Segunda 29 de Abril de 2024

Movimento Operário

Vº Congresso Estatutário do Sintusp

PARA QUE NOSSO COMBATIVO SINDICATO AVANCE NO CLASSISMO

16 Nov 2009   |   comentários

Na próxima semana, dias 11, 12 e 13/11 ocorrerá o Vº Congresso Estatutário dos trabalhadores da USP, que tem por objetivo reavaliar os mecanismos organizativos de direção da entidade e, o fundamental, sua organização e orientação política. A partir de uma compreensão comum da conjuntura nacional e internacional e também da experiência conjunta que tivemos ao longo da greve deste ano e na campanha expressa na candidatura de protesto do professor Chico de Oliveira no segundo semestre, nós da LER-QI, junto aos companheiros do Coletivo Piqueteiros e Lutadores, com apoiadores independentes, apresentamos teses em comum. Além disso, iremos apresentar modificações no estatuto que entendemos ser primordiais para que o Sintusp avance no seu caráter classista. Nesse artigo reproduzimos em parte o conteúdo dessas discussões.

Resgatar a tradição internacionalista da classe operária

É imprescindível que discutamos nesses dias com quais estratégias nos armamos para enfrentar o próximo período. A maior crise capitalista internacional dos últimos 70 anos continua descarregando sobre as costas dos trabalhadores mais demissão e retirada de direitos e a burguesia nacional e internacional se utiliza dela para usurpar nossas riquezas através do controle das maiores empresas do país, em aliança com o governo Lula. As direções sindicais oficiais estão amplamente cooptadas pelos cargos e verbas do governo e da patronal e continuam aceitando migalhas para os trabalhadores e permitindo os ataques.
O Brasil ainda se utiliza das vantagens conjunturais da exportação de comodities para a China e da atração de capitais internacionais pelos altos juros que oferece nosso país, mas ninguém pode acreditar que a crise internacional que explodiu em setembro do ano passado no coração dos Estados Unidos esteja resolvida e, tampouco, que o nosso país esteja blindado. O aumento do desemprego e quebras de novos bancos nos Estados Unidos mostram a verdadeira cara da crise, ainda que estejamos vivendo no Brasil uma recuperação económica e um boom de consumo baseado no IPI e na base de créditos. Temos que nos preparar para um acirramento da crise que os capitalistas descarregam em nossas costas, começando pelos setores mais pobres e explorados de nossa classe e nossos aliados da cidade e do campo. Assim como se preparam as patronais, seus governos e o imperialismo, os trabalhadores também temos que nos preparar para impedir mais ataques.
Vamos defender que o Sintusp tenha uma prática militante com os demais setores da nossa classe e de nossos aliados populares, mas também de internacionalismo ativo, com nossos irmãos em todos os países em que o proletariado e os povos já começam a dar exemplos importantes de luta. Foi com esta convicção que nós, junto com companheiros independentes, nos solidarizamos com os trabalhadores argentinos de uma das maiores multinacionais de alimentos do mundo, Kraft Foods (EUA), que ocuparam a fábrica e cruzaram os braços por meses contra a demissão de mais de 100 ativistas da comissão interna da fábrica que lutavam pelo direito a organização sindical.
Queremos que o nosso sindicato esteja na linha de frente desenvolvendo a solidariedade ativa em lutas como esta, que continuarão ocorrendo contra os efeitos da crise.
Neste mesmo sentido, entendemos que é fundamental que os trabalhadores nos organizemos contra a submissão imperialista contra as guerras do oriente, a intervenção militar no Haiti encabeçada pelo governo Lula, contra o golpe em Honduras e agora na denúncia da transição pactuada com os golpistas que esmagam a heróica resistência dos trabalhadores e do povo nas ruas, ou a nova instalação de mais sete bases militares permanentes na Colómbia. É urgente levantar um programa antiimperialista e um plano de emergência para que a crise seja paga pelos capitalistas que contam com as burocracias sindicais colaboracionistas de cada país.

