Quinta 25 de Abril de 2024

Nacional

A QUEDA DE NELSON JOBIM

Sob a aparente normalidade do governo, abalos, instabilidades e crescentes elementos de crise!

11 Aug 2011   |   comentários

“Você pede demissão ou eu terei de demiti-lo”. Foi com essas palavras que Dilma fez cair mais um ministro em apenas oito meses de governo. O Primeiro foi o Ministro da casa Civil, Palocci, depois quando foi publicado seu estrondoso enriquecimento por “favorecimento de informações”. No mês passado foi a vez Alfredo Nascimento(PR), ministro dos transportes, por envolvimento em esquemas de corrupção e superfaturamento de obras na pasta. Agora foi o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, que já vinha desgastado por conta de suas declarações, nas quais afirmou ter votado em Serra em 2010 e de ser preciso tolerar "os idiotas que perderam a modéstia" e que "escrevem para o esquecimento”, referindo-se a setores petistas do governo. A recente entrevista a revista Piauí, onde chamou Ideli Salvatti (Ministra das Relações Institucionais) de “muito trapalhada e muito fraquinha” e disse que Gleisi Hoffmann (Casa Civil) “nem conhece Brasília”, foram determinantes para a queda.

Diferentemente dos outros dois, Jobim não sai por envolvimento em escândalos de corrupção, apesar das recentes denuncias envolvendo o ministérios dos transportes terem se ampliado até envolverem nomes da cúpula militar. De qualquer forma, é mais uma amostra da instabilidade política dentro do governo e dos atritos políticos entre distintos interesses que formam a base governista, que apesar dos esforços e medidas, longe de se arrefecerem, ganham cada vez mais fôlego. Seriam estas recorrentes crises “calmas” enquanto o país ainda cresce e nenhuma denúncia atinge Dilma? Anúncios de crises muito mais importantes no futuro próximo? Algo já é certo, Dilma tem muito menos capital político para enfrentar sua própria base do que tinha Lula e a saída de alguém tão importante no regime como Jobim são sinais de que coisas importantes vem se processando por baixo das manchetes dos jornais e das denúncias que tem vindo à tona.
Jobim: um importante legado à burguesia

A mídia burguesa ainda lamentava a queda desse importante quadro burguês, ressaltando seu currículo impecável na defesa dessa classe desde os tempos de Ministro da Justiça de FHC, passando pela chefia do STF e a pasta da Defesa nos dois mandatos de Lula, quando Dilma rapidamente anunciou o ex-chanceler, Celso Amorim, como substituto.

A decisão pela troca de nomes na pasta da Defesa foi discutida e acompanhada de perto por Lula, e antes mesmo de assumir o Ministério da Defesa, Amorim já declarou ter “apreço pelo trabalho feito pelos antecessores , inclusive o ministro Nelson Jobim” e indicou que continua com o mesmo projeto de Defesa. “Cuidadoso com as palavras”, vejamos o legado de seu antecessor que Amorim reivindica: Jobim foi peça chave e atuante para a flexibilização das leis trabalhistas e para as privatizações como ministro da justiça do neoliberalismo de FHC, a qual seguiu dando continuidade no governo Dilma, no projeto de privatização dos aeroportos.

Tem o agradecimento até hoje da burguesia brasileira por ajudar a conter, “com mãos de ferro”, a crise na aviação, aberta depois dos dois maiores acidente aéreos do país, juntamente com a greve dos controladores de vôo, na qual fez questão de punir exemplarmente. Ainda conta a disponibilização de contingente para as operações de ocupação dos morros contra a população pobre e negra fluminense. Uma reivindicação que dá mostras a que veio. Assim espera Dilma, ao ter "certeza de que ele vai prosseguir no trabalho importante realizado pelo ex-ministro Jobim e vai acrescentar um reforço especial”.

Mas para além das reivindicações, Amorim tem seu próprio currículo a serviço da burguesia brasileira. Fez parte da equipe ministerial do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, quando ocupou o ministério das Relações Exteriores, cargo que já havia ocupado no governo Itamar (1992 e 1994). Esteve à frente da ocupação brasileira no Haiti, como serviçal da ONU e do Imperialismo para barganhar um assento no Conselho de Segurança da ONU. Em sua própria propaganda de seu currículo afirma que “o Brasil sempre foi atuante nas relações internacionais. É o país fora dos membros permanentes que mais vezes serviu no Conselho de Segurança”. Seja continuando o legado de Jobim ou resgatando seu histórico recente, Amorim está bem preparado para servir a burguesia contra os trabalhadores.

Nos últimos dias, Amorim tem afirmado a necessidade de pensar em uma saída estratégica do Haiti, para não perder o ritmo dos tempos e ficar para sempre, nem acabar saindo precipitadamente. Enquanto reprime e massacra cotidianamente o povo haitiano, a burguesia brasileira treina suas tropas e aprende para reprimir a população pobre e negra dos morros, de forma cada vez mais acentuada com a preparação para a Copa e os Jogos Olímpicos. São esses interesses que Jobim está preocupado em defender estrategicamente. Mais que pedidos, precisamos armar os sindicatos, organizações de esquerda e de direitos humanos para colocar de pé uma ampla campanha pela imediata retirada das tropas brasileiras do Haiti e dos morros e favelas.

