Sexta 26 de Abril de 2024

Nacional

I ENCONTRO NACIONAL DE MULHERES DA CONLUTAS

Um primeiro balanço

25 Apr 2008   |   comentários

Quase 600 representantes de diferentes estados do país, se reuniram os dias 19, 20 e 21 de abril, no I° Encontro de Mulheres da Conlutas. Estiveram presentes trabalhadoras de distintas categorias dispostas a debater com a esquerda uma perspectiva para lutar contra a opressão que sofrem no dia a dia. Também esteve presente um pequeno setor de estudantes, além de homossexuais, lésbicas e transexuais.

O Encontro era uma oportunidade para que essas centenas de mulheres trabalhadoras que são parte importante da vanguarda das lutas em todo o país, pudessem se dotar de definições programáticas de independência de classe que fossem capazes de ganhar novas mulheres para a luta contra a opressão e a exploração que nos impõe o capitalismo. Para cumprir esse papel, o Encontro teria que responder aos principais problemas que enfrentam as mulheres trabalhadoras e avançar em definições programáticas classistas.

A grande massa das mulheres do país não teria dúvida que um problema que necessita uma resposta urgente é o aumento absurdo do preço dos alimentos, que atinge particularmente as mulheres que são as que gastam a maior porcentagem dos salários em alimentos por receberem os salários mais baixos e terem os empregos mais precários e terceirizados. Em vários países do mundo a população tem se levantado contra os aumentos abusivos, mas no Brasil falta uma organização que levante essa demanda. A Conlutas poderia cumprir esse papel se esse Encontro levantasse essa demanda como eixo do 1º de maio, chamando a se somar a essa luta e convocando uma campanha salarial unificada de emergência. Para isso, seria necessário superar o disciplinamento imposto pela burguesia e a burocracia sindical com as data-base que separa as lutas por categoria e marca a data que cada categoria pode lutar.

O Encontro também representaria um grande avanço se votasse uma política ativa para ganhar as milhares de mulheres que são submetidas a trabalhos precarizados ou terceirizados, em sua maioria negras, que sequer são sindicalizadas ou são parte de sindicatos pelegos. Uma campanha efetiva contra a terceirização e a precarização, pela contratação com igual salário por igual trabalho, ligada a luta pelo salário mínimo do DIEESE poderia ser um grande eixo para atender às demandas dessas mulheres.

Também, poderia se transformar em um grande pólo de combate à campanha reacionária contra o aborto encabeçada pela Igreja e Heloísa Helena, se discutisse como massificar essa campanha na base das categorias e se enfrentar com as posições atrasadas que muitos setores tem devido à influência da religião e da burguesia que acaba submetendo milhares de mulheres à morte.

Poderia atrair para a Conlutas as jovens trabalhadoras (que foram praticamente ausentes no Encontro) se levantasse uma campanha contra o desemprego que afeta principalmente essa camada e contra a violência policial que mata jovens negros todos os dias. Campanha essa que só pode ser efetiva se é combinada com uma denúncia do papel da polícia para a população e não com o apoio às greves como a Conlutas faz hoje.

Como parte do bloco Pão e Rosas, nós da LER-QI atuamos junto a independentes defendendo essa perspectiva, colocando como eixo essas questões que acreditamos ser as mais candentes para as mulheres trabalhadoras hoje.

Ligamos essa política à necessidade de que os sindicatos da Conlutas sejam um exemplo em como travar um combate em defesa dos direitos das mulheres não só nos dias de Encontro, mas todos os dias, com os métodos da luta de classes: greves, piquetes etc. Para isso, defendemos que era necessário superar o modo petista de militar, que moldou toda a esquerda e atinge até mesmo organizações que se colocam no campo da revolução como o PSTU, que limita as lutas da classe trabalhadora às data-base, aos atos e encontros, tudo determinado por calendários pré-concebidos, que são inabaláveis frente aos acontecimentos da realidade.

Lutamos para superar essa tradição já no próprio Encontro para que este fosse resolutivo, e não mais um Encontro como vários que organiza o PSTU onde se vota questões superficiais, táticas, calendários, mas as questões cruciais que afetam a grande massa dos trabalhadores sempre são deixadas de lado.

Infelizmente, a política do PSTU apontou em outro sentido. Os discursos nas mesas de abertura em defesa do socialismo, colocando a necessidade de que os trabalhadores e as mulheres se preparem para enfrentar a crise económica que vai gerar fenómenos da luta de classes e de que devem se preparar para dirigir um Estado operário, não saíram dos discursos. Na prática, o que o PSTU tinha a propor para aquelas mulheres era: lutar por cotas e secretarias de mulheres nos sindicatos. Ou seja, duas propostas táticas que são completamente insuficientes para responder às necessidades das mulheres. Por isso, apesar de não sermos contrários a essas questões, nos abstemos nessas votações como forma de protesto, pois achamos que aquelas centenas de mulheres, em particular as do PSTU que se colocam no campo da revolução, deveriam propor objetivos superiores. Mas talvez o mais lamentável tenha sido ver o PSTU defender a polícia e sua participação na Conlutas de maneira mais fervorosa que a luta pelo direito ao aborto ou contra a terceirização.

Finalmente, o PSTU fez um chamado a construir um “movimento feminista classista” , porém em todo o Encontro trabalhou contra qualquer avanço num programa classista. Ao invés disso, colocou todo o seu peso militante e sua influência sindical para evitar qualquer radicalização nos programas e nas políticas adotadas. Será por que a adoção de um programa pela independência de classe e de oposição radical às instituições parlamentaristas e mais ainda às de repressão estatal, a denúncia implacável contra as campanhas clericais que condena milhares de mulheres a morrer por abortos clandestinos, são um obstáculo para a formação de frente de esquerda para as eleições com o PSOL o PCB e que incomoda a relação com setores da igreja?

E foi por isso, por responsabilidade fundamental do PSTU, que não nasceu neste primeiro encontro das mulheres de Conlutas, nenhum movimento feminista que possa ser chamado de classista, e menos ainda de socialista. E é por essas questões que não podemos concordar com o PSTU que o Encontro foi vitorioso. E chamamos os companheiros a fazerem uma reflexão mais profunda sobre cada atividade que fazem e lutas que participam, pois deseduca a classe trabalhadora seguir na tradição petista de colocar que tudo é sempre vitorioso só pelo fato de ter acontecido, independente do seu conteúdo.

De nossa parte, ainda que nossas propostas tenham representado apenas uma minoria no Encontro, temos orgulho da luta política que travamos (que expressamos nessas páginas com parte das nossas intervenções). Estamos seguros de que assim como fomos ouvidos com muito respeito no Encontro, estaremos lado a lado com muitas dessas mulheres, principalmente na medida em que se desenvolva a luta de classes no país e que se imponha para a Conlutas uma resposta efetiva aos problemas da realidade.

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