Quinta 2 de Maio de 2024

Juventude

CONTRA O AUMENTO DO TRANSPORTE PÚBLICO

Estatização do Busão! Passe Livre Já para toda a população!

05 Feb 2011   |   comentários

Mais um grande ato com cerca de 3500 pessoas se realizou no centro de São Paulo na última quinta-feira, 27/01, contra o aumento da passagem do ônibus. O mesmo cenário começa a se repetir em várias capitais brasileiras como em Brasília, Aracajú, e em Salvador, onde o movimento já começa a ser intitulado de “revolta do buzú 2011” em alusão a mobilização que levou dezenas de milhares de estudantes secundaristas e universitários às ruas da capital baiana em setembro de 2003. Apesar de serem ainda ações iniciais, o que chama a atenção é a disposição de luta que esse setor de vanguarda dos estudantes vem demonstrando mesmo durante o período de férias, enfrentando forte cerco da mídia burguesa e em alguns casos, como em São Paulo, a forte repressão policial.

A ação dos estudantes é uma resposta à política generalizada nas principais regiões metropolitanas brasileiras de aumentos consecutivos no preço do transporte urbano (ver quadro ao lado). Aumentos que são uma expressão clara de um dos grandes problemas estruturais que atingem o país e que mostra que, para além da demagogia de “Brasil potência” de Lula, Dilma e companhia, os trabalhadores, os jovens e a grande maioria da população (que hoje se concentra nos centros urbanos) ainda não tem garantido um dos direitos mais básicos e imprescindíveis como é o de livre mobilidade. Na atual situação caótica e desordenada de funcionamento das grandes cidades, fruto da expansão desenfreada da exploração capitalista, o transporte coletivo é fundamental para que as pessoas possam se locomover até o trabalho, aos hospitais e postos de saúde, as escolas e universidades, aos centros de cultura e lazer e para ter acesso a outros locais e serviços necessários para a mínima reprodução da vida.

Nada mais distante do discurso de “país do futuro” do que uma realidade em que todos os dias milhões de pessoas são impedidas de se locomover por simplesmente não terem dinheiro para pagar a passagem (apenas nas principais cidades brasileiras são cerca de 37 milhões, como demostram dados de uma pesquisa do próprio IPEA) ou são obrigadas a estender sua jornada de trabalho a até 12, 14 horas diárias por conta da falta de veículos, da superlotação, das poucas opções de linhas e trajetos disponíveis e de outros tantos problemas que fazem com que o caminho de casa para o trabalho seja um completo tormento. Problemas que não se tratam de meras questões administrativas ou de ineficiência na gestão como querem que acreditemos os intelectuais e analistas burgueses. Mas sim que tem sua raiz na lógica perversa que marca a atual fase do desenvolvimento do capitalismo e que se espelha por todo o país, na qual direitos sociais básicos passam para o controle de grandes monopólios privados e viram fonte de lucro.

Qual a estratégia capaz de dobrar os governos e a máfia do transporte?

Em primeiro lugar, o grande desafio que está em pauta na luta contra o aumento neste momento é como ampliar as mobilizações que até agora são protagonizadas essencialmente por estudantes universitários e secundaristas para toda a população, mas principalmente aos trabalhadores e o setor mais precarizado da juventude que mora nas periferias e que são os que mais sofrem com os altos preços e má qualidade do transporte coletivo. Para que isso aconteça, devemos partir da demanda inicial contra o aumento, mas não pararmos nela. É preciso ligar essa reivindicação a denúncia da precarização da vida como um todo: as péssimas condições do sistema de saúde; o caos do atual sistema de educação e o não acesso da maioria da população ao ensino superior público; a falta de políticas de obras públicas que garantam moradia adequada e que apresentem uma solução para as tragédias causadas pelas constantes enchentes e desmoronamentos, ao mesmo tempo em que garantam empregos efetivos à população; a alta sistemática do preço dos alimentos e dos bens de consumo em geral; os irrisórios reajustes salariais dados aos trabalhadores enquanto os parlamentares aumentam seus próprios salários em mais de 60%; a permanente repressão policial ao povo negro e aos moradores dos morros e favelas. Somente a aliança entre estudantes, trabalhadores e as parcelas mais precarizadas da população em luta por melhores condições de vida pode fazer frente à ganância por lucros dos grandes monopólios do transporte e capaz de barrar o aumento da passagem.

É com essa perspectiva que nós da juventude da LER-QI, junto com as companheiras e companheiros do Bloco ANEL às Ruas, atuamos no conflito contra o aumento que se abriu em São Paulo. Desde o Comitê de Luta Contra o Aumento, para que a mobilização se estenda às periferias das cidades e possa se formar uma direção democrática que assuma os rumos da luta contra o aumento é preciso criar instrumentos de auto-organização que se liguem organicamente a população. Desde já levantemos uma campanha pela formação de comitês de base em cada escola, universidade, bairro e local de trabalho e que estes comitês elejam representantes mandatados para as reuniões do Comitê unificado (proposta que ao ser apresentada na última reunião do Comitê Contra o Aumento pelo Bloco Anel às Ruas foi rechaçada pelo consenso do MPL, PSTU e UNE).

