Sexta 26 de Abril de 2024

Internacional

A luta mineira se radicaliza em todo Estado Espanhol

17 Jun 2012   |   comentários

No contexto dos brutais ataques que o governo do Partido Popular (PP) tem levado à cabo contra o conjunto dos trabalhadores, agora chegou a vez dos mineiros. Década após década, as bacias mineiras têm sido devastadas, espremidas entre as multinacionais da energia como Endesa ou Iberdrola, a superexploração do trabalho nas mãos dos minifundiários e empresários da mineração e os sucessivos governos do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e do PP que condenam milhares de famílias de mineradores à miséria e desgraça, sobretudo com demissões e aposentadorias precoces forçadas, o que tem gerado paralizações em massas que se instalam nessas regiões de forma estrutural há anos. Porém, se por várias vezes os capitalistas e seus governos descarregaram suas crises sobre os ombros das famílias trabalhadoras, desta vez é qualitativamente diferente. Querem que os mineiros sofram as consequências de cortes de 60% da ajuda à indústria do carvão – que o último governo do PSOE tentou retirar durante 2011 – junto a um acúmulo de aposentadorias precoces forçadas que já estão sofrendo os trabalhadores em diversas bacias mineiras.

O corte que contempla o orçamento geral para a indústria mineira é draconiano: 63,2% para a ajuda ao financiamento das empresas, 39,2% para infraestrutura nas bacias, 76,6% para projetos empresariais, 100% em segurança nas minas e 99,6% para formação e bolsas de estudo. Além disso, a consignação para o Instituto do Carvão reduz 39,1%. Esta difícil situação tem desatado um duro conflito no qual milhares de mineiros se colocam com toda sua força e tradição de luta, mineiros que ainda extraem o negro mineral em túneis das minas de carvão de Asturias, León, Galícia, Aragón, Andalucía, Castilla-La Mancha e outras regiões.

“Hoje bandeiras, amanhã dinamites”

Depois de novas jornadas de greves, os mineiros radicalizam seus protestos. A paralização nas indústrias foi total e engloba mais de 8 mil mineiros em todo o Estado Espanhol, contando também com a paralização que causam em indústrias auxiliares de carvão. Depois das manifestações feitas em todo o país e em cada região das bacias, o governo tentou desviar o descontentamento com uma reunião, em 29 de maio, entre empresários mineiros, dirigentes sindicais da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e da Comissões Operárias (CCOO) e o Ministério da Indústria, Energia e Turismo, no marco da comissão de seguimento do Plano do Carvão. Mas como era de se esperar, tal reunião foi um completo fracasso devido ao empenho do governo em seguir adiante com as medidas.

Diante disso, os sindicatos – com o apoio das próprias patronais – declararam a Greve Geral por tempo indeterminado do setor. No dia seguinte ocorreu uma manifestação com mais de 10 mil mineiros que percorreram as ruas de Madrid e levaram a fortes enfrentamentos com policiais. Durante estes dias os mineiros têm protagonizado grandes ações de luta, recuperando métodos de luta combativos como os bloqueios de ruas e estradas por meio de troncos e pneus em chamas, piquetes e duros enfrentamentos com as unidades especiais de Polícia e da Guarda Civil que resultou em vários mineiros detidos.

Em Aragón, os primeiros dias das jornadas de greve e depois de uma Assembleia Geral, os trabalhadores bloquearam a estrada que leva à Central Térmica que está nas mãos da Endesa (que queima carvão nativo em Andorra), chamando os trabalhadores desta empresa a auxiliar nesta greve. E também durante estes dias, em Castilla e León, se repetiram os protetos e os bloqueios de estradas e mais de 1500 pessoas entre León e Ponferrada participaram das manifestações. Em Asturias, as ações de luta conquistaram a unidade de ação com os trabalhadores do transporte, que no dia 5 de junho iniciaram também uma greve por tempo indeterminado com a participação de 90% dos empregados, um fato histórico que os próprios dirigentes sindicais admitiram que não acontecia há mais de uma década. Em Léon, no marco de persuasão política contra os mineiros, enquanto o subdelegado do governo Gabino de Lorenzo emitiu um comunicado advertindo que “a lei será estritamente respeitada e que prenderão todos os que a violarem”, os trabalhadores não paravam suas ações e aclamavam com gritos e aplausos de apoio aos seis mineiros que desde o dia 5 permanecem presos nas dependências da instituição provincial. Tudo faz parecer que esta é uma luta que apenas começou e que teremos um “verão escaldante” nas cidades mineiras.

