insubordinação e greve dos controladores como questão de segurança nacional.

O Governo mais uma vez se viu pressionado entre uma saída “negociada” , criando um canal direto entre os ministérios e os controladores mobilizados; contraposta à “linha-dura” que as Forças Armadas de conjunto queriam adotar desde o começo. Com sua autoridade hierárquica contrariada, sentiram-se ameaçados pelos precedentes de novas insubordinações que isso poderia gerar em outros setores de baixos oficiais tanto do Exército, como na Marinha, por melhores condições e salários a partir do exemplo da vitória dos controladores.

Como a meses atrás, os controladores impuseram seguidos atritos entre a velha casta dos militares brasileiros e “seus” governantes que não foram muito cuidadosos com a intocável hierarquia militar, desta vez assistimos a uma resposta desesperada do alto comando da Aeronáutica que mandou prender 18 dos controladores que lideravam a greve de fome em Brasília e a paralisação parcial dos Aeroportos do país, fato que foi noticiado e logo negado, leia-se abafado pela imprensa. Lula haveria ordenado a suspensão imediata da voz de prisão aos controladores, temendo o efeito cascata do levantamento dos controladores em todo país que isso poderia gerar. Efeito inevitável que já estava se dando, articulado a partir da rede de comunicação e mobilização interna entre os controladores, expandindo a paralisação desde o Cindacta 1 em Brasília, para os Cindactas de Manaus e Curitiba, ou seja a total paralisação dos aeroportos; durante mais de 6 horas não decolava nenhum das centenas de vóos de passageiros programados assim como também ficavam em solo as toneladas de bilhões de dólares em cargas que deveriam ser distribuídas pelo país ou exportadas.

Pelo exemplo de combatividade, unidade e consciência, esta greve ganha ainda mais importância se a enxergamos como parte mais avançada de um processo de retomada de greves que setores importantes da classe trabalhadora nesse ano já vêm travando, a exemplo da greve solidária e vitoriosa dos metalúrgicos da VOITH pela incorporação dos terceirizados, greves dos operários da construção civil de SP e do Rio, além da greve com ocupação da fábrica pelos operários da Fris Moldu Car na região do ABC paulista.

Foi exatamente retomando o método histórico dos trabalhadores que os controladores unidos a partir das bases, puseram em prática o único método que efetivamente ameaça os lucros, planos e ataques da patronal e do governo. Ao se sentirem como parte da única classe que tem esse poder, demonstraram uma lição que deve ser aprendida por todos nós e que se resume na frase de um dos sargentos que lideraram a luta: “descobrimos que podemos parar o país” .

Os passageiros e os demais trabalhadores da aviação foram completamente abandonados frente a crise

Como trabalhadores do setor vemos de perto e sabemos: são as grandes empresas da aviação, o governo federal e a aeronáutica os causadores da crise. Apesar do discurso das empresas e dos setores mais reacionários que classificam os controladores como responsáveis pelos acidentes e por seguidos cancelamentos dos vóos, sabemos que por trás está a ganância capitalista materializada nos “overbooking´s” ; sabemos que por trás esta o sucateamento do setor tão denunciado pelos controladores; e principalmente, conhecemos e vivemos a total precarização e falta de garantia e cumprimento dos direitos dos trabalhadores da aviação no Brasil. Do outro lado, os passageiros mais uma vez deixados a esmo pelas companhias que, tal qual na crise dos “overbooking´s” no final de ano, se negaram a se quer pagarem hotéis e refeição, numa situação onde não se tinha nenhuma garantia de quando embarcariam.

A situação de abandono das companhias mesmo após serem pagas pelos serviços, levou os passageiros a se levantarem nos saguões chegando a invadir aeronaves, e até fazer pichações dando basta a Lula. Os funcionários se desdobrando em dois eram colocados como verdadeiros escudos humanos nos check-ins pelas companhias, já que eram incumbidos de providenciar informação e acomodação aos passageiros não fornecidos pelas próprias empresas, tão pouco pela a INFRAERO ou a ANAC. Nos casos mais graves funcionários chegaram a ser agredidos por passageiros, promovendo situações realmente tristes entre explorados e vítimas da ganância descarada, enquanto os verdadeiros culpados pela situação dos aeroportos lucravam e faziam piadas para TV a exemplo do vice-presidente José Alencar.

