Terça 30 de Abril de 2024

Juventude

"A Plenos Pulmões" construindo a Conlute como pólo anti-burocrático

20 Jan 2005   |   comentários

Uma nova etapa se abre para o movimento estudantil. Durante o ano de 2004, frente às precárias condições de ensino e os ataques diretos do governo Lula através da reforma Universitária e às condições de vida da população em geral, o movimento estudantil protagonizou um importante papel político e passa hoje por uma recomposição e um processo de ascenso (nos secundaristas) e politização em âmbito nacional. Todo esse processo se deu de forma combinada com uma desilusão de setores dos trabalhadores e da juventude com o PT e o questionamento da própria lógica de militância petista nas universidades e escolas.

Hoje, o movimento estudantil tem a oportunidade real de romper com os vícios e métodos burocráticos e oportunistas que o petismo deixou de herança, em que as direções e seus aparatos cumprem um papel central, e sob as quais os estudantes devem se submeter. Basta de freios e acordos feitos por cima daqueles que realmente fazem as lutas. Não é mais possível que o movimento estudantil fique à reboque de uma burocracia que é incapaz de levar as lutas até o final. É preciso varrer, de uma vez por todas, todos os governistas e métodos burocráticos para fazer com que o movimento estudantil se torne, de fato, um movimento capaz de avançar, coordenar suas lutas e se unificar com outros setores da sociedade, com a autoridade de responder por ele mesmo.

É nesse sentido que apresentamos o bloco político “ A Plenos Pulmões” , composto por militantes da COMUNA, JRS e estudantes independentes. “A Plenos Pulmões” é o resultado de uma aliança construída a partir das lutas travadas no último período em diversos locais, partindo da defesa intransigente das demandas da juventude e da classe trabalhadora. É também fruto da necessidade concreta de organizar o movimento estudantil nacionalmente num pólo antigovernista, contra a burocratização instaurada neste e pela aliança com os trabalhadores. No entanto, uma luta como essa não se dá de maneira mecânica, nem pode acontecer de um dia para o outro. Por isso, “ A Plenos Pulmões” se coloca a tarefa fundamental de ser parte ativa neste processo, partindo dos avanços das lutas travadas em 2004 contra a Reforma Universitária do governo Lula e Pelo Passe Livre, se unificando com todos os estudantes que enxergam a necessidade de construir um verdadeiro pólo nacional antiburocrático.

As Lutas de 2004 e a Construção do Bloco “A Plenos Pulmões”

Na PUC-SP, universidade que esteve na vanguarda das lutas do movimento estudantil, boa parte dos estudantes que compõem este bloco foram parte do setor que, já no início do ano, concretizou a aliança operário-estudantil através do conflito na fábrica ocupada em Itapevi, a Flakepet. Demonstraram, na prática, que o movimento estudantil pode cumprir um papel fundamental se aliado aos trabalhadores numa luta árdua contra os setores do petismo e da burocracia, que ao não depositarem a confiança necessária nos trabalhadores, e por serem atrelados aos seus cargos, se colocaram, no conflito, como verdadeiros freios e traidores da classe trabalhadora.

Também na ocupação de reitoria da PUC, no primeiro semestre, travamos uma luta dura contra as perseguições políticas dos estudantes num movimento contra a repressão que teve o potencial de questionar a estrutura da universidade e a “ democracia” dos órgãos da instituição. Durante a ocupação de 20 dias, tivemos que nos enfrentar, não só com a burocracia, mas também com a polarização que se deu entre os estudantes, que ocasionou conflitos entre os setores de direita da universidade, que queriam acabar com a ocupação se utilizando dos métodos mais agressivos e partindo para conflitos físicos.

Os estudantes da PUC cumpriram um papel central de questionamento da estrutura da universidade na campanha pelo voto nulo para reitor, e também na luta contra a reforma universitária, através de sua participação nas plenárias, no encontro que lançou a Conlute no Rio de Janeiro, e no ato do dia 11/11, parte do calendário de lutas contra a reforma, que sofreu inclusive repressão policial.

Já no segundo semestre de 2004, a greve das universidades estaduais paulistas também foi fundamental para a formação do “ A Plenos Pulmões” . Durante a greve, nas três universidades, a luta contra a reforma universitária esteve aquém do papel que poderia ter cumprido, muito em virtude das correntes ligadas ao petismo que dirigem a maioria das entidades e foram incapazes de travar uma luta séria. Entretanto, os estudantes mais radicalizados deram exemplos de unidade com os trabalhadores nos piquetes e atos do SINTUSP, exemplo de politização e radicalização dos trabalhadores na greve. Também iniciaram, desde a Unesp, um repúdio às práticas burocráticas dentro do movimento estudantil, pela própria experiência com o PCdoB e O Trabalho/PT, rompendo com os formalismos e ditando os caminhos da greve através de suas assembléias e delas tirando delegados, como foi o caso de alguns campi. Na Unicamp, a então gestão do DCE, o bloco petista “Domínio Público” , foi destituído por suspeita de corrupção, e começaram a se dar lutas contra a hegemonia deste bloco na universidade, o que se expressou nas últimas eleições para DCE.