Repressão, a resposta do governo
Resistência, a resposta dos mineiros e do povo

Como vem acontecendo, o mecanismo básico do governo para passar seus planos de ajuste é a repressão e perseguição aos lutadores trabalhadores e populares. Não foi diferente com a luta dos mineiros. Em todas as ações da política e da Guarda Civil atuaram com brutalidade contra os mineiros: em Asturias, dois mineiros foram detidos e dezenas fichados; em Madrid após a manifestação multitudinária, também tiveram detenções, entre elas a de um companheiro estudante da Universidade Autônoma de Madrid - UAM e um membro do 15M, para os quais pedem 12 anos de prisão por ter participado da manifestação! Em todos os casos houve detenções, espancamentos, balas de borracha, gas lacrimogêneo e fichamentos massivos.

No dia 7, foram presos sete mineiros de León após realizarem o piquete que bloqueava a ponte de Fernandéz Casado da pista León-Campomanes desde as dez horas da manhã. Como conta um cronista, “Os mineiros haviam transferido a mobilização para esta emblemática ponte da AP-66 esta manhã, onde cruzaram caminhões e jogaram pedras sobre as calçadas para bloquear ambos sentidos da circulação. Desde as greves dos noventa, os mineiros não elegiam como cenário de suas reivindicações esta ponte, situada pouco antes do desvio para Villablino.” (El Diario de León, 06/06/2012).

Entretanto a coisa não terminou ali, a repressão se transferiu para o povo de Ciñera, que se transformou num campo de batalha virtual entre os mineiros e a Guarda Civil...a “Batalha de Ciñera”, como podemos chamá-la. Durante horas se viram intensos combates de rua onde os mineiros resistiram às forças de repressão. Até o prefeito da aldeia acabou ferido por uma bala que quase arrancou-lhe um olho. Um vizinho relatava dizendo “não pudemos sair de casa. Dava medo. Havia tiros nas ruas e as pessoas corriam. Os mineiros se meteram detrás dos containeres e a Guarda Civil disparava no meio da rua”, enquanto outra vizinha dizia que durante os enfrentamentos “houve vizinhos que abriram as portas para que as crianças se escondessem nas casas. Eles estão lutando pelo que é deles e aqui todo mundo sabe o que é a mineração”(El Diario de León, 06/06/2012).

Apesar da repressão, se estende a resistência e a solidariedade de classe dos povoados onde estão as minas.

Contradição: os métodos radicais e o programa do conflito

“A oitava jornada consecutiva de greve indefinida da mineração de carvão em Asturias recrudesceu os protestos com mobilizações que geraram cinco presos, um agente ferido e a repetição de meia dúzia de bloqueios de tráfegos nas principais rodovias e estradas da região. Também a Guarda Civil apreendeu ‘grande quantidade’ de material ‘altamente perigoso’ utilizado para causar distúrbios na greve da mineração”. (ABC, 05/06/2012) Assim relatava a imprensa reacionária os sucessos de outras batalhas dos últimos dias, a “Batalha de Santa Cristina de Lena” na terça-feira passada, 5 de junho em Asturias. Não é pra menos. Centenas de mineiros enfurecidos (milhares se contarmos todas as bacias e poços de todos os cantos do país que estão com suas atividades totalmente paralisadas), piquetes e pneus incendiados, bloqueio total de estradas, sabotagem nos transportes, estilingues, latas de gasolina, pontas enferrujadas e até “mísseis artesanais”. Se o valor e a vontade estão entre as mais preciosas virtudes do guerreiro, também há que incluir a criatividade ... e como são criativos os mineiros na hora de lutar! Os valentes combates dos mineiros asturianos que há dois dias pudemos ver em todos os canais de televisão, novamente fazem honrar a sua brava tradição de luta.

