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Teoria

Homenagem a Lênin, aos 80 anos de sua morte

15 Feb 2004   |   comentários

“O marxismo encontrou sua expressão histórica mais elevada no bolchevismo” . A frase de Trotsky, cunhada no auge do termidor stalinista (1937), é a expressão enfática do significado para o marxismo da experiência prática do proletariado russo na primeira revolução socialista vitoriosa, e de Lênin, dirigente indiscutível dessa revolução. Por outro lado, os oitenta anos da morte de Lênin, criador da Internacional Comunista e do próprio bolchevismo, estão desgraçadamente marcados pelo profundo obscurantismo acerca das lições que deixou fruto da deturpação de seu pensamento pelo stalinismo e o reformismo.

O nosso esforço está em reconhecer em Lênin os princípios e lineamentos fundamentais da perspectiva comunista para a superação do capitalismo. A tradição comunista não foi desenvolvida sob a égide de um ideal abstrato, assim como os escritos e as experiências de Marx e Engels no século XIX não foram fundados em simplesmente conhecer os segredos da sociedade capitalista. O marxismo agrega ao conhecimento e à ação revolucionária justamente a apreensão prática e efetiva dos modos históricos de produção e reprodução da vida material, desvelando as condições históricas da exploração capitalista e os elementos que permitem superá-la.

A perspectiva comunista se distingue então por reconhecer no próprio capitalismo as condições para a sua derrota e, portanto os verdadeiros marxistas não são adeptos de uma utopia, mas sim colocam todos os esforços em generalizar uma experiência histórica já realizada pelas massas exploradas no mundo. Essa é a perspectiva desenvolvida por Lênin, avançando na trilha aberta pelos clássicos do marxismo. Inversamente, o abandono de tal perspectiva, o “esquecimento” de Lênin, entendido tanto em sua negação infantil descarrilada em utopia romântica, quanto em sua deliberada desfiguração burocrática pelo stalinismo, esse esquecimento é o ponto de partida para todos os erros fundamentais da esquerda mundial.

Reconhecer as tendências principais do movimento histórico, no interior do próprio movimento: o potencial analítico do leninismo

Em 1848, Marx e Engels afirmavam: “O proletariado passa por diferentes fases de desenvolvimento. Sua luta contra a burguesia começa com sua própria existência” . No sentido dessa afirmação é que a figura de Lênin corresponde a uma fase avançada no desenvolvimento do proletariado mundial, fase essa em que se ergue internacionalmente e avança para experiências políticas historicamente inéditas.

Desta maneira, o significado de Lênin é justamente ser parte ativa e muitas vezes decisiva da experiência das classes exploradas. A elaboração leninista parte da constatação de que aos revolucionários nem sempre é dado o privilégio de aguardar o desenlace final dos acontecimentos antes de tomar posição. Ainda mais, o partido do proletariado intervém continuamente no processo da luta de classes, e assim os efeitos de sua própria ação subjetiva fazem parte, ao mesmo tempo e dialeticamente, dos elementos constitutivos da “realidade objetiva” .

Isso é o que se pode ver em todas as suas principais elaborações, desde o “Que Fazer?” de 1902 ’ onde lança as bases da organização proletária revolucionária; até o “Imperialismo, fase superior do capitalismo” de 1915 ’ imperativo para a compreensão teórica do capitalismo no século XX, e “O Estado e a Revolução” , escrito no ano de 1917 e síntese de tudo o que o marxismo tem a dizer sobre o papel do Estado no processo de emancipação da humanidade.

É devido à inesgotável força que emana dessas obras que a teoria-práxis leninista é ressoante em toda a contemporaneidade. Ou seja, a revolução russa, sob a direção do partido bolchevique, protagonizou um período da história humana em que o comunismo deixou de ser tratado como um apenas como um espectro pelas forças da reação, e passou a ser combatido abertamente em uma guerra sangrenta, a contra-revolução que se espalhou por todo o continente europeu.

Um partido revolucionário: a chave da situação

É impossível sequer imaginar um partido destinado à luta pela superação da miséria capitalista sem compreender Lênin. A debilidade da classe operária e de sua vanguarda na atual situação, esse fluxo regressivo, não deve impedir os revolucionários de constituir uma reconciliação com os fios de continuidade do passado.

A teoria do partido leninista por sua vez está ancorada precisamente em duas premissas fundamentais: a primeira é retirar das derrotas políticas um enriquecimento das posições revolucionárias, que seja o impulsionador e organizador da vanguarda para um próximo ascenso das massas e da luta de classes; o segundo é o caráter do partido como organizador da atividade comunista, ou seja, a projeção da centralização orgânica como germe da nova sociabilidade.

Desta maneira, a atividade revolucionária no partido atua como o fator consciente que eleva as diversas experiências historicamente constituídas das massas oprimidas ao seu limite, sua tarefa histórica enquanto classe.

Lênin nos demonstra, com o exemplo vivo de sua biografia, que para os comunistas o único que há de fixo é o caráter permanente da revolução, e que o único princípio é a independência política do proletariado internacional, o grande sujeito da maior transformação que a história já viu.

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