Sexta 29 de Março de 2024

Internacional

PELA QUEDA REVOLUCIONÁRIA DE ASSAD

Abaixo a repressão aos trabalhadores e ao povo sírio

05 Aug 2011   |   comentários

O levante do povo sírio contra o regime de Bashar Al Asad já dura cerca de quatro meses. Cansados da sua situação de miséria e opressão, em que 14% da população de 22 milhões vivem abaixo da linha da pobreza, enquanto 20% dos sírios estão desempregados, os sírios protagonizam duros enfrentamentos contra o regime de Asad. O país se transformou em um dos epicentros mais tensos da primavera árabe. A resposta à justa mobilização da população síria não tardou em se fazer sentir sob a forma de um massacre desferido pelo governo, que relembra os antecedentes de 1982, Naquele ano o pai de Assad, Hafez, que governou o país de 1971 a 2000 foi responsável pelo assassinato de 20 mil pessoas que se manifestaram contra seu governo, também na cidade de Hama, que atualmente encontra-se sitiada pelos tanques. Hama, que fica a 210 km da capital Damasco, se transformou no epicentro da resistência, como nos anos de 1976 e 1982, e por conta disso está sofrendo uma criminosa repressão.

Como naquele momento, hoje, o representando do clã Asad no poder, se lança contra a população síria. Tentando se apoiar na mentira de que grupos armados estariam aterrorizando as cidades, quando todos sabem que se trata de setores oriundos das próprias forças repressivas, Asad recrudesceu sua numa tentativa de acabar com as manifestações. A cidade de Hama, cuja maioria de sua população de 700 mil habitantes é sunita, não contendo setores alauitas, do qual provem o clã governante, e tornou-se um alvo não apenas por contar com diversos setores mobilizados, mas também por esta característica. Assim, o regime espera que a dinâmica dos protestos assuma uma característica de violência sectária, o que golpearia o movimento pela Estima-se que apenas em 48 horas mais de 200 pessoas tenham sido mortas pelas forças de repressão, e que o total de mortos desde o início dos protestos já supere os 1600 assassinatos.

A atual intensificação da violenta ofensiva de Bashar Al Asad também busca evitar que o Ramadã, mês de comemorações muçulmanas, se tornasse um ponto culminante dos protestos. Uma série de protestos estava prevista contra seu regime, no marco de que todo o país encontra-se marcado por imensas mobilizações. Com isso, Asad tenta interromper pela via da força uma dinâmica de explosão do levante para as zonas rurais, e bloquear a dinâmica que desde junho vinha se desenvolvendo, com setores da base do exército negando-se a reprimir a população e passando para o lado dos sublevados.

A repressão criminosa de Asad é uma demonstração de como os governos burgueses árabes, mesmo os que se declaram como “antiimperialistas” e “anti norte-americanos”, ao mesmo tempo em que são completamente impotentes para combater estas forças opressoras, atuam como ferozes especialistas quando se trata de se lançarem contra seu próprio povo. O governo sírio organizado através do Partido Baath, outrora ligado ao extinto partido iraquiano, foi outrora considerado parte do “eixo do mal”, de acordo com a nomenclatura dada por Bush filho para designar os regimes que seriam ameaçadores aos EUA. Porém, apesar de se declarar aliado do Irã e contrário aos interesses dos EUA está prestando a este um novo serviço contra o povo árabe, para garantir sua dominação. Não é a primeira vez que o clã Assad cumpre este papel.

O clã Assad: uma extensa lista de massacre contra os trabalhadores e o povo

Nas décadas antecessoras, o pai de Bashar Al Assad, Hafez, levou adiante uma política de vigilância absoluta no plano interno, e embora tenha se marcado por um discurso nacionalista árabe, sempre levou adiante uma política contrária ao levantamento do povo árabe. Embora tenha enfrentado o Estado de Israel na guerra de Yom Kippur em 1973 ao lado do Egito para tentar retomar as colinas de Golã perdidas em 1967, Assad manteve desde então uma política de coexistência pacífica com os sionistas. Desde a derrota de Yom Kippur aprofundou um curso político marcado pela moderação crescente com o imperialismo e o Estado de Israel, e uma ferocidade contra o povo sírio, que traz fresca a lembrança do massacre de Hafez Al Assad que matou 20 mil pessoas que se levantaram contra o regime em 1980. Isso fez com que logo no início dos protestos, uma das consignas cantadas era “Pare de tirar o sangue do povo sírio, e volte-se contra Israel, que nos arrancou Golã”.

Esta situação foi a base que levou a que o premiê israelense e a alta cúpula do governo sionista tenham questionado recentemente frente às mobilizações contra o regime, abertamente se uma mudança de regime na Síria seria conveniente, já que apesar de Bassad se colocar como aliado do Irã, e demagogicamente “antiimperialista e anti-sionista”, “durante todo o seu governo não foi dado um só tiro nas fronteiras” de acordo com o jornal israelense Haaretz. Desde 1974 este regime nunca manteve nenhum conflito com Israel, muito pelo contrário.