É neste momento que você espera que as patronais gritem aos céus chamando à racionalidade e à ordem contra o vandalismo. Mas, desta vez, a patronal carbonífera pintou a cara de vermelho e chamou à racionalidade ... o próprio governo: “O presidente da patronal do carvão Carbunión, Victorino Alonso, disse hoje que espera que o governo mostre na reunião da comissão de acompanhamento do Plano do Carvão de quarta-feira ‘pelo menos, certa racionalidade e certa sensibilidade’.”(Público, 04/06/2012) Sem dúvida, isto não é algo surpreendente, e sim lógico. As patronais do carvão, com a colaboração de direções dos sindicatos, são os que impuseram o programa de reivindicações da luta. Por isso, a manifestação de Madrid de 31 de maio era “encabeçada por empresários e sindicalistas unidos atrás de uma faixa com o escrito “Pelo futuro do carvão nativo e a reativação dos municípios mineiros. Pelo emprego’.” (La Nueva España, 31/05/2012), e terminou no Ministério da Indústria para exigir ao governo o cumprimento com o previsto no Plano Nacional do Carvão.

Nesta situação, os valentes mineiros asturianos, leoneses, aragoneses, galegos e de outras bacias e municípios mineiros do país, a pesar de sua combatividade e sua entrega na luta, estão sendo levados por seus dirigentes à cauda de uma demanda em que as reivindicações operárias estão subordinadas a um programa para salvar os capitalistas da mineração. Os mesmos capitalistas que sem constrangimentos ameaçam fechar as minas ... se seus trabalhadores não conseguem com sua força e sua luta que não se retirem os subsídios, ou no melhor dos casos, não fechar ... mas baixar os salários ao nível do corte dos subsídios, como também anunciava na imprensa com total descaso o grande patrão do carvão Victorino Alonso: “Propomos aos trabalhadores uma redução nos salários proporcional à redução das ajudas às empresas definidas pelo governo, por volta de 70%.”(La Nueva España, 11/05/2012).
Lamentavelmente, as direções sindicais da UGT e CCOO, com grande tradição de luta e organização entre o proletariado mineiro, se transformaram em porta-vozes desta chantagem patronal, atrelando a sorte dos trabalhadores ao destino dos próprios empresários mineiros e levando os mineiros a um beco sem saída.

A patronal do carvão e a “memória ruim” dos dirigentes sindicais

Há poucos dias, o secretário geral do sindicato SOMA-UGT, José Ángel Fernandez Villa, advertiu que os mineiros “não vão tolerar” as políticas “destrutivas” do governo à mineração de carvão, que “são uma cópia idêntica” das que Ronald Reagan aplicou nos EUA e Margaret Thatcher no Reino Unido. Sua avaliação é correta. Mas se Villa fosse consequente com sua leitura da situação, saberia que não se pode enfrentar o “thatcherismo” do PP de mãos dadas com as patronais mineiras, que conjunturalmente se encontram em enfrentamento com o governo por um problema de subsistência, mas cujo único interesse é o lucro e não a vida das comunidades, dos mineiros e do resto de seu povoado.

Vale recordar o que dizia há alguns anos um portavoz do grupo empresarial do carvão mais importante da Espanha – com importantes empresas e interesses ramificados também na construção e nos serviços industriais – Victorino Alonso: em 2003, “afirmava que ‘não tem sentido’ ir a uma mobilização com os sindicatos porque ainda que muitas de suas reivindicações sejam coincidentes, boa parte do restante preocupam e vão precisamente contra a patronal. ‘Estão em seu direito, mas se trata da atuação própria do sindicato: as empresas têm outras formas de atuar’.” (Diario de León, 16/03/2003).

