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Internacional

Venezuela: O cinismo das mídias internacionais, da direita continental e do imperialismo

04 Mar 2015   |   comentários

A Venezuela não tem se visto tensionada apenas no que se refere à situação interna, mas também tem estado no centro das atenções das mídias mundiais, da direita pró-imperialista do continente e de outras regiões do mundo.

A Venezuela não tem se visto apenas tensionada no que se refere à situação interna, mas também tem estado no centro das atenções das mídias mundiais, da direita pró-imperialista do continente e de outras regiões do mundo, encabeçado pelo imperialismo ianque, cujo centro tem sido intervir, apoiando ferozmente a direita pró-imperialista local, buscando condenar o Governo nacional com um completo e incomparável cinismo, que demonstra realmente não lhes interessarem os direitos democráticos dos povos, mas aproveitar qualquer situação em função de seus interesses reacionários e de submissão.

As mídias internacionais exigindo intervenção na Venezuela

Em nível internacional, mídias de muito peso e impacto sobre as decisões políticas dos principais governos e centros de poder, têm saído com linhas políticas que buscam influenciar os governos de países centrais seja para que se interfira diretamente nos assuntos internos da Venezuela, seja para pressionar cada vez mais para que se busque o isolamento do Governo de Maduro. Assim, a revista estadunidense Foreing Policy, em um artigo intitulado “A Crackdown in Caracas”, publicado logo após a prisão do prefeito opositor de direita, Antonio Ledezma, tensionou a situação nacional, sublinhava o 23/02 que “marca uma nova via perigosa na escalada da crise política e econômica da Venezuela, cuja solução se torna cada vez mais difícil de visualizar em cada semana que passa”, afirmando que pela política que leva a cabo Maduro “faz com que seja quase impossível para os venezuelanos abordar os desafios de seu país por sua própria conta” em clara alusão à ingerência estrangeira, concluindo que “a resposta da comunidade internacional à recente ofensiva tem sido medíocre, com a maioria dos países que expressam ‘preocupação’ pelo aumento da polarização na Venezuela, sem chegar a condenar em nível de governo”.

Em 22/02, o New York Times publicava um ostensivo artigo cujo título se propunha ameaçador “Amid a crisis, a Crackdown for Venezuela”, aponta para ações severas contra a Venezuela, e defende o Governo de Obama das acusações feitas por Maduro, afirmando que “o Departamento de Estado contestou as denúncias do Sr. Maduro”, e “que os Estados Unidos não estão promovendo distúrbios na Venezuela”. Dois dias depois o New York Times publicava um editorial intitulado “Conspiracy Claims in Venezuela” no qual chamava a “Articular uma opção atrativa e viável para um governo autoritário e errático como o do Sr. Maduro... Com tantos líderes da oposição enfrentando acusações, obviamente não será uma tarefa fácil. Mas se a comunidade internacional continua defendendo esta causa, e insista que uma eleição justa seja levada a cabo, poderia ser possível”, e afirmou que “Os temores de um golpe de estado do Sr. Maduro parecem ser uma estratégia de desvio por um estadista maníaco que é incapaz de fazer frente ao péssimo estado da economia de seu país”.

Por sua vez, o influente jornal diário financeiro de Nova Iorque, The Wall Street Journal, publicava esta quinta-feira também um editorial intitulado “Meltdown in Venezuela”, no qual afirma que “já é hora dos Estados Unidos e seus aliados começarem a chamar por seu nome à tirania que existe na Venezuela”, sugerindo seu isolamento para tentar debilitá-la. Do outro lado do Atlântico, o semanário The Economist, da Inglaterra, em sua edição impressa que começa a circular nesse fim de semana, publica um artigo intitulado “A slow-motion coup” em que afirma que “o regime ‘bolivariano’ da Venezuela vacila entre o autoritarismo e a ditadura” e que “a oposição merece ajuda”, sugerindo que se não se consegue a libertação de Ledezma e Leopoldo López, deve-se “suspender a Venezuela de organizações regionais, como o Mercosul, que exigem a seus membros que sejam democracias”.
Por sua vez, o diário El País do Estado Espanhol, em sua edição desta sexta-feira 27, publica um Editorial intitulado “Ajudar a Venezuela” no qual argumenta que “Se os atores internos são incapazes, não já de alcançar uma solução, mas se colocar no caminho correto para atingi-la, ao menos deveriam escutar propostas e atender aos gestos que lhes chegam do exterior”. E assim, se podem ir somando mais mídias internacionais, em um coro de vozes que procuram políticas agressivas contra a Venezuela.

