Quinta 2 de Maio de 2024

Internacional

AS POSIÇÕES NO MOVIMENTO TROTSKISTA E A NECESSIDADE DE UMA POLÍTICA DE INDEPENDÊNCIA DE CLASSE

A esquerda na Bolívia

23 Aug 2008 | O processo político boliviano tem sido uma pedra de toque para as distintas correntes da esquerda. A maioria se colou diretamente ao projeto reformista de Evo e, lamentavelmente, alguns setores que se dizem da esquerda operária e socialista fracassaram em levantar uma política conseqüente de classe.   |   comentários

POR: a impotência do sectarismo sindicalista

O POR-Massas é a corrente mais antiga e conhecida do trotskismo na Bolívia, com influência em algumas Universidades (dirige a FUL de Cochabamba) e na condução do magistério urbano de La Paz desde muito tempo. Ainda que defenda a necessidade da independência política frente ao governo, cai em um extremo sectário, diluindo o conteúdo da crise política nacional como “circo” ou como “a chacota politiqueira entre o governo panaca e a oposição direitista” (Massas 2087, 20/06/08), enquanto põe virtualmente no mesmo plano o MAS e a direita: ” Nem fascistas nem impostores reformistas! Revolução operária!” (Massas 2092 1/08/08), negando-se a projetar uma política concreta ante uma situação política onde a arremetida da direita, que as massas corretamente querem enfrentar, é utilizada pelo MAS para justificar a desmobilização. As apelações espontaneístas e abstratas do POR à revolução proletária têm por único fim encobrir a impotência de seu abstencionismo político.

A LIT-CI: pressão oportunista sobre o MAS e a COB

A LIT-CI (corrente internacional do PSTU brasileiro) que vem da perda de seu grupo na Bolívia (MST) e está tratando de reconstruir um trabalho político inicial, mantém uma linha oportunista para o MAS. Agora chamou o “voto crítico” em Evo com um “programa anticapitalista” e pedindo que saiam os “ministros neoliberais” do governo. A LIT insinua que se houvessem mais ministros “antineoliberais” como o ex-burocrata sindical Delgadillo (Trabalho), o maoísta Echazú (Mineria) ou os “ministros campesinos” , o governo de Evo “mudaria de caráter” e mereceria franco apoio? A lógica de campos da LIT e sua adaptação à democracia levam-na a terminar sempre em um dos campos enfrentados, sem delimitação de classe. Isso os leva a uma total desorientação política nas situações mais candentes da América Latina. Enquanto no referendo venezuelano chamaram a votar NÃO junto à direita, hoje dão apoio crítico a Evo com o SIM. Na Argentina foram uma “folha ao vento” na crise entre o governo e as patronais agrárias: seu grupo “oficial” , a FOS, começou apoiando o lock out agrário, para depois alinhar-se com setores da esquerda que defendiam retenções (semioficialistas), negando-se a todo momento a impulsionar um bloco de independência de classe. Por outro lado, seu grupo “simpatizante” , Izquierda de los Trabajadores, foi um fervoroso militante do bloco dirigido pelas patronais agrárias durante os quatro meses de conflito, pelo qual a LIT devia romper com eles.

Na Bolívia, suas apelações à “independência orgânica e política do governo” ficam no papel ao impulsionar na prática a capitulação nos momentos decisivos ante ao “governo de conciliação de classes” e o “partido no marco das reformas do capitalismo” que reconhecem ser o MAS (ver Lucha Socialista Nº 10 17/07/08). Por outro lado, vêm da realização de um Encontro Sindical latino-americano no Brasil com a COB como co-convocante pela “independência de classe” , lavando a cara de Pedro Montes (Secretário Executivo da COB) quando esse estava mais estreitamente alinhado com o governo e mais questionado pela vanguarda operária.

PO e seus aliados: buscando um lugar na sombra da esquerda do MAS

Por sua parte, o PO (CRCI), que há anos não conta com grupo político na Bolívia e agora emitiu uma declaração com um simpatizante (conselheiro da burocracia fabril) também chamaram a votar em Evo com um “programa revolucionário” . Ainda que às vezes o PO faça denúncias corretas ao MAS, nos momentos decisivos passa a ir a reboque do MAS, guiado pela lógica do “mal menor” . Como “O povo irá votar porque (...) pensam que o governo é o mal menor, por um lado, e que uma vitória eleitoral será uma arma contra os prefeitos da oligarquia...”

E, como culminação dessa política capituladora, depois do referendo emitiram um comunicado entitulado: “O PO saúda a vitória de Evo Morales no referendo revogatório” . Fazendo desaparecer todo “voto crítico” , saudar a vitória política de um governo frente-populista significa um abandono de uma elementar posição não marxista revolucionária, mas ao menos conseqüentemente classista. E pior ainda, a poucos dias do governo de Evo Morales ordenar a repressão ao mineiros de Huanuni que tirou duas vidas operárias!

Uma posição de independência de classe desde uma estratégia operária

A escassa força dos grupos que se reivindicam trotskistas não influenciou em nada os resultados eleitorais, mas em troca de sua negativa em levantar conseqüentemente uma política de classe dificulta o reagrupamento da vanguarda operária, o que exige mais clareza e menos ambigüidades centristas. A partir da LOR-CI, através de todo o processo procuramos dar um combate conseqüente pela independência política da classe operária. Em caso de enfrentamento militar entre a reação pró-imperialista e o governo reformista estamos por defendê-lo junto às massas e com seus métodos, sem por isso dar nem sombra de apoio político nem abandonar a defesa intransigente da independência de classe. Seguindo os ensinamentos de Lênin e Trotsky, acreditamos que não é necessário cair no oportunismo para “não ficar isolados” . Ao contrário, um trabalho paciente junto à vanguarda operária e juvenil só pode fazer-se desde essa perspectiva.

Nesse marco, entendemos que tem sido correta a posição apresentada frente ao referendo revogatório do domingo, dia 10: votar NÃO aos prefeitos, vanguarda da reação pró-imperialista, mas rechaçamos apoiar politicamente o governo e seu programa com o SIM (que tornava impossível expressar uma posição independente e muito menos, um programa alternativo), por isso nos pronunciamos pelo voto em branco à pergunta nacional, no marco do combate pelo reagrupamento politicamente independente da vanguarda.

A Liga Obrera Revolucionaria por la Cuarta Internacional (LOR-CI), é a organização irmã da LER-QI na Bolívia, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

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