Segunda 13 de Maio de 2024

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Os países semicoloniais e dependentes fortemente golpeados

11 Oct 2008   |   comentários

Pela primeira vez desde que começou a crise financeira, os países semicoloniais e dependentes sentiram com toda a violência o impacto da crise. Este impacto já estava sendo anunciado com a queda das exportações aos países centrais e o endurecimento das condições creditícias nos mercados internacionais de dinheiro, mas esta semana estourou com força.

Os preços do petróleo, grãos e os metais industriais caíram vertiginosamente, registrando uma de suas maiores baixas em meio século. Este giro brusco no preço das matérias primas provocou uma retirada massiva de fundos, disparando corridas acionarias na América Latina, na à sia e na Europa do leste. O índice acionário MSCI dos mercados emergentes teve, na segunda-feira, uma queda de 11%, a mais importante desde 1987. A Rússia suspendeu seu mercado de ações depois que o índice Micez de Moscou caiu 19%, sua maior queda em um dia desde o default da dívida soberana em 1998. Na América Latina, os mercados acionários tiveram seu pior dia desde a crise russa em 1998 como conseqüência da queda do preço mundial das matérias primas e da fuga de capitais à "qualidade" dos títulos do Tesouro norte-americano. O Brasil teve que suspender em várias oportunidades as operações acionárias frente ao desmoronamento do índice Bovespa. Além disso, o dólar teve sua maior disparada em um dia desde a desvalorização do real em 1999, que terminou de mergulhar a Argentina na recessão, antes do colapso da convertibilidade... Tudo indicaria que o Brasil, que nos últimos anos recebeu um importante ingresso de capitais, possa sofrer uma "seca" financeira, que se fará sentir, provavelmente, no âmbito social. Os países da América Central e do Caribe também estão afetados pela diminuição do comércio com os Estados Unidos e a queda das remessas. O futuro do México também se complica por motivos iguais, além da queda dos preços do petróleo.

O dólar australiano, a moeda guia dos países produtores de matérias primas, entrou em uma débâcle caindo 9,7% contra o yen, na maior queda diária de sua história, enquanto os investidores japoneses se desfaziam dos títulos australianos e brigavam para fechar suas apostas nas economias com investimentos arriscados de alto rendimento ("high yield"), prática conhecida como "carry trade". O preço do petróleo Brent caiu a 85 dólares o barril, um descenso de 40% comparado com o mês de julho. Os que até há pouco tempo falavam das bondades das economias emergentes mudaram abruptamente de discurso e dizem que, na verdade, isso foi uma ilusão causada pelo dinheiro fácil da expansão creditícia.

A China pode ser uma próxima vítima. Logo se fará sentir a enorme sobreacumulação de capital e a superprodução de mercadorias, pensadas para um mercado mundial em expansão. O que tem começado na esfera de finanças se alastrará em breve à economia real (o que por sua vez pode retro-alimentar a débâcle financeira e vice-versa). Enquanto isso, a China tentará ganhar tempo exportando agressivamente a outros mercados como forma de descarregar seus excedentes, uma vez que irá impor duros termos de intercambio a seus provedores de matérias primas, que ilusoriamente pensavam que iam se salvar com sua expansão ilimitada. Os apologistas de Pequim, como o sociólogo Giovanni Arrighi e suas falácias da "...possível organização de novos modelos de acumulação e crescimento económico mais respeitoso com os equilíbrios sociais, ecológicos e humanos" também serão desmentidos tanto a nível interno, se ao calor da desaceleração económica crescem as tensões e lutas sociais, como no exterior, com o endurecimento aos demais países da periferia capitalista.

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