Domingo 12 de Maio de 2024

Movimento Operário

São Paulo: Professores entram em greve!

10 Mar 2010   |   comentários

Bem no dia Internacional da Mulher, os professores estaduais de São Paulo decretam Greve! Sobre as propagandas caras que Serra veicula, os professores que olham para os lados sabem: são mentiras pagas. Sim o salário do professor pode aumentar até 6.000 reais se fizer uma prova, mas só 20% dos professores que a prestaram ganha o aumento – isso se houver orçamento, senão o numero será menor. Aumentar o salário de 53 mil professores enquanto há 5 anos o salário dos 230 mil professores está estagnado, não representa um investimento e sim redução de verbas à educação, economizando no salário dos professores.

De acordo com um Ranking de salários de Professores Estaduais feito em 2007, o salário em São Paulo é o 10º lugar [1] pagando 1.300 reais por 30h , ficando atrás de estados como Roraima que paga 1.650 reais para carga de 25 h. Ora, o que agrava este problema é que São Paulo junto do Rio de Janeiro são as cidades mais cara da América latina[2]! O custo de vida aqui é superior a de qualquer capital dos nossos países vizinhos, quem dirá dos outros estados brasileiros. Para piorar, temos um auxílio alimentação de míseros 4 reais e cômicamente não temos direito ao transporte mais utilizado para ir para locais distantes do centro onde justamente há escolas: o ônibus. Somente temos direito ao metrô, trem e EMTU.

Mas há quem diga que aumentou os gastos em Educação. O governo Serra vem com um projeto de diminuição da qualidade de ensino para garantia de não repetência através de uma seleção de conteúdos e materiais de conteúdo raso, que engessam a criatividade e a liberdade de cátedra do professor. O governo vem adiando a obrigatoriedade de seguir este material e esta doutrina, mas as novas levas de professores concursados já virão com este material na ponta da língua, para reproduzi-lo em sala de aula. Este material não vem melhorar o ensino público mas sim assumir sua podridão e mantê-la. Não visa professores formados, com autonomia didática e de cátedra mas sim funcionários padrão que saibam “repetir”o conteúdo raso que o governo quer impregnar em nossa juventude. O concurso para promoção tem o mesmo fim: que os professores absorvam este conteúdo e esta metodologia pobre cada vez mais e sem perceber. Contra isso é preciso organizar os professores em comissões regionais independentes com uma coordenação estadual para elaboração de um material que esteja realmente condizente com as necessidades dos jovens e que não se rebaixe a suas debilidades ou às metas de aprovação perseguidas pelo governo.

Por outro lado a medida que Serra teve para “lidar” com as debilidades dos estudantes é uma grande farsa. A recuperação contínua na situação em que está a escola estadual hoje, não acontece de fato e se torna somente uma medida para diminuir os índices de repetência ao passar vários alunos sem aproveitamento, a chamada “aprovação automática”. Isto é uma falsidade pedagógica que só pode ser solucionada dando condições necessárias ao bom desenvolvimento do aluno. Qual professor não gostaria que todos seus alunos se desenvolvessem sem precisar fazê-los perder um ano ou mais de suas vidas? Que se criem condições para que a recuperação contínua seja uma realidade e não um sonho.

Lutemos por:

• Não a precarização do professor! Contratação como efetivos de todos os professores temporários! Para os efetivos, incorporação das gratificações extendendo aos aposentados e aumento do salário em 34,3%. Fim do plano de carreira atrelado ao conteúdo raso do currículo proposto pelo governo.

• 25 alunos por sala.

• Contratação imediata como efetivos, todos os inspetores, agentes de limpeza e agentes escolares.

• Estabilidade, Liberdade de cátedra e cursos de formação REMUNERADOS no horário de trabalho a todos os professores.

• Infra-estrutura: laboratórios de Informática e Ciências, Bibliotecas atualizadas com quantidade de funcionários que garanta seu funcionamento em todos os períodos, frota de ônibus liberada para excursões propostas pela escola, serviço psicológico permanente aos estudantes e professores, condições para implementação de projetos propostos e votados pela comunidade escolar.

• Não ao fechamento dos período noturno. Para um real aproveitamento, reivindicação de redução imediata a 4 horas, a carga diária de trabalho de toda a juventude trabalhadora, sem redução de salário.

• Organização dos professores em comissões regionais independentes com uma coordenação estadual para elaboração conjunta a pais, alunos e pesquisadores de um currículo não engessante e condizente às necessidades da escola e dos alunos.

• Gestão da escola pelos professores, funcionários, comunidade e estudantes.

