Terça 30 de Abril de 2024

Juventude

A Plenos Pulmões, lutando na Conlute por uma real coordenação de lutas

25 Aug 2005   |   comentários

A Conlute surgiu na primeira metade de 2004 e começou a ser construída no calor das mobilizações e greves que percorriam as universidades naquele momento. Partiu de levantar a necessidade de uma coordenação para unificar nacionalmente o movimento estudantil na luta contra a reforma universitária, e abrindo a discussão em todo o país da necessidade de superar o velho movimento estudantil, aglutinado basicamente em torno da UNE, e seus métodos burocráticos e oportunistas.

Em função da impotência das direções do movimento estudantil e do funcionalismo público essas lutas não se unificaram nacionalmente e foi abortado o processo que poderia levar a uma greve geral da educação e à derrota já naquele momento da reforma universitária.

Em decorrência deste aborto, a partir do inicio das aulas em 2005 o movimento estudantil passa a viver um momento de refluxo e de relativo fortalecimento das direções governistas, que estavam bastante debilitadas com as mobilizações e greves do primeiro e do segundo semestre de 2004.

Nesse marco se realizou o Congresso da UNE, onde essas direções governistas do PT e do PCdoB contaram com uma ampla maioria e aprofundaram a política diretamente governista desta entidade. Neste congresso, com o acordo do PSOL, se votou por consenso uma resolução “em defesa da unidade do movimento estudantil, contra o divisionismo da Conlute” . Em nome de combater a política sectária do PSTU o PSOL fez o jogo do governismo e recebeu em troca um cargo na executiva da entidade, que foi ampliada justamente com intuito de ter espaço para todos os setores que combatem esse divisionismo.

Na nossa opinião, apesar desta situação mais difícil para a construção da Conlute e do movimento estudantil, com uma linha política ousada, claramente antiburocrática, teria sido possível combater a política oportunista e divisionista do PSOL e avançar aos saltos na construção da Conlute. Não o fizemos e perdemos uma grande oportunidade. Porém, frente à crise política nacional e ao extremo debilitamento das direções governistas, especialmente do PT, é possível recuperar o terreno perdido. Para fazer isso é necessário um balanço claro da política da Conlute no último período, especialmente da política da sua maioria.

A política do PSTU é impotente para colocar a Conlute na ofensiva

Vemos na política da direção do PSTU para a Conlute e o movimento estudantil dois erros simétricos. De um lado o chamado ultimatista deste partido, colocando que somente dentro da Conlute e em ruptura com a UNE é possível organizar as lutas dos estudantes, o que nos deixa de mãos atadas para desmascarar a política do PSOL, que tem como prioridade a unidade com a esquerda petista e se apóia nesta linha ultimatista do PSTU para esconder a sua paralisia e o seu seguidismo à esquerda petista no movimento estudantil. De outro lado, o PSTU se esforça de fato para controlar a Conlute “por cima” e combate todos os setores que tentem levantar uma política oposta à sua.

Desta maneira, a Conlute ainda não foi capaz de se conformar como uma verdadeira coordenação de lutas. Hoje ela ainda não passa de um campo de unidade entre setores combativos do movimento estudantil, o que já é progressivo, porém totalmente insuficiente. Na prática o PSTU limita a construção da Conlute às entidades estudantis e suas diretorias, minando a democracia direta e a auto-organização dos estudantes no interior da coordenação. Ao mesmo tempo não tem uma política conseqüente de construí-la por baixo, na base do movimento estudantil, garantindo a autonomia da Conlute por local de estudo, pois teme que em uma discussão franca e aberta na base do movimento estudantil possa perder o controle desta ferramenta progressiva que ele mesmo criou.

Por último, discordamos da política da direção do PSTU que caminha para transformar a Conlute numa nova entidade, atrelada à nova central sindical e dos movimentos populares que pretende fundar em 2006. Essa visão sobre o que deve ser a Conlute que tem o PSTU, impede que de fato ela se transforme numa real coordenação de lutas. Na verdade aponta para que a Conlute seja uma ferramenta dócil nas mãos deste partido, coordenar a aplicação de sua política nacionalmente. Não somos contra uma maior ligação da Conlute à Conlutas. Defendemos até a possibilidade desta integrar de fato a Conlutas. Mas vemos isso como um passo para avançar na unidade combativa entre o movimento operário e o movimento estudantil, a partir de uma coordenação de lutas unificada, onde o poder de decisão esteja de fato nas assembléias de base, o que não acontece hoje nem em uma nem em outra coordenação.

Algumas propostas da A Plenos Pulmões para a construção da Conlute

Já no encontro de Porto Alegre, em Janeiro de 2004, defendemos junto com outros setores uma série de propostas que apontavam para a construção da Conlute como uma verdadeira coordenação de lutas e não como mais uma entidade estudantil. Aqui desenvolveremos sumariamente algumas delas, e outras, adaptadas à nova situação da Conlute.

