Sábado 27 de Abril de 2024

Internacional

CUBA

Após a liberação dos dissidentes, o castrismo prepara um novo ajuste contra as massas

25 Jul 2010   |   comentários

Diversas notícias, anúncios e rumores em torno da política cubana confirmam o que sustentávamos em artigos anteriores com respeito a que a libertação dos presos políticos cubanos negociados com a Igreja Católica e o governo espanhol, indicavam uma concessão frente ao imperialismo europeu e um novo giro na política de Raul Castro em direção a restauração capitalista.

O presidente do parlamento cubano Ricardo Alarcón anunciou em 20/08, que seriam liberados todos os presos políticos que não tivessem sido condenados por crimes como assassinato ou atentados. Segundo se especula, após a libertação dos 52 detidos mediante acordo com a Igreja Católica cubana e o chanceler espanhol Moratinos, ficariam 115 detidos nas prisões castristas. Por sua vez, os sete primeiros liberados que chegaram à Espanha se colocaram ativamente a militar para que a União Européia (UE) mantenha suas sanções contra Cuba, criticando desta maneira a postura do governo espanhol que, como parte do acordo com o governo cubano, se comprometeu a pressionar na UE pelo levantamento das sanções contra a Ilha. Enquanto isso, as Damas de Branco se reuniram com funcionários norte-americanos em Havana que ofereceram aos libertados asilo em Miami. A burocracia espera que a decisão de liberar os detidos lhe permita negociar com a Casa Branca uma flexibilização das condições do bloqueio. A nova situação política após a libertação fortaleceu o papel da Igreja Católica como interlocutora entre o governo, a oposição direitista e o imperialismo.

Ajusta e restauração

O anuncio de Alarcón de liberação dos presos, é acompanhado pelo inicio de um processo de ajuste. Segundo fontes oficiais citadas pelo El País espanhol “haverá ampliação do trabalho por conta própria e, sobretudo a cooperativização de alguns serviços; continuarão se reduzindo os subsídios e gastos sociais, com o objetivo de tornar sustentável o sistema, algo que, se sabe, terá um impacto social; se avançará também na eliminação da dupla moeda e na renegociação da divida com o objetivo de aliviar as tensões financeiras”. O mesmo diário assinala que “Na reunião entre o presidente cubano, Moratinos e o cardeal Jaime Ortega, dia 7 de Julho, na qual se anunciou a libertação dos prisioneiros de consciência, Castro se mostrou extremamente claro nesse assunto. ‘Disse que necessitava solucionar o tema dos presos para poder fazer com tranqüilidade as transformações econômicas que se requerem, e mostrou sua disposição e preocupação de enfrentar o problema de 1.300.00 trabalhadores (perto de 30% da população ativa) que sobram em seus postos de trabalho”. (El País, 18/07).

A burocracia está mostrando assim sua vontade de avançar em um programa de ajuste para descarregar a crise sobre as costas das massas operárias e camponesas, cujas conseqüências sociais ainda são imprevisíveis. Porém, segundo todos os analistas, causam alarme e preocupação no conjunto da sociedade cubana. Já dissemos que, um ponto chave para o acordo entre o governo castrista e o chanceler Moratinos, é sobre o levantamento da Posição Comum Européia que sustenta as sanções da UE contra a ilha, já que o governo cubano tem a necessidade imperiosa de ter acesso ao crédito europeu para o financiamento do estado, pois se encontra pressionado por um déficit comercial de 10 bilhões de dólares e pelo fim dos pagamentos de empréstimos que lhe faziam a China e outros governos.

Burocracia e corrupção

Os anúncios de liberação de presos e de ajuste econômico é acompanhado pelo escândalo de corrupção nas altas instâncias do aparato de Estado. As autoridades cubanas chamaram a comparecer o empresário chileno e amigo pessoal de Fidel Castro, Max Marambio (ex militante do MIR, do falecido Salvador Allende e diretor da campanha presidencial de Marcos Enriquez Ominami) acusado de roubo e fraude contra o estado cubano através de sua empresa alimentícia Río Zasa. A noticia tomou contornos de escândalo pela estranha morte do gerente geral da empresa, o chileno Roberto Baudrand. A corrupção na cúpula estatal já havia vindo à tona recentemente, com os ministros Jorge Luis Sierra e Luis Manuel Ávilla.

Essa situação confirma a denuncia que reproduzimos em artigos anteriores feitas por Esteban Morales, investigador do Centro de Estudos Hemisféricos e sobre Estados Unidos de Havana, que foi expulso pelo PC cubano por defender que “a corrupção é a verdadeira contra-revolução” (blog de Esteban Morales, 11/07) e defender corretamente que a corrupção estatal é a via da restauração capitalista se posicionar entre os círculos dirigentes do estado e do PCC.

Burocracia e poder

A reaparição pública de Fidel Castro, ainda que não tenha feito declarações a respeito, expressa o apoio do líder histórico a seu irmão e a unidade existente na velha guarda da burocracia castrista, cada vez mais apoiada nas Forças Armadas Revolucionarias para exercer o poder com mão de ferro e manter sob seu controle a nova faze do processo político cubano. A ativa reaparição de Fidel busca por um limite na surda luta existente entre as distintas frações da burocracia governante e discipliná-las em um momento que, pressionado pela crise mundial e financeira, o desafio do regime é o de descarregar a crise sobre o movimento de massas para dar novos passos no caminho da reformas pró-capitalistas.

Nesse sentido, a libertação dos presos da oposição anticastrista, longe de significar uma ampliação das liberdades e dos direitos políticos das massas operarias e camponesas de Cuba, para que essas pudessem se auto-organizarem em defesa de suas conquistas (como defendemos os trotskistas), expressam um interesse do regime burocrático, pressionado pelo fantasma da bancarrota financeira, de reforçar uma política negociadora fazendo concessões ao imperialismo e às forças restauracionistas – incluindo setores do exílio que receberam com beneplácito a liberação dos detidos – que utilizam as bandeiras democráticos burguesas para liquidar o estado operário deformado e burocratizado surgido da revolução de 1959.

Revolução política

As massas operárias e camponesas de Cuba se encontram ante a encruzilhada de ter que defender as conquistas da revolução de 1959, enfrentando simultaneamente o criminoso bloqueio norte-americano e a política de ajuste que o governo dos Castro está preparando. A luta contra os privilégios, a corrupção, e os novos ricos, coloca a necessidade de conquistar as mais amplas liberdades políticas e de organização, para as massas operárias e camponesas e para todos os partidos, sindicatos independentes e organizações populares que defendam as conquistas da revolução. Há que exigir a revisão de todas as reformas econômicas pró-capitalistas tomadas até agora no caminho de impor uma planificação democrática da econômica. Este é um programa para rechaçar o ajuste que se prepara desde as altas esferas do regime e está na ordem do dia para derrotar as forças burocráticas e restauracionistas interessadas em quebrar o movimento de massas para acelerar o retorno ao capitalismo.

O surgimento de posições criticas dentro do aparato do PCC como as que expressa Esteban Morales e outros intelectuais, mostram que o monolitismo burocrático está em questão e que não há que descartar que setores expulsos do aparato apelem ás necessidade das massas para pressionar por reformas. O surgimento de uma oposição operaria, socialista e revolucionaria exige uma posição independente tanto da bandeiras democráticos burguesas do imperialismo como do programa de auto-reforma do PCC ou qualquer variantes de perestroika ou glasnot a la cubana. É preciso construir um partido operário, marxista e revolucionário para dirigir uma revolução política que salve as conquistas operárias e camponesas de 1959.

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