Em relação à Palestina, a política do clã de Assad-Maklouf demonstrou sua faceta mais criminosa em 1976 no Líbano. Naquele ano a Síria apresentou um plano para impor limites à presença da guerrilha e das demais forças de resistência palestina no Líbano, proposta que foi aceita pelos maronitas e muçulmanos conservadores, mas recebeu resistência das forças de resistência palestina. Como resposta, a Síria, em junho de 1976 rompeu com este setor, e desferiu uma brutal repressão, sobretudo aos setores mais radicalizados da resistência palestina, até que uma reunião da Liga Árabe costurou um cessar-fogo que legitimou não só os massacres aos palestinos, como também a intervenção da Síria sobre o sul do Líbano, que se mantém até hoje. Mais recentemente, a Síria participou militarmente na Guerra do Golfo, na batalha “Tempestade do Deserto” em 1991, sob a direção dos EUA, em troca de financiamento dos países aliados da região, além de ter enviado trabalhadores, para reduzir os impactos das greves e das demissões daqueles que se negavam a tomar parte da máquina de guerra imperialista. Isso demonstra que somente uma saída de independência de classe dos trabalhadores e do povo será capaz de responder às suas demandas mais sentidas.

O levante popular atual se dá contra toda esta política. E isso ocorre em um momento crítico para a situação regional, e os processos da primavera árabe de conjunto, marcada por novas tensões entre o Estado de Israel e o Líbano, pelo julgamento de Mubarak e o retorno das mobilizações na Praça Tahrir duramente reprimidas pelo governo de transição no Egito, e pelo desgaste da política ultra-direitista levada adiante pelo premiê israelense Benjamin Netanyahu. A onda que arrasta as massas sírias às ruas toma, portanto, me meio a este cenário um caráter potencialmente explosivo, sobretudo também por que apesar da política criminosa de Hafez Al Asad contra os palestinos na década de 70, cerca de 470 mil palestinos vivem em campos de refugiados na Síria. Assim, a radicalização do levante sírio poderia levar a que a questão palestina novamente se colocasse em cena.

Apoiamos com todas as nossas forças o levante dos trabalhadores e do povo sírio. Repudiamos a criminosa repressão do regime de Assad. Sua investida assassina é mais uma prova de que as demandas mais sentidas do povo e dos trabalhadores sírios, em uma situação ainda mais grave por conta dos efeitos da crise capitalista que assola a região, só poderão ser efetivadas com a ação independente dos trabalhadores e das massas. Por mais que estes regimes tenham tensões com o imperialismo e o Estado de Israel, são igualmente inimigos do povo e dos trabalhadores de seus países, a quem querem submeter cada vez mais violentamente.

A hipocrisia dos governos imperialistas, e de sua aliada Dilma Roussef frente à Síria

A primavera árabe demonstra como as principais potências imperialistas atuam buscando garantir seus interesses próprios, e que todos os discursos contra os assassinatos realizados pelos ditadores e monarquias locais não passam de cínica demagogia. Isso se demonstrou com o apoio prestado por Obama até o último minuto ao regime de Mubarak no Egito, e por Sarkozy à ditadura de Ben Ali na Tunisia. Tentando se relocalizar para garantir o prosseguimento dos seus interesses na região, se lançaram numa ofensiva através da OTAN sobre a Líbia, buscando aparecer como portadores de intenções “humanitárias”. Entretanto, fecham os olhos para a repressão desferida por regimes amigos, como é o caso da Arábia Saudita no Bahrein, a quem apóiam nem tão veladamente. Na Síria cujo regime sempre havia sido considerado opositor aos imperialismos, sobretudo dos EUA, a OTAN declarou que não haveriam “condições para a intervenção”. Fica claro que a verdade é que as ditas “condições para intervenção” são definidas não pelo massacre da população, mas pelos interesses particulares das potências, e os custos que estas teriam que arcar com eventuais intervenções.

Ainda que a perspectiva de uma intervenção militar seja mais dificultada na Síria pelo caráter potencialmente anti-sionista das manifestações, o que dificulta que se conforme um setor resistente sobre o qual se apoiar, não está descartado que as potências imperialistas, tendo á frente a Alemanha, lancem mão de uma política de intervenção. Mesmo que esta não se dê aos moldes do que hoje ocorre na Líbia, ou seja, militarmente, sabe-se que já existem tentativas de iniciar diálogos de cooperação entre os governos imperialistas e um embrião de Conselho de Transição inspirado no líbio, para tentar aproximar setores da burguesia local aos representantes dos governos imperialistas, e desviar desta maneira a possibilidade de uma queda revolucionária do regime de Assad. Contra esta perspectiva defendemos que nenhum tipo de intervenção militar ou política, mediante a utilização de setores internos da resistência, pode trazer qualquer benefício para os trabalhadores e o povo sírio.

Por outro lado, a própria ONU confirma a política de conveniência das potências imperialistas frente ao massacre perpetrado por Assad, ao emitir uma mera declaração de repúdio. Enquanto isso, Dilma Roussef está defendendo uma das posições mais brandas, se limitando a manifestar “preocupação” frente aos milhares de assassinatos e chamando o genocida Assad para o “diálogo”. É preciso exigir a ruptura imediata de relações com o governo sírio. Se coloca em xeque o próprio desenvolvimento da primavera árabe, chamamos a todas as organizações de esquerda, de juventude, estudantis, sindicatos e de direitos humanos a colocar de pé uma ampla campanha em repúdio ao massacre do governo líbio, e pela sua queda revolucionária.

Abaixo a repressão criminosa de Assad ao povo líbio! Retirada imediata dos tanques e das forças repressivas de Hama e demais regiões mobilizadas!

Pela queda revolucionária de Assad! Por uma greve geral política para derrubar o regime!

Nenhuma intervenção dos países imperialistas ou da OTAN!

Pela ruptura imediata das relações diplomáticas com o governo da Síria!

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