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A Líbia de Kadafi

07 Mar 2011   |   comentários

No dia 1 de setembro de 1969 o coronel Muammar al-Kadafi encabeçou um golpe militar, com um verniz nacionalista, que terminou com a monarquia do Rei Idris. Apoiados no “Livro Verde”, obra que concentra a obra de Kadafi, o regime se encaminhou ao que o líder líbio chamou de “socialismo”. A ex-colônia italiana, uma grande produtora de petróleo, era, todavia, um país profundamente empobrecido, com uma monarquia obscenamente rica. Esse cenário social fez com que o golpe se realizasse quase sem nenhuma resistência.

Durante a primeira década, Kadafi passou para as mãos do Estado a produção petrolífera e aumentou os lucros gerados pelo petróleo cru. Desta forma, conseguiu aumentar o gasto em programas sociais, especialmente em saúde e habitações populares.

Durante a segunda década, o regime colocou restrições às empresas privadas e bancos, e fomentou uma relativa distribuição de terras na região ao oeste de Trípole, a capital.

Esta política de investimentos sociais, depois de décadas de absoluta pobreza, não foi distribuída equitativamente entre as regiões. Assim, se aprofundaram antigas divisões tribais (que Kadafi utilizou mediante alianças e pactos), sobre as quais se apóiam divisões políticas e regionais, como ocorre ao leste do país, que foi historicamente excluído e deliberadamente empobrecido por Kadafi, onde hoje é o centro da oposição ao regime.

Oriente rebelde

A antiga região de Cirenaica (Líbia Oriental, onde fica Bengazi) possui um histórico conflituoso com a Tripolitania (considerado o feudo de Kadafi, hoje Trípole). Durante grande parte do domínio colonial, a Itália manteve sob seu controle essas duas regiões separadamente.

Esse foi o lar do “grande herói” da independência da Líbia, Omar El Muktar, e do Rei Idris, que governou o país desde a independência em 1951 até o golpe de Kadafi (1969). Desde o golpe, a região de Cirenaica foi marginalizada econômica e politicamente, e o poder político sendo concentrado no ocidente, na região de Trípoli. Essa divisão ainda segue vigente entre o povo, incluindo o exército, (essa tensão vem provocando crises e até atentados contra Kadafi). Além dessas duas regiões, a Líbia atual também compreende a região desértica do sul, Fezzan, onde atualmente vivem somente 10% da população, frente á 60% da antiga Tripolitania e 30% da Cirenaica.


Da “Terceira teoria universal” ao giro neoliberal

O “Livro Verde” de Kadafi se declarava alternativo ao comunismo e ao capitalismo, mas a favor de uma “Terceira Teoria Universal”: retomar o Islã nos planos político e econômico, doutrina que foi mantida durante as primeiras décadas.

Ao final da década de 1980, com a população alienada atrás de Kadafi, depois do bombardeio dos Estados Unidos em 1986, o regime líbio começou a aplicar receitas neoliberais: privatizações, abertura da economia e uma reforma na agricultura e na indústria. Como culminação desse processo, em 1988 aboliram-se as cotas de importações e exportações.

Uma das principais figuras dessas reformas neoliberais foi Shokri Ghanem, representante da poderosa Corporação Nacional do Petróleo, que acelerou as reformas, buscando maiores investimentos para o setor petroleiro, mediante os “Acordos de Exploração e Produção de Cooperação” com campanhas imperialistas. Um dos grandes aliados de Ghanem será um dos filhos de Kadafi, Seif al-Islam, formado em Londres e partidário das reformas econômicas e políticas.

As conseqüências dessas reformas, como 30% de desemprego e 40% de pobreza (com o acirramento das divisões tribais e políticas), alimentaram a oposição ao regime, que hoje depois de várias décadas se deflagrou uma revolta.

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