Terça 16 de Abril de 2024

Internacional

Pablo Iglesias, orgulhoso pelos militares, pela polícia e as guardas civis

17 Mar 2015 | O líder do Podemos, Pablo Iglesias, não deixa de surpreender próprios e alheios. Neste sábado, em um ato de campanha para as eleições andaluzas em Málaga, lançou vivas aos militares, aos policiais e guardas civis. Sentia-se "orgulhoso pelo trabalho que fazem".   |   comentários

O líder do Podemos, Pablo Iglesias, não deixa de surpreender próprios e alheios. Neste sábado, em um ato de campanha para as eleições andaluzas em Málaga, lançou vivas aos militares, aos policiais e guardas civis. Sentia-se "orgulhoso pelo trabalho que fazem".

Um a um, todos os gestos políticos de Pablo Iglesias nos últimos meses apontaram a apresentá-lo como um “homem de Estado”, afastando-se explicitamente das idéias e do espaço identificado com a militância de esquerda. Uma performance planificada desde as altas esferas do Podemos, mas que nas últimas semanas se viu estimulada por um crescimento eleitoral de Ciudadanos, uma corrente liberal cidadanista que começou a apanhar pela direita a base eleitoral do partido de Iglesias.

O discurso “nem de direita nem de esquerda”, um programa econômico abertamente socialdemocrata, a reivindicação de empresários como os que “levam o país adiante”, os encontros com empresários do IBEX 35 e a reivindicação de magnatas imperialistas como os Botín do Banco Santander, os aplausos ao Papa Francisco, a negação a reivindicar o direito de autodeterminação das nacionalidades oprimidas pelo Estado espanhol, reuniões secretas com os cabeças do PSOE, a viagem aos Estados Unidos e os elogios à política de Obama e do Federal Reserve norteamericano... até uma reunião especial com o embaixador norteamericano em Madri que Iglesias qualificou como “muito produtivo”. Que mais falta para ganhar (e não perder) o voto “transversal” e moderado?

Desta vez, desde o palco de campanha em Málaga (Andaluzia) no marco da campanha eleitoral pelas eleições antecipadas que acontecerão a 22 de março, Pablo Iglesias dedicou uma parte importante de seu discurso a “homenagear” nada menos que militares e policiais.

O secretário geral do Podemos disse que manteve uma conversa com a comandante do Exército de Terra, Zaida Cantera, e com seu marido, “um exemplo de valor, de dignidade, um exemplo de militares democratas que lutam pelos direitos dos cidadãos de uniforme,” e afirmou que a comandante “lhe fez uma crítica na qual tinha razão”: “não defendeu suficientemente os profissionais das Forças Armadas e das forças de segurança”.

“Eu lhes faço uma homenagem aqui: Vivam estes militares democratas; estes guardas civis; esses policiais que gostariam de prender os corruptos!”, disse Iglesias, para culminar defendendo que “são cidadãos de uniforme e estão pela mudança. Não sobra ninguém, contamos com eles e estamos orgulhosos pelo seu trabalho.”

Enquanto Pablo Iglesias falava, no ato se podia ver ondular uma bandeira espanhola monárquica. Algo que aparentemente não será um fato isolado em futuros atos do Podemos. Iglesias disse que o Podemos saiu para ganhar, e que “vamos encher o comício de Dos Hermanos na próxima sexta-feira 20 de março de 2015 com as bandeiras da Espanha” e de todas as cores.

A aproximação da direção do Podemos com os militares começou há já alguns meses. Em outubro de 2014, em uma entrevista com o jornalista Jordi Evole no programa “Salvados”, dizia Pablo Iglesias:

“Uma sociedade democrática necessita do Exército e necessita da Polícia. Eu falo com muitos militares. E há um círculo no Podemos de profissionais das Forças Armadas. É uma questão que me interessa muitíssimo. Faltam militares valentes”.