Chamamos a população a reconhecer os verdadeiros responsáveis pela crise estrutural que são as grandes companhias sedentas de lucro e as autoridades como vimos denunciando, ao mesmo tempo em que chamamos a total solidariedade com a luta dos companheiros controladores.

Como trabalhadores aeroviários, também percebemos a total ausência das organizações sindicais e o completo abandono aos direitos dos passageiros e dos demais trabalhadores das diversas empresas. A CUT, e a Força Sindical também devem ser responsabilizadas pelo descaso e sofrimento dos passageiros, vítimas do péssimo serviço prestado pelas companhias, e ainda mais a exploração desumana à que têm sofrido os trabalhadores aeroviários, aeronautas e aeroportuários. Fato evidenciado com o silêncio cúmplice e pró-governo dessas organizações diante da crítica situação. Por isso exigimos dos nossos sindicatos, e chamamos os trabalhadores a também fazê-lo, que a CUT e FS efetivem uma campanha ativa de solidariedade aos controladores e de repúdio às futuras punições e perseguições, voltando todos os seus recursos. Que utilizem sua influência de massas para fiscalizar e denunciar a superexploração dos trabalhadores da aviação assim como o descaso das empresas aos passageiros, chamando como respostas aos ataques uma paralisação geral dos serviços aeroportuários.

Unidade entre os trabalhadores para garantir a vitória

A paralisação histórica dos controladores impós ao Governo e aos altos oficiais da Aeronáutica, uma derrota também histórica, já que o governo foi obrigado a aceitar ’ ainda que faça todas as manobras para recuar ’ formalmente e publicamente todas as reivindicações fundamentais dos controladores, como a desmilitarização do setor (o que abre perspectiva da legalidade das futuras associações sindicais, reuniões e manifestações), gratificação salarial, além de garantias contra as transferências fruto de perseguições; nenhuma prisão nem punições aos controladores insubordinados.

Como já dizem alguns analistas burgueses, abriram-se precedentes para que categorias de outros serviços essenciais sejam paralisados pelos trabalhadores, e justo num momento em que se discute a lei de proibição de greves em serviços essenciais. E como o ataque a esse direito faz parte estrutural dos planos de Lula devemos nos armar e organizar a mais ampla unidade entre os trabalhadores dos diversos setores já que o governo e a Aeronáutica vão tentar o contra-golpe, apertando o cerco contra futuros movimentos reivindicativos.

Nesse momento então, onde os controladores vêm a se somar com importantes setores de diversos ramos da classe trabalhadora que saem em luta pelos mais elementares direitos, como o de luta por emprego, salário digno, e o direito a greve é necessário que as organizações combativas, a exemplo da Conlutas e da Intersindical levantem uma clara exigência aos sindicatos da CUT e da Força Sindical (principais organizações e responsáveis por centralizar a maioria dos sindicatos) para mobilizar os milhares de sindicatos em uma frente única de ação que possa organizar e unificar os trabalhadores pelo direito elementar de manifestação e reunião não somente em setores especiais como o dos controladores; mas o irrestrito direito à greve de todo e qualquer trabalhador; lutar contra as demissões, por mais empregos e salários dignos; coordenando os processos grevísiticos que já estão em curso para que sejamos vitoriosos. Mais, essa vitória dos controladores demonstra que o governo e a patronal poderão enfrentar forte resistência da classe trabalhadora às reformas neo-liberais se seguirmos o exemplo desses camaradas.

Viva a luta dos controladores de vóos por melhores salários e condições; pela desmilitarização imediata, como parte da luta pelo direito de reunião, associação sindical e manifestação!

Nenhuma prisão e punição aos dirigentes e a qualquer controlador; Barrar os processos militares com paralisação; Se atacam um, atacam todos!

Chamamos todo apoio à luta dos controladores; que a população e os demais trabalhadores se solidarizem a essa luta que é uma luta também contra a precarização, o sucateamento e por maior segurança nos vóos!

A mais ampla unidade pelo direito de greve irrestrito!

A.S. e R.M. aeroviários do Terminal de Cargas do Aeroporto de Guarulhos; G.R. aeroviário terceirizado do Aeroporto de Guarulhos;

Trabalhadores que impulsionam o Movimento por uma Tendência Sindical Classista e Socialista.

Artigos relacionados: Nacional , Movimento Operário









  • Não há comentários para este artigo