Domingo 5 de Maio de 2024

Internacional

MAIS DESEMPREGADOS, MAIS POBRES E DURANTE MAIS TEMPO

10 milhões de desempregados nos Estados Unidos

20 Nov 2008   |   comentários

A cifra que assombrou o panorama económico estes últimos dias foi os 6,5% de desemprego nos Estados Unidos. Todos os analistas já prevêem um rápido aumento que poderia chegar a 7% este ano, e cerca de 9% em 2009. Ao desemprego e a queda do consumo se somam aos dados que mostram a entrada definitiva da economia norte-americana em um ciclo recessivo.

Os dados que causaram mais preocupação foi o de destruição de postos de trabalho em outubro (240.000) e a revisão do Departamento de Empregos dos postos de trabalho destruídos em setembro. Este organismo havia previsto a eliminação de 159. 000 empregos, mas no final do mês a soma resultou em 284.000 (quase o dobro).

No que diz respeito a 2008 foram destruídos 1.200.000 postos de trabalho, mais da metade desapareceram em agosto, setembro e outubro. Os setores mais afetados foram a indústria (90.000 empregos perdidos em outubro, em franco retrocesso durante os últimos meses) e a construção (49.000 empregos perdidos), que havia sido uma das grandes fontes de trabalho nos últimos anos (relacionada com a bolha imobiliária). Em apenas dois anos no setor de construção se perderam 663.000 empregos. Isso sem ter em conta que neste setor uma porcentagem do emprego é ilegal, na qual os imigrantes (uma parte importante dos sem papéis) não figuram nas estatísticas pela informalidade das condições de trabalho.

Menos trabalho e menos direitos

Hoje a porção de adultos que está trabalhando atinge o menor nível dos últimos 15 anos: 61,8%. Entre os adultos a taxa de emprego masculina é a mais baixa desde que o Departamento de Emprego iniciou seus registros em 1948 (com a exceção de 2 meses durante o ano de 1983).

A quantidade de pessoas desempregadas aumentou a um total de 10.100.000, a maior desde 1983. Entre eles os setores mais importantes são as comunidades latina ( 8,8% estão desempregados) e afro-americana (11,1%), enquanto o desemprego entre os trabalhadores brancos é de 5,9%. Cabe assinalar também que as mulheres e os jovens de todos os grupos têm taxas maiores de desemprego.

Dos desempregados só 32% tem acesso ao seguro desemprego. Muitos dos novos desempregados não cumprem com os requisitos para gozar deste direito: ficam de fora os de meio-período, e aqueles que não trabalharam o período mínimo (que varia de acordo com o estado). Na recessão de 2001, 45% dos desempregados tinha acesso ao seguro. Na década de 50, o nível era maior que 50%.

Considerando o sub-emprego a taxa de pessoas com problemas trabalhistas aumentou 11,8% (o ano passado era de 8,4%). Esta categoria inclui os que trabalham meio-período ’ não encontram trabalho de tempo integral ou são retiradas as horas em seu trabalho ’ (6.700.000) e aqueles que já não buscam trabalho (se calcula na última pesquisa: 484.000). Também entrariam neste grupo 1.600.000 pessoas que querem trabalhar mas durante as quatro semanas anteriores ao censo não saíram a buscar emprego.

Outro dado que piora o já amargo panorama é que 22% dos desempregados (2300000 ou 1 de cada 5 desempregados) não consegue trabalho há seis meses ou mais; este nível não tinha sido alcançado nos últimos 25 anos. Estima-se que o seguro desemprego de 800.000 pessoas acabe, e em novembro e dezembro se poderiam somar 350.000 mais (National Employment Law Project). O mesmo centro calcula que a metade das hipotecas que tiveram atrasos ou notificação de execução é por que os proprietários tenham perdido seu trabalho, ou sua fonte de renda.

O setor das automotrizes que serve como termómetro do estado de saúde da economia norte-americana, segue dando mostras da entrada em recessão. Na semana passada haviam anunciado a queda de suas vendas (Chrysler, 35%, Ford 30%, e General Motors 45%). Ainda que o Congresso tenha votado o pacote de ajuda de 25 bilhões de dólares para as “Três Grandes” automotrizes, estas disseram que não é suficiente e anunciaram demissões, suspensões e cortes. As ações da General Motors baixaram até 3,36 dólares, a menor cotização desde 1946.

As três automotrizes anunciaram cortes e demissões para fins de 2008 e começo de 2009. A General Motors disse que cortará 30% de sua força de trabalho, e a Ford também anunciou o corte de 15% do pessoal ainda este ano, e mais 10% adicional em fevereiro.

Desigualdade

Nos últimos 30 anos a brecha entre ricos e pobres cresceu enormemente. Mostra disso é a diferença abismal entre o que ganha um gerente geral e um trabalhador médio. Se na década de 70 um gerente ganhava 27 vezes o salário médio de um trabalhador, esta diferença aumentou em 2007 a 275 vezes.

A explosão da bolha imobiliária explicitou como o brutal aumento do endividamento das famílias trabalhadoras foi o que alimentou o consumo da última década, enquanto os salários reais se mantiveram virtualmente estancados. Esta situação é a que se encontra hoje muitos setores empobrecidos frente à dívidas impagáveis (hipotecas e cartões de crédito).

As demissões são cada vez maiores. As empresas estão favorecidas pela flexibilidade dos contratos, já que o setor da classe operária que está sindicalizado (9% no setor privado) e pode negociar coletivamente melhores condições trabalhistas é minoritário (ainda que a burocracia sindical não seja nenhuma garantia). Neste marco, a burocracia sindical da AFL-CIO (central sindical majoritária;; existe outra fração chamada Change to Win, que agrupa vários sindicatos sem grandes diferenças nos temas centrais) tem sido uma grande colaboradora no fim das conquistas e direitos da classe operária, dividindo e debilitando suas fileiras.

Os trabalhos perdidos em outubro

 Indústria: 90.000 (os setores mais castigados foram as fábricas de peças metálicas: 11000, móveis e outros: 10.000 e auto-peças: 9.000).

 Construção: 49.000. Desde o pico da indústria da construção (setembro de 2006) se perderam 663.000 postos de trabalho.

 Serviços: 51.000

 Comércio: 38.000 (os setores que mais perderam: concessionárias de automóveis: 20.000, vendas de apartamentos: 18.000).

 Finanças. 24.000. Desde o pico que viveu em dezembro de 2006 se perderam um total de 200.000 empregos.

Traduzido por Simone Ishibashi

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