A finais de novembro de 2014 Iglesias avançou mais, reunindo-se com a Associação Unificada de Militares Espanhóis (AUME). Segundo informaram à imprensa os dirigentes do Podemos, o objetivo desta reunião era “construir um programa político integral que recolha os direitos irrenunciáveis dos militares como cidadãos e que ofereça uma visão moderna dos Exércitos ao conjunto da cidadania, de acordo com seu papel no século XXI”.

Como conclusão do encontro, o líder do Podemos se comprometia a assumir as reivindicações dos militares.

“Podemos assume assim as legítimas reivindicações das associações militares e se compromete a defendê-las. Por esta razão, o Conselho de Coordenação do Podemos manterá uma estreita colaboração com os representantes das associações das Forças Armadas para transferir suas reivindicações ao conjunto da organização”, asseguraram desde o Podemos depois da reunião.

“O reconhecimento e o desenvolvimento destes direitos facilitará a melhora das condições trabalhistas e de vida dos próprios militares, o que supõe em si a melhora de nossa política de defesa para todo o país”.

As críticas e comentários estouraram nas redes sociais após conhecer-se o discurso de Iglesias em Málaga. Não é para menos. Os louvores de Pablo Iglesias às “forças da ordem” são inadmissíveis para qualquer movimento que se pretenda democrático e transformador.

Mas surpreendentemente, não transcendeu nenhuma crítica oficial desde as fileiras de Anticapitalistas, cuja principal referente, a eurodeputada Teresa Rodríguez, é a principal candidata nas eleições andaluzas após o pacto de cúpulas com o setor de Pablo Iglesias para encabeçar uma candidatura unitária de Podemos.

O Exército espanhol, a polícia e a guarda civil são instituições completamente reacionárias, cuja função não é outra que não defender os interesses imperialistas do Estado espanhol no exterior, garantir o centralismo espanholista e cumprir um papel repressivo contra qualquer questionamento à ordem estabelecida.

São as forças armadas herdeiras da ditadura, que gozaram da impunidade da anistia para os crimes franquistas, e que hoje se encontram em missões imperialistas em países como o Líbano, Mali e o Afeganistão. É a polícia das torturas à juventude, da “Ciutat Morta”, da perseguição aos estudantes e da repressão aos lutadores. É a guarda civil que assassina imigrantes como em Ceuta e Melilla. São as mesmas forças armadas que até pouco contavam com os “serviços” do fascista Emilio Hellín Moro, assassino confesso da jovem militante trotskista Yolanda González em 1980.

A visão defendida por Pablo Iglesias de que os policiais velam pela segurança da cidadania, um discurso que costuma ir acompanhado daquele que postula que “nem todos são iguais”, dificilmente seja compartilhada pelos milhares de imigrantes que sofrem diariamente a perseguição policial (identificações, batidas, retenções e um longo etcetera de humilhações) desses “simpáticos” municipais ou polis de proximidade, que são muitas vezes a passagem para o CIE (campos de internamento de imigrantes).

Também é este corpo de “proximidade” o encarregado de perseguir em primeira instância a juventude, proibir-lhe seus direitos ou acossar nas portas dos institutos.
Os membros das forças repressivas (os cárceres, a Polícia, o Exército, etc.) não são “cidadãos” em geral, nem muito menos trabalhadores, mas os garantidores de que o sistema de exploração possa seguir reproduzindo-se. Sua função social não é proteger os cidadãos, mas os interesses dos exploradores frente às classes exploradas.

Mas apesar das evidências, das políticas permanentes de corrupção, perseguição, repressão e assassinato por parte das forças repressivas, o monopólio da força por parte dos capitalistas se naturalizou durante décadas de bonança econômica e governos com fachada democrática. Uma naturalização que começou a entrar em crise com a irrupção do 15M, o desenvolvimento da luta de classes e o recrudescimento da repressão e da perseguição aos lutadores. Mas Pablo Iglesias e o Podemos estão favoráveis a fortalecer esta repressão com ares cidadanistas.

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