Domingo 28 de Abril de 2024

Nacional

50 anos do golpe militar

Conclusões passadas para problemas contemporâneos

21 Mar 2014   |   comentários

Há cinquenta anos atrás se conjurava um dos momentos mais trágicos da história de nosso país: os militares provocavam um golpe e instituíram uma ditadura e um estado de violência, torturas e todo tipo de repressão que ainda vivem na memória de ativistas, militantes e do conjunto dos trabalhadores e lutares do período.

Há cinquenta anos atrás se conjurava um dos momentos mais trágicos da história de nosso país: os militares provocavam um golpe e instituíram uma ditadura e um estado de violência, torturas e todo tipo de repressão que ainda vivem na memória de ativistas, militantes e do conjunto dos trabalhadores e lutares do período. Relembrar as lições que esse golpe - a serviço da exploração dos dominantes - podem deixar para os trabalhadores é fundamental, especialmente na etapa que vivemos no Brasil e num momento em que esse golpe completa 50 anos.

A construção da história, escrita pelos que estão ligados às classes exploradoras, conta uma versão sempre interessada e que dificulta as nossas conclusões: essa conclusão repetida sob diversas formas era de que o golpe vinha contra o governo de João Goulart e algumas reformas que esse governo estaria fazendo, deixando um véu de fumaça no verdadeiro alvo que o golpe militar queria acertar: os trabalhadores camponeses e bases das forças armadas em mobilização.

Para sermos mais precisos, o contexto da década de 1960 implicou em um conjunto de determinações que levava a uma situação convulsiva e causou o terror da burguesia, latifundiários e elites dominantes, entre as quais estavam: a) uma crise econômica no período, com crise inflacionária e deterioração das condições de vida da população; b) mobilizações da classe trabalhadora (com politização) em distintas regiões, que inviabilizavam saídas à direita no regime vigente, como ataque aos salários, direitos etc., e, por outro lado, mobilizações especialmente das Ligas Camponesas, adotando métodos radicalizados de luta no campo, com ocupação de terras etc. e enfrentamentos com latifundiários; c) divisão nas forças armadas, com conflitos entre setores mais da base com alto escalão, ligada a divisão das frações burguesas também com os militares.

Em síntese, para usar a definição clássica de Lenin, o que se colocava era uma impossibilidade dos “de cima governarem como antes”, que ligada às mobilizações dos trabalhadores e camponeses colocavam uma das situações mais explosivas da história brasileira.

Frente a situação explosiva de 1960, quais estratégias de colocaram?

A tragédia que se coloca nesse período é muito ilustrativa para o movimento operário. Sem extrair conclusões desse processo, é impossível a construção de uma organização realmente revolucionária em nosso país. Isso porque a linha da organização mais expressiva do movimento operário no período, o PCB, tendo herdado todos os preconceitos e deturpações do stalinismo, buscava, ao invés de incitar a independência de classe dos trabalhadores, fazer acordos com “setores progressistas” da burguesia. E justamente essa linha de conciliação de classe que defenderam em todo período anterior é que desarmou completamente a intervenção independente dos trabalhadores em aliança com os camponeses, abrindo campo para o triunfo do golpe militar.

A primeira lição a se tirar é, portanto, que as organizações do movimento operário só podem fazer frente às tendências reacionárias da burguesia se mantiverem sua total independência de classe, sem a qual é impossível organizar o movimento operário pela base e com uma estratégia soviética de combate contra as classes dominantes.

Mas a questão vai além: já nesse período, a organização trotskista existe no Brasil, chamada Partido Operário Revolucionário (POR) e dirigida de conjunto por Juan R. Posadas, acabou incorrendo em um erro estratégico que também impede uma verdadeira política independente: a orientação do POR durante o período precedente foi de tentar influenciar uma “ala esquerda” do PCB, dissolvendo-se nessa tentativa tática de construção, perdendo energias para a verdadeira tarefa estratégica de construir, começando pelos setores de vanguarda mais importantes do proletariado, um partido operário independente.

Esse erro depois se manifestou de modo assombroso na construção do PT: distintas organizações trotskistas, em nome de tentar disputar alas do movimento operário, entraram no PT e mantiveram-se adaptadas à linha da burocracia que dominava o partido, abrindo mão de forjar uma fração revolucionária que rompesse com o petismo a partir do desvio que a burocracia lulista impõe às greves que colocaram em cheque o regime militar. Só assim se poderia fincar as bases para um partido revolucionário no país, que tirasse como lição fundamental justamente que no ascenso mais expressivo do movimento operário brasileiro, no final dos anos ’70, o que faltou foi uma estratégia revolucionária que irrompesse contra a direção sindical dos “autênticos” do ABC, de Lula e Cia, que só conduziu o movimento a derrotas.

Lições do passado para os problemas contemporâneos

Nesse sentido, relembrar essas questões é fundamental num momento que, ao mesmo tempo em que se completam 50 anos do golpe militar, estamos chegando ao terceiro mandato do PT, onde já fica evidente sua falência como “esquerda“ no Brasil, em qualquer sentido. Hoje, trata-se bem mais de um partido dos patrões e banqueiros contra os trabalhadores.

Por isso, a estratégia desse partido não é de averiguar o passado para fazer frente às barbáries, torturas e violência dos militares, mas se conciliar com estes e manter a estabilidade da democracia burguesa... e também as heranças da ditadura na instituições do Estado, na violência policial feroz nas favelas e morros etc.

A esquerda, por sua vez, se demonstra muito frágil (falida), incapaz de fazer frente realmente ao petismo, já que não constrói um movimento operário realmente independente da burguesia, das instituições do regime e da burocracia sindical. Por isso, a melhor resposta que podemos dar aos anos de ditadura militar é retomar essas lições, relembrar a memória de nossos lutadores e se orientar estrategicamente para que as próximas batalhas que nos serão impostas façam a balança pender para o nosso lado, dos trabalhadores, o que só pode se concretizar na luta da construção de um verdadeiro partido revolucionário no Brasil.

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