Sexta 26 de Abril de 2024

Internacional

Impunidade e militarização em Ferguson a serviço do racismo

19 Nov 2014   |   comentários

Na segunda-feira 17 de novembro o governador democrata do Missouri Jay Nixon decretou Estado de Emergência no estado. Trata-se de uma tentativa de esvaziar preventivamente as manifestações no julgamento por júri popular da ação contra o policial Darren Wilson, que atirou em Michael Brown em Ferguson, Missouri no dia 9 de agosto.

Na segunda-feira 17 de novembro o governador democrata do Missouri Jay Nixon decretou Estado de Emergência no estado. Trata-se de uma tentativa de esvaziar preventivamente as manifestações no julgamento por júri popular da ação contra o policial Darren Wilson, que atirou em Michael Brown em Ferguson, Missouri no dia 9 de agosto. Trata-se de um julgamento prévio para definir se o processo será arquivado, ou se sofrerá indiciamento e julgamento posterior.

Este decreto ainda não promulgado é esperado que aconteça em algum dia desta semana. No mês de agosto todo o mundo pode ver como manifestantes e, mesmo jornalistas, eram atacados por gás lacrimogênio e sofriam tiros de bala de borracha. O mundo assistiu enquanto o governador declarava Estado de Emergência e as tropas da Guarda Nacional eram chamadas para lidar com as manifestações. Imagens chocantes de uma polícia militarizada se enfrentando com manifestantes desarmados.

Segundo a Anistia Internacional ocorreram diversas violações dos direitos humanos, entre elas o impedimento de reunião pacífica, imposição de toques de recolhes para negar o direito à manifestação, entre outros. Segundo a MORE (Missourians Organizing for Reform and Empowerment), 346 manifestantes foram detidos desde que Mike Brown foi assassinado. Destes detidos há processos judiciais por 44 crimes diferentes. Darren Wilson matou um adolescente desarmado e não foi preso, detido, e não está sendo acusado de nenhum destes 44 crimes graves que manifestantes estão indiciados, o julgamento do policial é para decidir se poderá sofrer algum indiciamento ou não.

Desde agosto tem ocorrido protestos recorrentemente, incluindo o que ficou conhecido como “Outubro de Ferguson”, com uma semana de protestos.
Mike Brown foi assassinado no dia 9 de Agosto e somente agora, na semana de 17 de novembro que Darren Wilson pode vir a ser preso por este assassinato. Wilson aguarda o julgamento em licença remunerada da polícia e se não for condenado retornará a atuar como um oficial da polícia. Wilson não foi preso justamente por ser um oficial da polícia, uma força que está autorizada a usar força letal se sentir-se ameaçada. Se o júri julgar Wilson culpado, aí sofrerá indiciamento e aguardará o julgamento.

Entretanto, a população em Ferguson e em todo o país está se preparando para que o júri não condene Wilson. Em Ferguson as lojas já se protegeram com tapumes e são esperados protestos em todo o país. O decreto do governador Nixon significa que a Guarda Nacional estará em Ferguson buscando intimidar as pessoas a se silenciarem e para defender os negócios. O governador declarou que usará a guarda para “visibilidade”, “contenção” e “aviso prévio”. Ela ficará alocada nos shoppings centers e prédios do governo. Esta decisão mostra explicitamente como nos EUA as vidas de meninos negros não precisam ser respeitadas mas os símbolos do capitalismo – os shoppings centers e os prédios do governo sim precisam ser respeitados e permanecerem “intocados”. Trata-se de uma tentativa de desencorajar as manifestações e assustar as pessoas com a muito armada Guarda Nacional. Amedrontamento com promessas de mais gás lacrimogênio, mais prisões e balas de borracha, como já vimos em agosto.

Nos EUA dois negros são mortos pela polícia a cada semana. Por esta realidade a maioria dos meninos negros são ensinados a como se comportar com a polícia: sempre deixar as mãos visíveis quando estiver em um carro, se referir aos policiais falando “sim senhor, não senhor”, etc. Os negros já foram vítimas da polícia suficientes vezes para saber as consequência de enfrenta-la individualmente. Sean Bell, Kimani Grey, Oscar Grant, Mike Brown e um sem-número de outros corpos negros mortos são tentativas de tentar mostrar que os negros devem ser obedientes se quiserem ficar vivos. No entanto a comunidade negra tem protagonizado grandes manifestações contra a violência policial.

É contra esta resposta que o governador Nixon está tentando “dar uma nova lição” aos negros. Com uma resposta institucional para calar os negros e tentar ensinar, novamente, a ficar quietos frente a mais um corpo negro caído. Nos EUA quando um policial mata um negro as cortes debatem se trata-se de um crime ou não, se haverá indiciamento ou não. Manifestantes pacíficos, ao contrário, são rapidamente acusados e indiciados por crimes. Os privilégios e impunidade da polícia são evidentes. Nixon está deixando isto bem claro para a população em Ferguson e no país: respeitem este sistema injusto ou também serão processados e sofrerão as consequências, digam “sim senhor”, “não senhor”, e curvem o rosto frente à Guarda Nacional.

Com a grande mobilização dos jovens, da comunidade negra, e de trabalhadores desde este assassinato o resultado esperado por Nixon não está garantido, por isto chamou a Guarda Nacional. Uma parcela da população está ignorando os apelos dos líderes religiosos a “mudar o sistema pelo voto”. A desconfiança frente a estes líderes religiosos, que são lideranças tradicionais nas comunidades negras e na luta dos negros nos EUA, mostra uma crescente descrença em confiar suas esperanças nos políticos e nas urnas, e uma crescente confiança que a luta pelos direitos deve ser tomada em suas próprias mãos e ela deve ser levada às ruas.

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