Nossas propostas para avançar em um sindicato classista e militante

Nós entendemos que é necessário aprofundar ainda mais os acordos progressivos que chegamos até agora, e propomos emendas estatutárias baseadas nos princípios do classismo.
É fundamental que nosso sindicato combativo, que é uma referência para várias categorias e um dos primeiros a se filiar à Conlutas, esteja também na linha de frente mostrando o caminho para romper com o modelo de sindicalismo predominante no Brasil, moldado pela forma petista de militar das datas bases e que condicionam a luta de classes a um sindicalismo de pressão. Nosso sindicato tem que deixar bem claro que nos baseamos na luta de classes, que não aceitamos a ingerência do estado em nossa organização e que reivindicamos a liberdade das tendências que defendem a causa dos trabalhadores, lutamos pela total independência política de todos os partidos patronais. Queremos ser uma referência na luta contra a burocracia sindical, agente dos patrões nas fileiras operárias. Para isso, vamos propor medidas que levem a um maior controle e participação da base da categoria.
Vamos propor que os representantes do conselho diretor de base (CDB) sejam eleitos não somente por sócios do sindicato, mas por todos os trabalhadores da unidade, como forma de aumentar a representação dos cdebistas, e que estes tenham mandatos de suas bases e possam ser revogados por maioria simples de uma assembléia da unidade que o indicou. Propomos também a rotatividade entre os diretores liberados no sindicato, a cada 3 anos, e que as assembléias sejam a máxima autoridade do sindicato, como forma dos trabalhadores saberem e participarem de todas as medidas políticas tomadas pelo sindicato.
Consideramos muito importante os chamados de coordenação feitos a partir da greve dos trabalhadores da USP aos companheiros de outras categorias como a Sabesp, Metró, Professores e outros setores a nos organizar para preparar dia a dia os próximos passos de nossa luta e é também neste sentido que nós da LER-QI juntamente com companheiros independentes de outras categorias lutamos para por de pé uma CORRENTE de TRABALHADORES que lute no interior da Conlutas para que esta seja verdadeiramente uma coordenação de sindicatos, oposições e movimentos sociais, combativa e militante. Queremos que nosso sindicato encabece esta tarefa.

Com estas idéias, longe de encerrar o debate e as reflexões que apresentaremos de maneira mais completa e aprofundada nas teses do congresso, esperamos contribuir para que o Vº Congresso Estatutário dos Funcionários da USP seja um momento em que não nos percamos nos aspectos apenas organizativos do Sintusp, mas possamos refletir profundamente sobre que tipo de organização sindical necessitamos para levar a frente as tarefas decorrentes da greve que realizamos no 1º Semestre assim como para que os trabalhadores brasileiros estejam à altura das tarefas que a luta de classes poderá abrir no próximo período.

Moção especial

Nossa classe deu um grande exemplo a nossos irmãos continentais, construindo o maior partido de trabalhadores até agora conhecido. Esse partido que surgiu das lutas operárias contra a ditadura nos anos 70, e foi votado numa assembléia metalúrgica com 5.000 operários, hoje governa à serviço dos capitalistas. A direção reformista encabeçada por Lula, depois de ter traído a greve dos metalúrgicos dos anos 80 e evitado a queda da ditadura pela ação das massas, conquistou a direção do partido e conseguiu coloca-lo como parte do regime da transição pautada, para a disputa eleitoral.
Os trabalhadores conscientes temos que aprender dessa experiência e tirar as lições necessárias. Mas a tarefa de construirmos nosso próprio partido ainda está pendente. Os patrões têm suas organizações políticas e instituições para nos dominar, nós precisamos do nosso instrumento para derrubá-los.
Queremos propor como moção ao congresso, que nosso sindicato abra um debate aberto das organizações combativas e da esquerda, sobre a necessidade dos trabalhadores construirmos uma ferramenta política.

A luta pela democracia na universidade e contra a repressão

A partir do Sintusp avançamos na conformação de um programa para a democratização da universidade, expresso na candidatura de protesto do professor Chico de Oliveira, que para nós se estende também ao fim do vestibular e a estatização de toda a rede privada de ensino. Esse é apenas um primeiro passo na luta que levaremos adiante pois os governos já anunciaram cortes nos investimentos dos serviços públicos e nas campanhas salariais de 2010, e na universidade não será diferente, aumentando cada vez mais a precarização do trabalho, como está ocorrendo neste momento com a terceirização do restaurante da Faculdade de Direito. Neste momento em que estamos diante de mais uma farsa eleitoral, a burocracia acadêmica e a reitora Suely Vilela preparam o terreno para o nosso próximo carrasco “amansando” uma parcela dos trabalhadores com um prêmio “cala boca” para continuar castigando duramente os lutadores do nosso sindicato impunemente. Os reitoráveis anunciam em seus planos uma política de negociação em paralelo ao sindicato apostando no enfraquecimento de nossa ferramenta de luta.
Neste cenário será uma questão de vida ou morte para o SINTUSP fortalecer sua capacidade de mobilização aprofundando cada vez mais sua relação com os trabalhadores efetivos e terceirizados e, ao mesmo tempo, lutar para nos unificar com os setores combativos de outras categorias que também sofrem sob a bota dos governos estadual e federal, assim como com os setores estratégicos da produção que podem fazer tremer os lucros capitalistas.
Os próximos anos serão um teste à nossa força e à nossa capacidade de organização e somente avançando na união das fileiras de nossa classe e tomando como nossas as demandas dos demais setores que se levantam a lutar conseguiremos reunir as condições necessárias para derrotar esta sociedade de exploração e por isso devemos avançar mais no classismo e por um sindicato militante.

Artigos relacionados: Movimento Operário , São Paulo Capital









  • Não há comentários para este artigo