A partir dos exemplos colocados pela Crise mundial, é central que consideremos esta jornada de luta como uma preparação para ataques mais profundos aos direitos do povo pobre e da classe trabalhadora e, por conseguinte, a processos mais agudos de Luta de classes, os quais já são indicados inclusive por Dilma e seus analistas. Desde já devemos dar exemplos, em todos os âmbitos de organização e luta, de uma tradição pautada na auto-organização dos setores explorados que, como a juventude combativa do Egito, confiando em suas próprias forças e apoiando-se em sua organização independente dos exploradores e seus agentes, possa ser uma fagulha que se expanda e incendeie a subjetividade das massas, demonstrando a legitimidade e possibilidade de vitória a partir da mobilização e atuação política em contraposição direta aos interesses dos grandes exploradores capitalistas.

Infelizmente a direção burocrática formada pelo MPL a apoiada até agora por PSTU, PSOL e PCdoB se coloca como um limite concreto a formação dos comitês de base e a aliança com amplos setores da população. Utilizam-se do método antidemocrático do consenso para impor burocraticamente suas posições e transformar o comitê contra o aumento num mero instrumento operacional e organizativo dos atos, muito distante de uma ferramenta dinâmica para ampliar e levar a mobilização à vitória. Para piorar, desde a última semana quando PT e PCdoB passaram a compor os atos, essa mesma direção burocrática passou a dar peso para uma audiência pública com vereadores e alimentar a ilusão de que podemos barrar esse aumento pela via parlamentar.

Em primeiro lugar, devemos deixar bem claro que o único interesse que partidos diretamente atrelados à burguesia como PT e PCdoB tem ao girarem seus aparatos e colocarem seus vereadores a se pronunciar contra o aumento é aprofundar a crise pela qual passa o governo de Gilberto Kassab e conseguir melhores condições para seus acordos de cúpula. Se de fato estão preocupados em barrar o aumento onde está o apoio e a adesão dos milhares de sindicatos associados a CUT, a CTB e a Força Sindical? Depois, não será através dos mesmos parlamentares responsáveis pela situação de miséria e descaso pela qual passa a população que conseguiremos um transporte púbico acessível e de qualidade. Neste sentido, a audiência pública deve ser utilizada apenas como uma tática para dar mais visibilidade política as mobilizações através de denúncias as péssimas condições do transporte e de exigências como a abertura dos livros caixa de todas as empresas de ônibus para que possamos saber o verdadeiro tamanho dos altos lucros que são obtidos as custas da população.

Levantamos a necessidade também de realizarmos um amplo chamado aos sindicatos, principalmente aqueles ligados ao transporte, como é o caso dos Sindicatos dos Metroviários (dirigido pelos companheiros da Conlutas), que apesar de compor as manifestações ainda podem fazer muito mais a começar não fazendo atividades paralelas nos mesmos dias e horários das manifestações. Além disso, é fundamental fazermos um chamado e colocar toda solidariedade ativa aos trabalhadores, como os da empresa de ônibus Himalaia (Zona Leste de São Paulo) que estão em greve neste momento pela garantia de direitos trabalhistas mínimos, que estão ameaçados de perder ao serem transferidos para outra empresa; às centrais sindicais; grêmios; entidades estudantis e associações de moradores de bairro para que se somem aos atos e ao próprio comitê. Além disso, propomos a realização de panfletagens em terminais urbanos, nos bairros periféricos e, ao voltarem as aulas na próxima semana, nas escolas públicas para que nos liguemos à juventude trabalhadora e desempregada.

Por fim, para que aumentemos a pressão nos governos e ampliemos as mobilizações para outras cidades é urgente que organizemos junto às entidades de coordenação nacional do movimento estudantil como a UNE e a ANEL e as centrais sindicais um dia nacional contra o aumento das passagens!

Passe Livre Imediato para estudantes e Desempregados!

Estatização imediata dos transportes coletivos sob gestão de usuários e trabalhadores! Passe Livre para todos!

Solidariedade ativa aos trabalhadores em greve da empresa Himalaia! Unificar as lutas para barrar o aumento e garantir o emprego!

Por um comitê amplo e democrático para se ligar aos setores mobilizados, e buscar o conjunto dos trabalhadores e da população para barrar o aumento!

Pela formação de comitês de base contra o aumento em cada escola, universidade, bairro e local de trabalho!

Por um dia nacional de luta contra o aumento das tarifas!

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