Inimigo íntimo: estranhamento entre governo e militares

Nem assumiu a pasta e o nome de Amorim já gerou descontentamento. Enquanto PMDB ainda não se pronunciou sobre a perda nem do ministro nem da cota, os militares rapidamente mostraram sua insatisfação. A relação desses com o agora ex-ministro provem de tempos: foi um dos principais articuladores da transição negociada e da constituinte de 1988, como o próprio Jobim confirmou sua responsabilidade nas alterações para acordar os interesses entre patronal e militares. Atuou como grande sustentador do pacto de impunidade em relação aos crimes da ditadura. Esteve na linha de frente no governo FHC na elaboração da Lei dos Desaparecidos Políticos que considerou os mortos, simplesmente "como mortos", quando não pudesse comprovar sua existência ou apresentar os corpos. Desse legado lhe provem a confiança dos militares, inclusive das garantias necessária para frente ao debate nacional que se abriu pela abertura dos arquivos da Ditadura e para a implementação da Comissão da Verdade, se colocar como negociador para manter intactos os pactos e interesses militares, dentre esses, a própria lei da Anistia que isenta os militares de seus crimes e permite que muitos continuem a participar das instâncias de poder e do próprio governo.

Com a troca, os militares se preocupam que Amorim não tenha a mesma disposição de manter os acordos, enquanto a esquerda petista ligada aos direitos humanos se preocupa com a possibilidade do novo ministro, para mostrar disposição ao descontentes militares, retroceda ainda mais nas tímidas e controladas medidas de abertura dos arquivos e de instauração da Comissão da Verdade.

Enquanto a luta democrática pelo acesso aos arquivos da ditadura e pela punição dos torturadores e assassinos ficar restrita aos gabinetes nas mãos desse governo cúmplice da continuidade da impunidade ou em instituições de direitos humanos a ele subordinados, será uma quimera. O segredo quanto ao passado ditatorial e a não punição de seus assassinos está completamente associada a pilastras dessa democracia dos ricos, cada vez mais carcomida. A Luta pelo direito à verdade e à justiça passa inevitavelmente pela luta contra essa falsa democracia e pela luta independente dos trabalhadores.

A sujeição e a relação intrínseca do governo com esses setores direta e indiretamente provenientes da ditadura fazem-se cada vez mais visíveis. Mesmo com os acordos e concessões, a relação entre Amorim e as Forças Armadas parte de uma base já estremecida, sendo um fator a mais nos possíveis elementos de crise do governo.

O avanço das expressões de uma instabilidade estrutural

O governo Dilma não só perdeu dois de seus principais quadros (Palocci e Jobim), como a queda de mais um ministro vem num momento em que o governo Dilma se vê cercado de novas fontes de instabilidade, dentre elas, os casos de corrupção envolvendo seus ministérios. A dita “faxina”, se por um lado conseguiu preservar Dilma dos escândalos, por outro, mostrou a debilidade do governo nem aplacar novos escândalos; não desviou as atenções e investigações nos casos de corrupção envolvendo o Ministério dos Transportes, e novos casos vêm submergindo, deixando ainda em aberto a extensão que pode alcançar e, inclusive, envolver outros ministérios.

Os casos de corrupção atingem agora o Ministério da Agricultura, com esquemas de favorecimento, propina e apadrinhamento de cargos fantasmas. Só que quem comanda a pasta dessa vez é o principal partido da base do governo, o PMDB. Dilma dificilmente adotará a mesma medida de rifar setores como fez com o PR, pois sabe que essa medida abrirá uma crise no governo. Ao mesmo tempo em que tomar uma atitude passiva com o PMDB vai descontentar a opinião pública e os outros setores que compõem a base do governo.

Nesse cenário bastante complicado, a queda de Jobim, como figura chave não somente do governo, mas também do regime, pode ser um salto de qualidade para aprofundar esses elementos de crises internas e pode fazê-los ganhar maiores expressões para fora.

Mesmo frente esses fatores crescentes de instabilidade o governo vem conseguindo aparentemente evitar a expressão de uma crise mais aguda, ao mesmo tempo que Dilma faz-se aparecer para a classe média e a grande mídia como uma pessoa que combate a corrupção, mantendo sua popularidade. Isso graças ainda a sustentação que lhe fornece os bons ventos da economia, porém, anuncia ser uma situação bastante conjuntural frente às expressões que ganham força da crise estrutural que existe em sua base de apoio, que tendem a se agravar e a ganhar maiores expressões com a proeminência de esgotamento desse sustentáculo econômico do governo com a crise mundial. Essa que na ultima semana abalou os burgueses brasileiros mais otimistas, expressando na queda do Bovespa (umas das piores do mundo, com acumulo de queda anual de 23,8%) toda a fragilidade e dependência da economia brasileira. O governo que parecia navegar em águas tranqüilas, já sente o agito da tempestade, e percebe que o casco do barco mostra, cada vez mais, sua fragilidade.

Desde o ponto de vista da política e as crescentes contradições que se acumulam, os trabalhadores e a juventude também precisam se preparar a mudanças na situação e desde já exigir dos sindicatos uma resposta à altura a recorrentes crises de corrupção: uma campanha pela investigação independente dos casos conduzida por órgãos de direitos humanos, intelectuais, sindicatos, e confisco dos bens de corruptos e corruptores.

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