Quinta 2 de Maio de 2024

Nacional

NOVAS GREVES DE JIRAU E SANTO ANTÔNIO:

Um pouco mais do novo

18 Apr 2012   |   comentários

Repetindo as experiências do ano anterior, os trabalhadores de Jirau resolveram cruzar mais uma vez os braços e estão com as obras paradas desde o dia 12 de março sendo seguidos pelos trabalhadores de Santo Antônio que pararam desde o dia 20 desse mesmo mês.

Em 2011, logo no inicio do governo de continuidade de Dilma, com forte popularidade e impulsionando o discurso de gradualismo lulista e de Brasil potencia que avança, eclodiu nos rincões do Norte do País mobilizações operárias de trabalhadores da construção civil. Milhares de trabalhadores do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira (Jirau e Santo Antônio), dos portos de Pecém (CE) e Suape (PE), entre outros, paralisaram em protesto contra as péssimas condições de trabalho e por melhores salários, demostrando a verdadeira realidade por de trás do discurso do governo logo no coração do PAC, onde são o suor e o sangue dos trabalhadores que sustentam os lucros recordes das grandes empreiteiras e construtoras.

O Governo agiu rápido para encerrar a paralização e impedir que a precarização, um dos sustentáculos do gradualismo lulista, viesse a ser questionados e pudessem repercutir em mobilizações e debates de expressão nacional, como começou a se desenvolver no ano passado. Para isso contou com a justiça burguesa, a força de segurança nacional e a PM, e também com a burocracia da CUT e da Força, que traindo de forma profissional as mobilizações, negociaram acordos por migalhas e promessas por cima com o governo e empresários.

Obviamente que as migalhas e as promessas não saíram do papel, e a continuidade do problema estrutural da super exploração e das péssimas condições de trabalho e de vidas de milhares de trabalhadores na qual o governo não pode resolver, levou no inicio desse ano, novamente a mobilizações nos setores da construção civil.

Repetindo as experiências do ano anterior, os trabalhadores de Jirau resolveram cruzar mais uma vez os braços e estão com as obras paradas desde o dia 12 de março sendo seguidos pelos trabalhadores de Santo Antônio que pararam desde o dia 20 desse mesmo mês. Novamente as péssimas condições de trabalho, altas cargas horários com intensificação do trabalho faz dos canteiros de obras cenários de super exploração que em nada deve ao século XVIII, não a toa são recordistas em acidentes de trabalho. Trabalha-se 90 dias seguidos sem folga, com super lotação em alojamentos feitos pelas empresas. Dentre os itens de reivindicação, está o aumento de 30% do salário.

Algo de novo sobre as nuvens do gradualismo petista

O governo Dilma, seguindo o modelo lulista de seu antecessor, vem regimentando o projeto de país combinando ainda pequenas concessões como aumento dos salários acima da inflação e facilidade de crédito com uma maior intensificação do rendimento do trabalho, a partir da super exploração. As sensações de elevação social, pautada na capacidade de consumo e na oferta de emprego, encobrem o aumento de exploração para ampliar a mais valia e os lucros recordes das grandes empresas. As mobilizações dos trabalhadores da construção civil, seja nas hidrelétricas como nos grandes estádios e construções para a Copa e as Olimpíadas, trazem à tona a realidade viva dessa pilastra do regime de exploração nas principais obras envolvendo o principal projeto do governo de desenvolvimento nacional, o PAC.

Mesmo que ainda imersa na logica gradualista do lulismo, motivadas pelas demandas sindicais e econômicas, essas mobilizações se diferenciam das anteriores, mais rotineiras, marcadas por lutas distributivas entre os setores mais organizados da classe. Cumprem um papel chave na possibilidade de expor e questionar um elo débil do projeto de pais e do modelo de acumulação do capitalismo brasileiro. Mas, para além disso, vem apontando também elementos novos e interessantes que marcam um diferencial, no qual se destaca principalmente pelo caráter massivo e espontâneo envolvendo setores chaves da economia, a facilidade de extensão e contagio, radicalidade e perfil antiburocrático.

A própria experiência dos trabalhadores nos processos de luta vem fazendo-os avançar. Um elemento novo e importantíssimo que figura entre as pautas das mobilizações é a equiparação salarial entre igual trabalho. Essa demanda contraria diretamente a terceirização, uma das politicas de divisão e precarização do trabalho, muito usada para a contratação de alguns serviços nos canteiros. Como forma de exercer controle politico e baratear a força de trabalho, as empreiteiras e construtoras que dirigem os projetos, contratam inúmeras pequenas empresas terceirizadas de prestação de serviço, que pagam salários menores e quase nenhum direito. Ao levantar essas demandas, os trabalhadores conseguem uma unificação entre os diferentes setores dos sistema de subcontratação múltiplo de terceirização, possibilitando a massificação das greves e mobilizações e sua radicalidade. Ao levantar essa importante demanda os trabalhadores se chocam também com a burocracia sindical da CUT e da Força, que nos acordos por cima com o governo e empreiteiras, vem defendendo a terceirização. 

