Sexta 3 de Maio de 2024

Movimento Operário

Sintomas de recomposição do movimento operário e a luta pela independência de classe

07 Jun 2007   |   comentários

No dia 1º de junho último, a maioria dos operários da CSN (Companhia Siderurgica Nacional) votou entrar mais uma vez em greve por reivindicações salariais. A votação foi dividida e realizada em urna para impedir a repressão aos operários. Apesar disso, esta greve está indicando uma mudança inicial no estado de ânimo dos trabalhadores brasileiros e em particular do proletariado industrial. Que setores que foram profundamente atacados pelos planos neoliberais, como os operários das empresas privatizadas comecem a se movimentar novamente, confirma isso.

Os operários da CSN protagonizaram uma grande greve em 88, na qual três operários foram assassinados e mesmo depois disso, se enfrentando com o próprio exército, mantiveram sua greve e conquistaram uma vitória. Mas com a privatização nos anos 90, o número de operários foi reduzido de cerca de 30 mil para cerca de 8 mil. A organização sindical desse combativo proletariado foi desmantelada.

E não somente os operários da CSN estão se mobilizando. Em todo o país, desde o inicio do ano, importantes categorias voltam a protagonizar greves. Os operários da construção civil em vários estados, trabalhadores dos transportes públicos, inclusive trabalhadores terceirizados da Petrobras, e de importantes metalúrgicas. O caso dos terceirizados também é sintomático, pois estes são parte dos setores de trabalhadores que mais foram prejudicados com os planos neoliberais e os que têm menos direitos sindicais. As passetas do dia 23 de maio foram um marco, pois em todo o país centenas de milhares de trabalhadores responderam ao chamado das centrais sindicais e realizaram mobilizações contra a retirada de direitos e por aumento salarial.

Nossa luta por uma política de classe

Nesse marco de recomposição inicial do movimento operário, a tática de frente única operária e de desmascaramento da direção da CUT, através de denúncias e chamados à unidade é fundamental. O PSTU até agora tem se recusado a impulsionar uma política assim. Por isso é tão importante a declaração de Mancha (um dos principais dirigentes sindicais do PSTU e da Conlutas) ao jornal do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. Ele afirma que “a Conlutas deve chamar a CUT a romper com o governo Lula e organizar efetivamente a luta contra as reformas” . Só podemos apoiar o chamado de Mancha e lançá-lo como exemplo para o conjunto do PSTU, esperando que realmente seja implementado e não fique em palavras.

No entanto, é preciso alertar que o PSTU segue sem ter uma clara política de independência de classe e é por isso que, no momento em que Mancha chama a CUT a romper com o governo e colocar de pé a frente única operária para enfrentar-lo, como nos vinhamos exigindo-lhe na Conlutas, mostra sua outra cara oportunista, que é o contrário da política sectária, que vinha mantendo até agora, de se negar a ter uma política de frente única. No dia 23 de maio a Conlutas marchou junto com a CUT, não só em defesa dos direitos dos trabalhadores, mas também marchando “contra a política económica do governo” . Como sabemos esta é uma demanda de importantes setores burgueses que exigem a redução dos juros, a desvalorização cambial e maiores investimentos e incentivos fiscais para a indústria. Ao misturar suas bandeiras com as da CUT nesta importante questão programática, o PSTU deixa de travar uma real batalha pela independência de classe nos atos de frente única com a CUT.

A luta pela independência política do movimento operário vai ter no próximo período uma importância estratégica fundamental. A negação estéril da tática de frente única e a declaração de princípios em defesa da independência de classe, rompendo com a CUT, por exemplo, ou se negando a políticas de frente única, nada mais é do que a recusa sectária deste princípio, que só pode ser realmente posto em prática através da luta política no interior das organizações e mobilizações operárias. Isso fica provado agora, quando a realidade obriga o PSTU a realizar atos unificados com a CUT e se nega a travar uma luta aberta contra as políticas que amarram o movimento operário à burguesia. Ainda é tempo para que a Conlutas reveja sua política e realize sistematicamente exigências de frente única à CUT, mantendo a luta pela independência política dos trabalhadores. Essas exigências não podem se resumir a declarações, mas devem ser materializadam em propostas concretas de unidade na ação, reuniões, assembléias, plenárias e ações combativas que mobilizem as bases dos sindicatos da CUT juntamente com as bases da Conlutas, porque o objetivo da frente única é precisamente obrigar as direções a mobilizar e unificar os trabalhadores para a luta, e não apenas firmar acordos entre as cúpulas.

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