Partindo de todas essas lutas, nas eleições estudantis defendemos a unidade dos setores que se levantavam contra a Reforma Universitária do governo Lula e convidamos especialmente o PSTU para a formação de chapas com programas antigovernistas e antiburocráticos, na luta contra a tradição do petismo ainda presente no movimento estudantil, e que defendessem também a aliança com os trabalhadores, com o intuito de ser, de fato, conseqüente nas lutas que já tinham se iniciado e que não tiveram seu potencial desenvolvido até o fim.

Na Unicamp e na Unesp foram formadas chapas unificadas com o PSTU e estudantes independentes nas eleições para o DCE. Na Unicamp, a chapa “ Pra não virar privada... Fogo no pavio!” se restringiu à luta contra a reforma universitária e não se centrou na construção da Conlute, se colocando como chapa de oposição à hegemonia petista. Na Unesp, com a chapa “Que se Vayan Todos!” , foi possível avançar com o PSTU num programa de luta contra o governo Lula e suas reformas e contra as correntes governistas dentro do movimento estudantil, num claro chamado à ruptura com a UNE, no sentido de integrar a Conlute para transformá-la num pólo nacional antiburocrático dos estudantes.

Infelizmente, a política do PSTU, que rompe apenas organizativamente e de maneira automática com o petismo, não possibilitou uma ação conseqüente e capaz de impulsionar a construção da CONLUTE, o que foi possível observar nas chapas que o PSTU formou com o P-SOL e a “Esquerda” Petista, que sequer reivindicam a CONLUTE e ainda travam uma “luta” por dentro da UNE.

Nesse sentido, é central para o movimento estudantil que seu rompimento com a UNE e com a UBES não seja meramente organizativo, mas sim que dê fólego novo aos estudantes nas suas lutas e no desenvolvimento de novos métodos de organização. Parte dessa luta se dá através da unidade com os estudantes secundaristas, trabalhadores do transporte e desempregados em torno da luta pelo Passe Livre, que já se expressou em diversas cidades do país, como em Salvador, onde a burocracia das entidades atreladas ao governo foram expulsas e rechaçadas.

A Necessidade Real de um Pólo Nacional Antiburocrático

As experiências de 2004 dentro do processo em que vêm se dando nacionalmente mostram que as lutas desenvolvidas tinham a potencialidade de avançar, mas foram barradas, bastante devido às suas direções burocráticas e pela falta de uma organização nacional capaz de unificar e coordenar as lutas do movimento estudantil.

Frente a isso, “A plenos pulmões” se coloca lado a lado dos estudantes para que a Conlute se construa enquanto o pólo antiburocrático do qual o movimento tanto necessita. Para isso é necessário que a Conlute defenda um programa claramente antigovernista e em aliança com os trabalhadores, capaz de unificar os setores que estão dentro e fora da universidade e das escolas contra os ataques do governo.

O primeiro passo nesse sentido é defender a centralidade da Conlute de se organizar de baixo para cima, o significa que nas coordenações, tanto entidades quanto comitês se expressem através de delegados mandatados e revogáveis, eleitos pelas suas assembléias de base, em cada local de estudo, respeitando posição majoritária e posições minoritárias, para que todos os setores em luta possam se expressar. Só a autoorganização responde de maneira dinâmica aos processos de mobilização e dá nas mãos dos estudantes combativos a oportunidade de decidir acerca dos rumos do movimento, influenciando os setores mais atrasados e permitindo que, a partir disso, o movimento estudantil se unifique com os trabalhadores, desempregados, etc.

È dessa perspectiva que o bloco “A Plenos Pulmões” está construindo a Conlute. Partindo de que é uma necessidade histórica do movimento fazer com que ela seja uma coordenação real dos estudantes, capaz de revolucionar os velhos métodos e vícios do movimento estudantil. Chamamos todos os estudantes que também se vêem como parte desta luta a se integrarem nessa forte frente única para dar uma saída de fólego à crise em que se encontram as instituições de ensino, que é parte da própria crise do sistema capitalista.

Joyce é membro da gestão ”Que se vayan todos” do DCE da Unesp e Daniel é estudante de Ciências Sociais da Unicamp

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