Domingo 28 de Abril de 2024

Movimento Operário

GREVE DOS PROFESSORES

Direção da APEOESP trocou as reivindicações por votos para Dilma

23 Apr 2010   |   comentários

Mais uma grande greve em que os
professores de São Paulo mostraram sua
disposição de luta, mobilizando e
paralisando metade da maior categoria da
América Latina. Atos de mais de 30 mil
professores na Paulista parando a cidade. E
mais uma vez a direção do sindicato levou
essa luta à derrota. O facilismo com que
chamou a greve, dizendo que por ser ano
eleitoral Serra daria concessões, se mostrou
uma falácia, que só serviu para fazer uma
greve às pressas, mal-preparada, com data
para acabar, e a serviço da campanha
eleitoral, atacando Serra em favor de Dilma.
O governo Serra tratou a greve com dureza
para dar um exemplo nacional, mostrando
que é capaz de derrotar as mobilizações dos
trabalhadores e ser ainda mais “eficaz” para
a burguesia.

A “concessão” que deu - um aumento
de 25% para 20% da categoria - é uma
política de maior divisão, para tentar ganhar
um setor e isolar os grevistas.Além disso, os
professores terão os dias descontados e o
salário reposto somente com a reposição
de aulas.A volta às escolas foi marcada por
um discurso de terrorismo dos diretores,
principalmente aos temporários, eventuais e
categoria “O”, de que serão demitidos. E
essa represália se dá ao bel prazer das
direções, já que não se sabe ao certo o que
está ocorrendo em cada escola, pois a greve
terminou mais desorganizada do que
começou.

Uma derrota anunciada pela
política da direção da APEOESP

A direção do sindicato, ligada por mil e um
laços ao PT e ao governo Lula, teve antes da
greve começar uma estratégia para
desgastar Serra em favor de Dilma.Teve uma
política eleitoreira e oportunista, se
utilizando da mobilização dos professores
para eleger sua candidata à presidência da
república, numa situação de precariedade do
trabalho e salário dos professores que é
insustentável. Nesse sentido a direção da
APEOESP saiu vitoriosa.

Mas a política de Lula e Dilma para a
educação não são diferentes da política
de Serra, muitas coisas que Serra
implementa no Estado são políticas
diretamente orientadas pelo governo
federal, tanto na educação básica, como no
ensino superior. Exemplo disso são
as políticas federais de fortalecer o ensino
privado comprando vagas ociosas nas
universidades, expandir o ensino sem
qualidade e sem verbas suficientes
e fortalecer o ensino à distância, sucateando
a formação de profissionais.Até o piso
nacional dos professores que Lula brada
como uma concessão enorme está longe da
reivindicação das greves dos professores de
SP que é a justa exigência de piso salarial do
DIEESE (cerca de R$ 2.000). Por isso os
professores devem ter uma política de
derrotar Serra, mas não pelos resultados
das urnas e sim por suas reivindicações.
A direção do sindicato foi a principal
responsável pela derrota, ao se negar
a travar uma batalha séria pelas
reivindicações mais sentidas da categoria.

O triste papel das oposições
de esquerda

Queremos colocar muito claramente o
papel das oposições, que tiveram cerca
de 30% dos votos nas últimas eleições
do sindicato e possuem um peso expressivo
na categoria. Em uma greve onde se
expressaram novos setores de jovens
professores, com uma disposição forte de
luta, com uma vanguarda que lutou em
todas as assembléias contra
a posição da direção majoritária de fazer
atos sem marcha. Com professores que se
enfrentavam em suas subsedes para
mobilizar mais escolas, havia combatividade
para preparar, no decorrer da luta, uma
alternativa à direção da APEOESP. Porém a
oposição não se moveu em torno dessa
disposição e o grito que ecoou foi o mesmo
“fora Serra”, uma tímida denúncia ao
governo Lula e a luta centrada na pauta que
tinha como eixo principal a questão salarial,
mas deixava de lado a verdadeira bandeira
que poderia unificar os professores contra
a precarização: a efetivação dos professores
contratados. Não colocou como eixo o fim
da precarização e a efetivação dos
contratados, nem chamou a desenvolver
a auto-organização democrática desde as
bases, medidas indispensáveis para superar
a burocracia, nem lutou para que fosse
incorporado na pauta as reivindicações
de melhores condições de ensino que ecoa
na categoria, e que vão contra o projeto de
sucateamento do ensino público.