É claro que tem “outras formas de atuar”. Vale como exemplo que em fevereiro de 2010, os trabalhadores dos grupos mineiros Alonso e Viloria se dispunham a paralisar porque a empresa não havia pago a folha de pagamento, mesmo o Ministério da Indústria tendo outorgado às empresas ajuda ao funcionamento de suas explorações um mês antes no valor de quase 140 milhões de euros. O presidente do comitê de empresa da Uminsa, Guillermo Sánchez da UGT, declarava na imprensa: “estamos fartos de não cobrar os salários (...) Levamos seis meses nesta situação, com demoras de mais de cinco dias no pagamento dos salários”, enquanto sustentavam que a base do conflito não estava “na falta de liquidez apresentadas pela patronal, e sim na pressão que se quer exercer sobre a companhia pública Hunosa para que incremente 2% na fatura pela compra de carvão que não admitem as centrais”, utilizando os empregados para coagir a empresa pública (Diario de León, 24/02/2010). O engano, a baixeza e a exploração são a verdadeira cara dos capitalistas do carvão e, por que não dizer, de qualquer capitalista.
O que mudou para que a patronal aceite agora manifestar-se junto aos sindicatos? Sensivelmente que, frente ao ataque do governo com a suspensão dos subsídios, os dirigentes sindicais estão evitando incluir qualquer reivindicação antipatronal na luta para fazer frente-única com os empresários, ao invés de confiar na força dos trabalhadores e em um plano de luta operário independente do Estado e dos capitalistas.

A necessidade de um programa independente: pelo controle operário das minas e dos subsídios

A luta mineira vai continuar, porque nem os trabalhadores nem o governo podem ceder. Os trabalhadores, porque está em jogo sua própria vida e a de suas famílias; o governo, porque não só tem o objetivo estratégico de liquidar a indústria mineira do carvão, representando os interesses das multinacionais e as imposições da União Européia (UE) e o plano europeu de ajuda ao carvão, mas também por um motivo político ainda mais importante: ceder diante da luta dos mineiros e seus métodos radicalizados seria um “péssimo exemplo” para os milhares de trabalhadores e jovens que enfrentam os cortes e a reforma trabalhista em todo o Estado. Noutras palavras, seria ... um extraordinário exemplo a seguir. Por isso, é necessário quebrar a vontade do governo.
A pesar de estarem sendo levados por seus dirigentes à cauda de uma demanda que não representa seus verdadeiros interesses de classe, o papel de vanguarda que vem cumprindo os mineiros na luta de classes no Estado Espanhol, a radicalidade de seus métodos e a propensão a unificar as lutas – como mostraram os mineiros asturianos com seus companheiros do transporte – pode impactar sobre muitas companheiras e companheiros possibilitando que novos setores de vanguarda emerjam, radicalizem suas ações e dêem passos até uma política que supere os limites que impõem as direções sindicais conservadoras.

Os revolucionários do Clase contra Clase (organização irmã da LER-QI, no Estado Espanhol) temos essa perspectiva. Humildemente, não defendemos a ‘indústria da mineração’, entendendo como ‘indústria da mineração’ os próprios capitalistas que se enriquecem com a exploração brutal de seus trabalhadores e com o uso mesquinho que fazem dos subsídios do Estado. O que defendemos é a ‘classe operaria mineira e suas famílias’, como também todo o povo pobre dos municípios que durante décadas suportaram a humilhação dos capitalistas e seus governos.

A única garantia de que as indústrias mineiras sobrevivam, funcionem efetivamente, preservando o máximo possível o ambiente, restaurando o território devastado e permitindo a utilização de seus recursos à serviço de toda a comunidade, será se os trabalhadores conseguirem impor o controle operário sobre sua gestão e sobre o uso dos subsídios do Estado central por meio da expropriação sem indenização de todas as minas e sua imediata nacionalização. Basta de subsídios que acabam nos bolsos de alguns capitalistas! Para manter os postos de trabalho, melhorar as condições e poder trabalhar de uma maneira segura e respeitosa com o ambiente é necessário lutar por uma mineração pública, suficientemente financiada pelo Estado e sob o controle dos trabalhadores, os únicos interessados em preservar a vida e o futuro das comunidades.

A luta mineira pode vencer o governo. Mas, para ajudar nisso, é necessário difundir entre todos os estudantes e trabalhadores do país o grande exemplo de luta dos mineiros e cobri-los de solidariedade. Mas não uma solidariedade de palavra, e sim nos fatos, lutando em primeiro lugar, pela defesa dos mineiros contra a repressão que estão sofrendo em várias cidades, pela liberdade sem processos judiciais de todos os presos e que parem as perseguições. Ao mesmo tempo, convocando a coordenar junto com os mineiros a todos os setores de trabalhadores e estudantes em luta para que tenham um programa independente não só do governo, mas também das patronais.