O papel do imperialismo e da direita continental

O chefe do Departamento de Estado, dos Estados Unidos, declarava esta quarta-feira ante a Comissão de Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes que “a Venezuela segue marchando na direção equivocada e tomando as opções equivocadas”, em um segundo chamado de atenção ao país, reiterando por outro lado que “Estamos trabalhando neste momento com o Conselho de Segurança Nacional e o Departamento do Tesouro, para implementar as sanções previstas em lei, e estamos nos movendo o mais rápido possível. Eu levantei o problema sobre a Venezuela a líderes da região”. Já na quarta-feira da semana passada o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, havia declarado que “o Departamento de Estado está controlando de perto essa situação e consideram ferramentas que possam estar disponíveis que canalizem o Governo da Venezuela na direção que acreditam que deveria se guiar”. E, somente neste ano, o Governo Obama emitiu mais de cinquenta declarações de caráter intervencionista.

Nesta linha foram se expressando uma série de partidos do continente em solidariedade com a direita venezuelana, em geral alinhados no direitismo, assim aontem “o pleno da Câmara de Deputados do Brasil aprovou uma “moção de repúdio” contra o Governo da Venezuela”, uma moção foi apresentada pelo opositor Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), inclusive votou a favor o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), do vice-presidente do país Miche Temer. Por sua vez, no México, os senadores do conservador Partido da Ação Nacional (PAN) “consideram necessária uma visita de chefes de Estado a Venezuela para promover o cumprimento do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos”, ao mesmo tempo adiantavam que “conduzirão no Senado esta mesma semana um ponto de acordo para persuadir o Governo federal a tomar medidas mais contundentes no papel que assume no contexto internacional”, advertindo que “a OEA assuma um papel ativo ante a crise do país sulamericano”.

Do Uruguai, Luis Lacalle Pou, líder do Partido Nacional (PN), principal força opositora do Uruguai, reclamava do governo de Mujica silenciar e não repudiar o Governo de Maduro, e ser “contundente com o que está passando na Venezuela em todos os organismos internacionais”. E assim poderiam ser enumerados uma série de dirigentes políticos do continente expressando-se no mesmo tom, como o prefeito da cidade de Buenos Aires, Mauricio Macri, o dirigente político argentino Sergio Massa, o ex-presidente chileno Sebastián Piñera, o ex-presidante Andrés Pastrana, entre muitos outros.

Na Europa, a Eurocâmara abrirá um debate sobre a situação da Venezuela a petição do Partido Popular Europeu, ao que seguirá uma resolução por escrito que os eurodeputados votarão em março em Estrasburgo. Nesta mesma quarta-feira também o chamado “Clube de Madrid” que agrupa ex-Chefes de Estado e de Governo de 60 países, segundo eles mesmos declaram, também chamaram a condenar o Governo venezuelano, no mesmo momento que o fazia a prefeita de Madrid, Ana Botella, esposa do ex-presidente do Governo espanhol José María Aznar (que também havia condenado o Governo de Maduro), em um Foro de Intercâmbio entre prefeitos Espanhóis e prefeitos da América Latina.

As contas com o Governo de Maduro só correspondem ao povo trabalhador

Há um cinismo do imperialismo e a direita continental que frente a governos de direita e alinhados com o imperialismo que são campeões em violar os direitos humanos e repressores do povo trabalhador, como o caso mais recente do México, onde está recente o escandaloso caso da desaparição de 43 estudantes com a responsabilidade do Estado, não vemos este nível de condenação unânime nem de “preocupação” pelos direitos humanos. O que demonstra de fundo que não lhes interessam realmente os direitos democráticos dos povos, mas aproveitar qualquer circunstância para condenar a um governo que não se alinha aos ditames imperialistas.

É claro que não se pode endossar de maneira alguma a repressão governamental, como temos sustentado e argumentado em todo momento, pois isto implica no fortalecimento das forças de repressão do Estado, a mesma força que é descarregada, com mais sanha inclusive, contra as lutas da classe operária e o povo pobre de nosso país. Mas não se deve conceder nenhuma validade nem poder algum ao imperialismo estadunidense para pretender ser os ‘sancionadores’ do governo venezuelano depois de apoiar uma fração burguesa que aspira governar o país, como é a MUD, e que seguramente fará um governo igual ou pior de violação dos direitos democráticos.

O povo trabalhador, os campesino, os setores dos distritos, são os que vêm padecendo uma situação que cada vez mais lhes ataca seus rendimentos, em meio à escassez e o desabastecimento, e sobre eles é que vem sendo descarregada uma crise que não geraram. Por parte do Governo de Maduro, como já viemos escrevendo neste diário, as medidas postas em curso não são mais que ajustes por etapas até o momento, mas se fazem sentir, além de desvalorizações em curso que fazem baixar fortemente os rendimentos da população e o salário real. A oposição direitista aglutinada na MUD, conclama por planos econômicos para “sair da crise” que estão em direção a aprofundar os ajustes que já vem aplicando o Governo.

As contas com as violações dos direitos democráticos, com os corruptos funcionários do governo nacional e seus atos de repressão – que caem sempre com mais sanha sobre a classe trabalhadora –, serão ajustadas pelo povo trabalhador de nosso país, não pelos governos da burguesia imperialista norte-americana nem pela direita internacional.

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