A primeira proposta que defenderemos na próxima plenária da Conlute sobre a sua secretária é que está não pode mais continuar funcionando como a diretoria de uma entidade, que se reúne sempre na sala de algum sindicato, por fora das lutas em curso. Para isso, colocamos a proposta de que a secretaria nacional deva se reunir onde estiverem acontecendo as principais mobilizações no país e discutir como expandir e fortalecer nacionalmente estas mobilizações. Por exemplo, durante as mobilizações em Florianópolis, deveríamos ter reunido a secretaria da Conlute na própria cidade, ao calor das mobilizações, e conjuntamente com os estudantes mobilizados, encaminhando resoluções para amplificar a mobilização e a solidariedade contra as prisões políticas em todo o país. Ao mesmo tempo isso deve ser feito em cada estado, segundo se desenvolvam mobilizações e não devemos nos limitar ao que acontece no movimento estudantil, mas também organizar o apoio, juntamente com a Conlutas a toda luta de trabalhadores que esteja em curso.

O segundo ponto é que as plenárias da Conlute devem se reunir mais periodicamente e devem ser organizadas a partir de assembléias e reuniões abertas nos locais de estudo, com representantes mandatados e revogáveis, que representem as posições de minoria e maioria. Junto com isso é necessário garantir a autonomia local e estadual da Conlute e ao mesmo tempo fazer funcionar as plenárias estaduais e municipais da Con-lute, que na maioria dos locais não estão ocorrendo.

Por último, reafirmamos a idéia de um jornal nacional da Conlute e não apenas boletins agitativos, ainda que estes sejam necessários. Defendemos um jornal que poderia ser mensal, onde estivessem contidas as posições de todos os setores da Conlute sobre os debates a respeito do movimento estudantil e sobre a própria Conlute. Um jornal assim, sério e apro-fundado certamente seria um grande impulso ao movimento estudantil e à construção da Conlute.

A Conlute deve se colocar ao serviço da formação de um pólo nacional antiburocrático, antigovernista e de aliança com os trabalhadores

Vemos a necessidade da Conlute dar reposta a divisão que está colocada hoje na vanguarda do movimento estudantil e ser um agente ativo para que as diferenças organizativas não impeçam a unidade dos setores combativos.

Não podemos nos limitar a dizer que defendemos a unidade do movimento estudantil, porém dentro da Conlute. Devemos ser ofensivos em propor uma unidade nacional dos setores combativos do movimento estudantil e não colocar a entrada na Conlute como uma condição desta unidade. Somente assim poderemos tirar o argumento da unidade das mãos do PSOL e demonstrar de fato que queremos impulsionar a luta.

Nesse sentido apoiamos a proposta dos companheiros da Unesp do bloco “Que se Vayan Todos” , que lutam para unificar os antigovernistas dentro da Unesp e em todo o país. Companheiros que em sua maioria reivindicam a Conlute, porém querem também avançar para uma unidade mesmo com os setores que estão por fora dela. Também vemos que dentro da Conlute outros setores, como o DCE da UEM (Maringá/PR), também compartilham conosco desta visão, de que é necessário unificar o movimento estudantil combativo e superar as divisões organizativas e propõe uma “frente de luta estudantil” , mais ampla que a Conlute. Acreditamos que se os companheiros do PSTU reverem sua política ultimatista e forem ofensivos em chamados reais à unidade dos estudantes isso pode significar um grande impulso para a Construção da Conlute e deixar o PSOL sem argumentos para nos combater.

PSTU em São Paulo: Lado B ou Conlute

Na cidade de São Paulo, não só na cidade, mas também no Estado, um setor importante de estudantes rechaça a UNE, mas não tem certeza de entrar para a Conlute, pois tem dúvida se ela não é também uma entidade burocrática. Dúvida que está baseada na sua experiência passada e presente com o PSTU. Frente a isso a política antiburocrática levantada pelo bloco A Plenos Pumões e por setores independentes e de outras organizações e movimentos responde a uma necessidade real e vital do movimento estudantil, de superar os vícios e as deformações da década de 90, época de ofensiva - económica, política e ideológica - do imperialismo.

A particularidade do Estado de São Paulo é que frente à importância do fenómeno antiburocrático o PSTU foi incapaz de se unificar com os setores mais avançados, ou pelo menos uma parte destes. Isso desde o movimento anticapitalista em 2001 e 2002, passando pelas mobilizações do Cefam até a greve da USP, UNESP e Unicamp de 2004 ou a ocupação da reitoria da PUC.

Lamentavelmente o PSTU tenta se refugiar agora construindo o movimento Lado B a partir de uma tática por fora da Conlute. Para não perder o controle desta, o PSTU acaba dificultando a formação de um novo movimento estudantil antigovernista e abandona qualquer política ofensiva de construção da Conlute.

O Movimento A Plenos Pulmões é composto por militantes da LER-QI e independentes

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