Os companheiros mineiros tem sido historicamente um dos batalhões mais combativos do proletariado espanhol. Foram eles que dirigiram a insurreição de 1934 que levantou a Comuna de Asturias e, mais tarde, em 1962, as greves da mineração dessa região significaram um ponto de inflexão no despertar do movimento operário que faria entrar em crise a Ditadura de Franco. A pesar dos golpes sofridos a base de falsas “conversões” e encerramentos, a pesar das traições e do conservadorismo de seus dirigentes, seguem dando mostras de heroísmo e combatividade. Temos confiança que novamente haverá “uma luz nas Asturias” e em todas as comunidades mineiras que ilumine a luta para derrotar o governo e a patronal.


A Batalha de Santa Cristina de Lena

Santa Cristina de Lena é conhecida por sua famosa igreja pré-romana, situada sobre uma colina que domina o vale do rio Lena. Rodeada de natureza e verdes vales e colinas, esta eremita do século IX conquistou o reconhecimento de Monumento Histórico Artistico e Patrimônio da Humanidade. Mas por estes dias, as imagens de Santa Cristina de Lena que correram o mundo foram menos celestiais. Como conta o expressivo relato de um cronista do diário La Nueva España que vale a pena citar extensamente:

“Oito da manhã. Asturias amanhece no que será o dia mais duro dos protestos mineiros contra o corte de ajudas ao carvão que ameaçam fechar o setor a qualquer momento. O sol começa a brilhar sobre as ladeiras do entorno de Santa Cristina de Lena, um lugar religioso, de peregrinação para os que creem, que ontem se converteram no contrário: um campo de batalha entre mineiros e policiais. Fogo, barricadas, mísseis caseiros, latas de fumaça, feridos e presos foi o balanço de uma sangrenta jornada de mobilizações mineiras. (...)”

Perto das nove da manhã, dezenas de trabalhadores do setor do carvão começaram a se organizar em volta de Veja del Rey e da estação de trem de La Cobertoria. Armados com pneus, saltavam na rodovia A-66 e, como nas outras jornada, bloqueavam os veículos. Antes que o relógio marcasse nove horas, a barricada estava formada e os pneus e árvores em chama. Mas algo ia mudar em relação aos dias anteriores: a Guarda Civil apareceu rapidamente, em mais número que nunca, e em apenas 10 minutos mais de meia centena de agentes lotavam o entorno da barricada. Começava a Batalha de Santa Cristina de Lena.

A Guarda Civil começou a disparar balas de borrada e bombas de gás lacrimogêneo contra os mineiros que, longe de recuar, repeliam os ataques com borrachadas, pedras e outros projéteis, e se defendiam com escudos metálicos artesanais. Sem dúvida, a fumaça pouco a pouco fazia com que perdessem terreno. Era hora de dirigir-se ao monte, um terreno onde os mineiros sempre se saem melhor que os agentes da autoridade nos enfrentamentos.

A estratégia dos agentes foi ir rodeando os mineiros. Entretanto, estes atacavam cada vez que viam policias se agrupar. As imagens que centenas de vezes se vê nas notícias de milicianos árabes combatendo com foguetes artesanais contra exércitos armados se reproduziram ontem em Santa Cristina, com os mineiros no papel de milicianos.

Armados com tubos metálicos de andaimes de construção usados como lança-foguetes, os mineiros descarregavam projéteis sobre eles. Apontar, acender o paviu e pum! ...lançavam o míssil contra os agentes. Foi assim durante vários minutos, até que a Guarda Civil teve que fazer a escolha dificílima de se retirar. Depois de 3 horas de batalha, os mineiros se dispersaram pelo monte escapulindo dos agentes. Para dois deles o dia ia acabar com seus ossos no comando, pois foram detidos em uma pedreira próxima a Santa Cristina.” (Andrés Velasco, “La batalla de Santa Cristina de Lena”, La Nueva España, 05/06/2012)

Nesses dias, com alguns companheiros recordávamos uma bela canção mineira de um cantor do sul da Argentina, que em seus versos emocionantes diz: “Vê se tira o chapéu, senhor, pois vai passar um trabalhador ... vê se tira o chapéu, senhor, pois vais passar um mineiro”. Não recordamos por casualidade. Como não “tirar o chapéu” diante de tão grande mostra de combatividade e luta dos valente mineiros asturianos?

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