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Internacional

O diário alemão Bild e sua reacionária campanha contra o povo grego

27 Feb 2015 | O Bild, o diário de maior tiragem na Europa, lançou na quinta-feira uma campanha contra as negociações para aceitar uma extensão do resgate à Grécia, chamando seus leitores a enviar "selfies" dizendo "NEIN" ("Não") para o periódico. Uma campanha reacionária que imediatamente teve resposta online em solidariedade com o povo grego e que foi condenada pela Associação de Imprensa Alemã.   |   comentários

O Bild, o diário de maior tiragem na Europa, lançou na quinta-feira uma campanha contra as negociações para aceitar uma extensão do resgate à Grécia, chamando seus leitores a enviar "selfies" dizendo "NEIN" ("Não") para o periódico. Uma campanha reacionária que imediatamente teve resposta online em solidariedade com o povo grego e que foi condenada pela Associação de Imprensa (...)

“Não! Basta de bilhões de euros para os gregos cobiçosos!” Com este título amarelo e transbordando de prepotência imperialista alemã, o periódico chamava em sua edição impressa e online desta quinta-feira seus leitores a tirar “selfies” contra o povo grego e enviá-las à redação.

A página dois do diário está ocupada integralmente por sua campanha, coincidindo com a votação que acontecerá esta sexta-feira no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) sobre a prorrogação do programa acordado entre Atenas e o Eurogrupo.

As votações internas realizadas quarta-feira e quinta-feira nos grupos parlamentares do Bundestag deram ampla maioria a favor da proposta, apesar das divergências nas fileiras conservadoras de Angela Merkel.

O Bild (antes conhecido como Bild-Zeitung) é um diário alemão sensacionalista e reacionário. Fundado em 1952, é o diário de maior tiragem na Europa e segundo os dados de 2004, o terceiro no mundo.

Com um estilo mordaz, linguagem simples, textos curtos e apelo às emoções dos leitores (e não poucas vezes incitando diretamente à violência), a tradição de propaganda reacionária do Bild é longa, o que lhe valeu a crítica e o repúdio dos setores da esquerda democrática da Alemanha.

Em pleno auge operário e estudantil (o ’68 europeu), Bild foi o catalisador dos ataques mais fanáticos e reacionários contra a juventude e a esquerda. Tanto assim que , quando Rudi Dutschke, um dos mais reconhecidos líderes do movimento estudantil alemão, foi vítima de um atentado perpetrado por um nazista que lhe disparou três tiros na cabeça, as manifestações de repúdio em todas as cidades queimavam os caminhões de distribuição do Bild ao grito de “o Bild apertou o gatilho!”.

A 30 de outubro de 2009, o diário foi o organizador de um ato em comemoração do 20º aniversário da queda do Muro de Berlim e do triunfo do capitalismo na Europa do Leste. Ao evento assistiram nada menos que o ex-presidente soviético Mikhail Gorbatchev, o norteamericano, George Bush pai, e o ex-chanceler alemão Helmut Kohl, que tiraram uma famosa fotografia ante três segmentos do Muro de Berlim... na sede do diário.

Mais recentemente, ante o triunfo do Syriza, o Bild colocou em sua portada “Triunfa o ‘euro-horror’”, alinhado com outros meios de comunicação da direita européia, como La Razón e o ABC espanhóis.

A Associação de Imprensa Alemã (DJV) insistiu esta quinta-feira para que o Bild detenha uma campanha que tacha de “antigrega”.
“Pode-se estar a favor ou contra a política do governo federal com a Grécia. Mas é contrário à conduta periodística lançar campanhas para tratar de influir em decisões políticas”, aponta a DJV em um comunicado.

Para a Associação de Imprensa Alemã, o Bild “passou dos limites”, incorrendo na difamação de todo o povo grego.

Mas o problema não é apenas o Bild, porque em definitivo sua campanha “antigrega” é uma maneira de popularizar o discurso do próprio governo alemão e da Troika. “Os gregos desperdiçaram dinheiro emprestado... agora, que devolvam”. Esta é a máxima que martelam o establishment alemão e europeu (com a ajuda do mainstream midiático) há anos contra o povo grego.

A realidade é que o dinheiro (240 bilhões de euros) que as “instituições” emprestaram à Grécia não foi aos gregos, mas para resgatar os bancos alemães, franceses, ingleses, espanhóis (e os próprios capitalistas gregos), que têm títulos da dívida. Em troca deste tremendo favor, a Troika exigiu aos sucessivos governos entreguistas da Grécia ajustar até o infinito e pauperizar os trabalhadores e o povo grego, o que acataram a gosto. Enquanto isso, a dívida seguiu crescendo até chegar à espantosa cifra equivalente a 180% do PIB grego.

Lamentavelmente, o atual governo de Alexis Tsipras, que prometeu em sua campanha eleitoral “terminar com a austeridade”, acabou cedendo à imposições da Troika.

Mas o cinismo imperialista alemão não tem limites. Enquanto o Bild dá rédeas soltas a esta campanha reacionária contra os “gregos cobiçosos”, a EU se prepara para dar ao governo da Ucrânia 22 bilhões de euros para comprar armas, como denunciou o periódico online Redpilltimes.

“Por que ninguém está perguntando por que a União Europeia, através do Eurogrupo, impõe condições e reuniões de última hora para que a Grécia possa conseguir inclusive uma leve extensão de apoio, enquanto o próprio FMI e a EU seguem dando dinheiro à Ucrânia sem apenas um sussurro?”, pergunta-se, e com razão, o editor da revista.

Felizmente, a desprezível campanha do Bild não só entrou entre os leitores que ecoaram este ataque contra os gregos, mas também em muitos de seus críticos que iniciaram uma “contracampanha” no Twitter.

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