Sexta 29 de Março de 2024

Juventude

Na “Pátria educadora”, sete milhões de jovens nem trabalham, nem estudam.

11 Mar 2015   |   comentários

Numa faixa populacional que corresponde a cerca de um quarto de toda população brasileira, em números absolutos a chamada “geração nem-nem” atinge o absurdo número de 7,3 milhões de jovens , presentes em mais da metade dos lares brasileiros.

Em meio aos cortes de verba na Educação e a contínua propaganda do Governo Dilma e aliados sobre a “Pátria Educadora”, pouco se discute sobre a realidade de uma enorme massa de jovens brasileiros.

Em pesquisa divulgada no final de 2014, o IBGE apresentou uma gravíssima realidade para um país cujo “lema” central é o de uma “Pátria Educadora”: Entre os jovens de 15 a 29 anos, um a cada cinco nem trabalha, nem estuda e, inclusive, já nem procura emprego.

Numa faixa populacional que corresponde a cerca de um quarto de toda população brasileira, em números absolutos a chamada “geração nem-nem” atinge o absurdo número de 7,3 milhões de jovens , presentes em mais da metade dos lares brasileiros.

Não coincidentemente, a maior parte dos “nem-nem” é composta por jovens negros (62,9% ), de baixa renda e mulheres (68,8%)-muitas delas mães- , os quais estão, em sua maior parte, na Região Nordeste e sudeste do Brasil. Nestas, encontramos absurdos índices de 35% e 37% dos jovens que são, respectivamente, “nem-nem”.

No que diz respeito a renda, esta geração “nem-nem” tem 44% distribuídos em famílias cuja renda por pessoa chega a meio salário mínimo (R$362) e 12% de um a dois salários mínimos (até R$724), com apenas 5,1% correspondendo a faixa superior a dois salários mínimos .

Estudos demonstram que este fenômeno salta a partir dos 18 anos, quando milhões de jovens seguem para a condição de “nem-nem” até os 24 anos, justamente na idade universitária, formando a faixa de maior concentração de jovens fora dos estudos e empregos.

Pátria educadora, mas tem de merecer!

Para explicar tamanha contradição em seu discurso, representantes de organismos de pesquisa e institutos se apressam a “dividir responsabilidades”, buscando demonstrar como, ao contrário do que se possa dizer, não é apenas o governo, mas as famílias e os próprios jovens os responsáveis por tal situação.

Assim, membros institutos de pesquisa como INSPER, faculdades FGV e, mais timidamente, representantes do próprio IBGE, apontam como as razões circulam entre problemas na estrutura educacional do país (é claro), mas se explicam, na realidade, pela falta de interesse do Jovem e “falta de educação e estímulo” propiciados pelas famílias.

Baixa capacidade de concentração, achar a escola “enfadonha”, desinteresse (!!) devido a maternidade, imediatismo e falta de vontade, são algumas das incríveis explicações dadas por supostos especialistas para explicar o enorme número de jovens que estão, na prática, de fora da PEA (População Economicamente Ativa) brasileira.

Tal discurso de meritocracia e “merecimento”, no entanto, esconde as raízes profundas de um país baseado na educação básica precarizada, o ensino superior privatizado e elitizado e o trabalho de baixa remuneração, alta rotatividade e super-exploração.

Salas Lotadas; Faculdades fechadas; rotatividade e precarização do trabalho

Ao contrário da explicação simplista dos órgãos privados e do governo, que tentam culpar a juventude por sua condição de miséria, não é uma coincidência que, dentre os jovens “nem-nem” a maior parte seja de negros, mulheres e mães.

Igualmente, não é coincidência que este fenômeno atinja, em cheio, a juventude, justamente na chamada “idade universitária” dos 18 aos 24 anos e que esteja localizado entre os jovens de baixa renda.

No Brasil, a educação básica, em todos os estados, segue em crise, com salas superlotadas chegando a 70 alunos, baixos salários e precarização dos professores, sem condições estruturais e orçamentárias, sem, falar nas demissões de milhares de educadores temporários.

Da mesma forma, no âmbito do Ensino Superior, a educação se divide em três:
Universidades públicas de elite, isoladas pelo vestibular que impede a juventude pobre e negra de estudar gratuitamente; Universidades federais, que recentemente sofreram cortes de mais de 30% nas verbas , com algumas, inclusive, ameaçando fechar as portas ; e Universidades privadas, enormes monstros educacionais que vivem do dinheiro público transferido via FIES e PROUNI , além das dívidas de milhões de jovens.

Tal realidade, ao contrário do discurso “psicológico” de especialistas parece explicar muito mais claramente as razões de porque tantos jovens não conseguem estudar, sobretudo após os 18 anos e, mesmo antes, quando presentes em salas superlotadas e sem qualquer possibilidade de aprendizado.

Membros de famílias de baixíssima renda, dependendo do auxílio de “arrimos de família” que muitas vezes trabalham em empregos precários como domésticas e diaristas, a maior parcela dos jovens “nem-nem” tem pouquíssimas chances de adentrar uma universidade pública, se manter (caso tenha alguma sorte em entrar) nela ou se endividar em pagamentos de mensalidades ou mesmo do FIES, em Universidades Particulares.

Ainda assim, no entanto, não se explicaria a questão do emprego que, para nossos habilidosos especialistas no governo federal e estaduais, não falta e é acessível a qualquer jovem, só bastando querer.

Mais uma vez contrariados pela realidade, se omitem de dizer que, no Brasil, apesar de ocorrer a ampliação dos postos de trabalho formais, temos alcançado índices recordes da chamada rotatividade do trabalho.

Todos os anos se contratam milhões de trabalhadores e, todos os anos, se demitem outros milhões nos mesmos postos, para se recontratar logo em seguida, como forma de pressionar os trabalhadores a aceitarem baixos salários, retirada de direitos e níveis altíssimos de exploração, como se vê nos trabalhos terceirizados de limpeza, vigilância, construção civil, nas indústrias, etc.

Assim, no Brasil, chegamos a um índice de 54,9% de rotatividade em 2013, com 66% das demissões ocorrendo em contratos de menos de um ano de vínculo .

Desse modo vemos como, igualmente, num país de trabalho precário e no qual as empresas impõem uma prática de rotatividade que lança milhões de jovens no desemprego, a questão do emprego não é uma questão de vontade, mas um drama de jovens que saltam de emprego e emprego, sem conseguir, nem salários dignos, nem estabilidade, uma vez que são meras peças no jogo dos patrões “especuladores do trabalho”.

O mesmo vale para as mães e creches que, só em São Paulo possuem uma demanda de 187 mil crianças na fila de espera, demonstrando que sua realidade, impedidas de exercer seu direito a maternidade, é a de não encontrar creches ou escolas que lhes possibilitem estudar e trabalhar e, assim, são diretamente forçadas a se tornarem “nem-nem”.

Longe de se explicar pela “falta de vontade”, os sete milhões de jovens, para os quais a “Pátria Educadora” é só mais uma promessa distante, vivem um drama provocado pela ganância de alguns patrões e pela destruída estrutura educacional, atacada por todos os governos, tanto de PT quanto de PSDB, hoje governando os pólos de maior concentração dos “nem-nem” no Sudeste e Nordeste.

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