A principal agrupação, a Oposição
Alternativa (PSTU), se negou a ter uma
política para desenvolver uma organização
democrática ampla nas bases dos
professores que saíram à luta. Se negaram
a organizar os setores combativos
descontentes com a direção do sindicato
para ter uma política realmente
“alternativa”. Se adaptou desde o início, no
chamado despreparado e facilista
à greve; defendeu todas as políticas junto
com a direção do sindicato em nome da
suposta “unidade” (unidade pra quê?
para arrecadar votos pra Dilma?), não
denunciou duramente o governo Lula;
defendeu o fim da greve ao lado da
burocracia e sem fazer o balanço profundo
das lições. Falou do carro de som como
parte da diretoria, sem enfrentar a
burocracia para abrir o microfone para os
professores em luta, para ajudar
a transformar esses atos em verdadeiras
assembléias para que os professores
pudessem tomar o destino da greve em suas mãos. Essa greve forjou um setor de vanguarda
que está disposto a tirar as lições e se organizar
contra a burocracia. Porém esse setor fica entre a
impotência dessas oposições “institucionais” que se
preparam como alternativas eleitorais e os grupos
minoritários, que levantam políticas vanguardistas e
irresponsáveis (infantis, segundo Lênin) que levam a
um maior isolamento das bases, acreditando que só
com demonstrações combativas por fora de um
programa, uma organização e uma estratégia se pode
triunfar. Foi o caso da última assembléia, quando para
se diferenciar da burocracia grupos como o PCO e
outros menores, chamaram a continuidade da greve,
sendo que objetivamente já tinha acabado. Nem o
PSOL, nem o PSTU, que são partidos nacionais e que
dirigem a Intersindical e a Conlutas tiveram alguma
política de unificação das categorias. Desconheceram
os constantes chamados desde o Sintusp (do qual
fazemos parte) para a unificação das categorias do
funcionalismo público estadual. Frente a isso, temos
que nos perguntar: a serviço do que está a unificação
da Conlutas e da Intersindical? (pág.12/13)

Tirar as lições da greve e se organizar
para podermos triunfar

A LER-QI, professores e trabalhadores de distintas
categorias impulsionamos o Movimento Classe
contra Classe (MCC) e atuamos com uma política
distinta.Tivemos clareza da justeza da reivindicação
salarial, ainda mais se tratando de uma categoria que
reconhecidamente ganha um salário vergonhoso. Mas
colocamos desde o início a luta por salário ligada
à unidade da categoria, contra a divisão entre
efetivos e precários e pela efetivação de todos
os temporários e precarizados. Além de salário,
os professores querem melhores condições de
trabalho e direitos iguais entre todos. Para nós,
a unidade das fileiras entre efetivos e contratados
é a questão estratégica fundamental, para que os
trabalhadores possam triunfar. Era determinante que
os professores construíssem a greve desde
assembléias de base e representando suas posições
em comandos estaduais de greve compostos por
esses delegados.As assembléias-ato eram palanques
eleitorais onde os professores não podiam falar ou
tinham suas inscrições cortadas e não assembléias
de fato resolutivas que decidissem os rumos da luta.

Essa é uma batalha que queremos seguir dando
daqui pra frente na categoria. Buscamos com nossas
forças iniciais levar um apoio ativo do movimento
estudantil universitário (ver pág. 10/11), muitos deles
futuros professores, buscando ao mesmo tempo ter
uma política para unificar com a população
principalmente através do diálogo com os pais e
alunos.Temos que exigir do sindicato uma ampla
campanha pelo direito de greve, lutando até o fim
pelo recebimento integral do salário sem descontos,
sem estar vinculado às datas de reposição.Temos
que dar uma basta e travar uma luta unificada contra
as demissões dos tempoários e pelo direito de livre
manifestação dos trabalhadores. O sindicato deve
organizar também um fundo de greve para dar uma
garantia aos professores perseguidos e que terão os
seus salários descontados, começando por destinar
uma importante parcela dos recursos da
arrecadação mensal do sindicato e solicitar um
grande aporte da CUT que acaba de receber do
estado pelo imposto sindical R$ 26 milhões.
Chamamos os professores, especialmente os que
estiveram na linha de frente dessa greve, como os
jovens e precarizados que corriam risco de perder
o emprego e mesmo assim se jogaram nessa luta,
que se juntem a nós para voltar às escolas
e reorganizarmos em torno dessas conclusões
e tarefas. A principal lição dessa greve é a
necessidade dos professores combativos se
organizarem de forma independente, com uma
política própria para impedir que a próxima greve
seja derrotada pela direção do sindicato mais uma
vez. Essa diretoria burocrática deve ser derrubada
e o sindicato retomado. É nesse sentido que
chamamos os professores que concordam com essa
perspectiva a construir o MCC conosco. Chamamos
todos para participar junto com a LER-QI, o grupo
de mulheres Pão e Rosas, o Movimento juvenil A
Plenos Pulmões e o Movimento Classe contra
Classe do ato classista do 1º de maio
e a discutir a tese do MCC para o congresso de
Conlutas e do CONCLAT.

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