• Direito a vale-transporte a metrô, trem, EMTU e ônibus.

É necessário tomarmos a APEOESP em nossas mãos!

Para vencermos e conquistarmos todas estas reivindicações precisamos travar uma luta feroz contra a direção do sindicato que está até a espinha atrelado ao governo Lula. Todos estes anos foi o responsável pela desconfiança e desmobilização da categoria, seja por fechar acordos rebaixados e tentar nos iludir que são vitórias, como por historicamente isolar a vanguarda mais de esquerda, desmobilizando-a ou deixando situações propícias ao conflitos diretos com a polícia desnecessários. Isto historicamente acontece e hoje a realidade é que uma grande parte dos professores são descrentes ou aversos a uma militância conjunta a Apeoesp.

Este é o maior sindicato da América Latina, e conseqüentemente um dos mais ricos, e é a nossa ferramenta de luta. Já vimos que a educação seja com um governo dito de “esquerda” seja de direita não fez a mudança que ansiosos esperamos e nos frustamos. Nenhum governo irá alterar as diretivas para a educação pois estas já estão determinadas pelo Banco Mundial, que serve diretamente as grandes empresas e os países imperialistas. Somente com nossa luta que conseguiremos a mudança que queremos. Logo, a escola pública depende de tomarmos a APEOESP em nossas mãos.

Começamos nossa greve depois de um ano de profundos ataques a nossa categoria: instituiu-se as provinhas; nos fizeram repor as aulas da Gripe A sem recebermos nada.... Agora, neste ano eleitoral, a falsa campanha de Serra sobre a educação pública se intensificou. Nós professores sabemos a verdadeira realidade de nossas escolas e precisamos aproveitar este ano eleitoral para fazer uma forte greve, botar Serra e seu governo na parede e denunciar para todo país a real situação da educação neste estado. A direção da APEOESP, dirigida pelo PT, que no governo federal não vem fazendo muito diferente na educação, tentará usar nossa greve para beneficiar-se nas eleições. Nós não podemos cair nesta manobra e a única forma disso não acontecer é tomando a direção da greve em nossas mãos!

Muitos se encontram desanimados por tantas greves que fizeram e as poucas conquistas que tiveram. Ora, isto acontece por causa das traições desta direção sindical, que chama greve da categoria e depois manobra negociando sobre nossas costas. Há um problema ainda mais de fundo: a elaboração da pauta de greve, o estabelecimento da hierarquia das reivindicações passa longe da grande maioria dos professores. O sindicato é uma ferramenta de uma categoria não uma prestadora de serviços. O sindicato não tem o papel de tomar as decisões em nosso lugar e da mesma forma, não trabalha bem sem a nossa presença e atuação ativa. Sem esta atuação ativa, as chapas que lá estão se acomodam e começam a trabalhar para seus interesses.

Para que o sindicato represente realmente as nossas reivindicações, é necessário uma inversão do papel do “representante de escola”, de um mero informante das reuniões, discussões, questões legais vindas do sindicato para um representante ativo da escola, que leve as reivindicações e discussões brigando de frente com a direção do sindicato para que elas sejam avaliadas, discutidas e incorporadas por toda a categoria.

Para isso, a partir de já devemos eleger em assembléias em cada escola delegados ativos que representem as posições tiradas pelos professores da escola. Neste sentido também confirmar ou revogar a representatividade do atual “representante de escola da Apeoesp”. Logo, qualquer delegados mandatados deve ser revogado a qualquer passo que não for em direção ao que o coletivo escolar decidir.

Por isso é fundamental que a greve tenha seu epicentro nas escolas, organizando a comunidade (pais e vizinhos) em sua solidariedade. Façamos atividades nas dependências da escolas; chamemos os pais, os alunos, os grêmios, os vizinhos para discutir nossa greve e refletir sobre a situação da educação e se posicionar frente as mentiras que o Governo está espalhando!

Da mesma forma temos três outras grandes categorias de força no Estado que tem a mesma data-base e o mesmo patrão: o Serra. Sabesp, Metrô e os trabalhadores das Universidades Estaduais Paulistas. Podemos e devemos juntar forças a estas categorias fazendo um coro conjunto contra os ataques que o Serra, e outros governos que virão, fazem ás nossas categorias. Unificação imediata dos movimentos das quatro categorias: Professores Estaduais e os trabalhadores da Sabesp, do Metrô e das Universidade Estaduais Paulistas!

[1] da Folha Online, 19/10/2007. http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u337961.shtml

[2] de Mercer (consultoria em recursos humanos), 18/06/2007. http://www.mercer.com.br

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