 
Burocracia sindical, agenda aplicador de derrotas

Se as greves e mobilizações dos trabalhadores da construção civil apontam elementos novos e iniciais importantes que já antecipam uma nova fase de recomposição das mobilizações do movimento operário, nesses processos podemos antecipar também elementos chaves de como se prepara a burguesia.
Ainda num marco de estabilidade e gradualismo, o governo e a burguesia não abrem mão de todos os seus instrumentos para derrotar e fazer retroceder essas demonstrações ainda iniciais de mobilização dos trabalhadores. Assim como no ano passado, logo que os trabalhadores pararam, a justiça deixou claro a serviço de que classe está. O TRT considerou a greve ilegal e abusiva, determinado a volta imediata dos grevistas ao trabalho. Também havia autorizado o desconto dos dias não trabalhados. Também foi determinada a prisão de quem impedisse colegas de ter acesso ao canteiro de obras.

O governo utilizou também seu braço armado e deslocou um contingente de mais de 200 homens da força de segurança nacional, a mesma reprime e assassina a população pobre e negra nas favelas haitianas e cariocas, somados com batalhões especiais da policia militar para reprimir os trabalhadores, impedirem sua organização, reuniões e assembleias, negando seu direito de parar e militarizando toda a obra para que os trabalhadores fossem induzidos à força novamente ao trabalho.

Porem, nem a justiça nem a policia fizeram retroceder os trabalhadores que continuaram em greve, realizando piquetes de mais de 1000 trabalhadores enfrentando a ordem judicial e policial. Organizando, segundo relatos, reuniões e assembleias escondidas para driblar a policia e a patronal.

Mas foi a burocracia sindical governista que vem cumprindo o firme papel em sua função de braço da burguesia no movimento operário. O Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil do Estado de Rondônia (Sticcero), filiado à CUT e o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada (Sintrapav), vinculado à Força Sindical disputam o aparato para provar para o governo e os patrões quem melhor garante seus interesses contra os trabalhadores. Buscam confundir a base dos trabalhadores, rebaixar as demandas, desmoralizar e enfraquecer o movimento enquanto negociam por cima e a portas fechadas com o governo e empreiteiras. Buscam também desarticular o movimento espontâneo dos trabalhadores e para isso fazem como com a própria patronal ao afirmar que o movimento é de uma minoria, como expressa o procurador na conversa que teve com o presidente da Sticcero: "O sindicato disse que não existe a intenção da categoria de paralisar as obras e que o que aconteceu foi uma iniciativa isolada de alguns trabalhadores, mas a gente não tem como endossar essa decisão".

Mais um vez foram determinantes para fechar um acordo rebaixado em negociação com a patronal e o governo intermediado pelo TRT e defenderem o fim da greve em assembleias militarizadas. Não sem receberem a resposta de indignação da vanguarda dos trabalhadores que os vaiaram e atiraram pedras contra o carro de som. A indignação se seguiu e os trabalhadores incendiaram parte dos alojamentos de Jirau. Segundo Claudio Gomes, presidente da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira (Conticom), filiada à CUT, “O bom senso prevaleceu, e caminhamos para acordo”. Os trabalhadores vêm avançando em sua experiência com a burocracia e cada vez mais surgem expressões politicas anti-burocráticas por parte dos lutadores. Ainda com toda a politica da burocracia, a força do movimento levou a conquistas parciais, como o não desconto dos dias parados, como queria o TRT.

A necessidade de encarar essas lutas como preparatórias

 
As mobilizações que vêm se desenvolvendo na construção civil, em especial em Jirau e Santo Antônio, mesmo ainda no marco do crescimento econômico e do gradualismo, contem novos e importantes elementos de avanço da subjetividade e dos métodos de lutas da classe trabalhadora, que expressão o novo ainda que em pequena escala, e que é de fundamental importância nos atentarmos para melhor entendermos os processos subjetivos que podem estar se desenvolvendo e sinalizando elementos tendenciais no subterrâneo da classe trabalhadora brasileira.

Assim como também antecipam, em caráter preparatório, elementos de como o governo e a burguesia vão responder a novos fenômenos de luta de classes que desafiem os limites da “Pax Lulista”.

É tarefa essencial dos revolucionários e das organizações de esquerda, primeiramente mostrarem solidariedade ativa a essas lutas. A CSP-Conlutas, que dirige o importante sindicato da construção civil no Pará, deve mobilizar a base de seus sindicatos, com politica de exigência para a base da CUT para que transforme essas lutas em exemplos nacionais. Por de pé uma campanha nacional em defesa dos operários da construção civil, em especial dos rebeldes das obras do PAC, que denuncie e seja uma referencia de contraposição a politica do governo de militarização das obras e de criminalização dos lutadores. Usar a oportunidade para generalizar a demanda por trabalho digno para todos, com direitos e salários iguais para trabalhos iguais, colocando em pauta a necessidade de expulsar das obras os monopólios multinacionais que financiam as campanhas eleitorais do PT com o dinheiro roubado do BNDES em troca de favorecimentos e livre permissão para utilizar trabalho semi escravo. Que as obras passem a ser controlada pelos trabalhadores através de suas organizações.

Para isso é essencial levantar um programa que eleve as demandas econômicas dessas lutas para um questionamento mais politico da pilastra de sustentação do governo, contribuindo para que esses elementos iniciais de avanço subjetivo progridam e sejam também uma experiência e um avanço para o conjunto da classe trabalhadora que começa a se levantar ainda no marco do gradualismo. Essas são experiências preparatórias importantes frente a tendência explosiva da combinação entre a super exploração e o sessar do cenário de avanço gradual, com a debilidade crescente do governo de manter a concessões, em grande parte pela própria mudança da conjuntura internacional de crise e dos limites das medidas anticíclicas, como a queda da economia chinesa e o retrocesso da indústria brasileira. 

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