Quinta 2 de Maio de 2024

Internacional

México: Frente à armadilha da negociação e a chantagem da repressão

Oaxaca na encruzilhada

10 Oct 2006   |   comentários

Após vários meses de luta, o regime pressiona por uma saída para o conflito de Oaxaca. Com a chantagem da repressão, busca impor uma negociação com os setores conciliadores da direção da Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO), colocando em uma encruzilhada esta heróica luta. Se o governo de Vicente Fox não adotou até agora a saída repressiva (a qual responderia a necessidade de "limpar o caminho" para o novo governo de Calderón), é porque enfrentaria um movimento de massas disposto a resistir, o que poderia levar a uma insurreição generalizada com conseqüências imprevisíveis a nível estatal e repercussões em outros estados. Poderia trazer à tona também um ressurgimento do movimento democrático contra a fraude eleitoral. Isto é ainda mais concreto considerando que a marcha chegou ao Distrito Federal. Neste contexto uma repressão generalizada evidenciaria, além disso, o PAN como repressor, aprofundando a crise nacional e do regime. A luta do valoroso povo oaxaquenho, acumula lições importantes na luta de classes a nível nacional.

Por outro lado, Fox tem se mantido, até agora, firme em não ceder à demanda de Fora Ulises Ruiz! (URO) devido ao fato de que sua queda poderia converter-se em um exemplo para as massas de todo o país. Por isso que, ainda que setores do regime proponham que URO seja colocado à margem como via para enfraquecer o movimento, a política predominante busca debilitar a Comuna sem conceder a queda de URO. Sustentar URO lhes permite preservar pactos e acordos que tem com o PRI no Congresso, necessários para que o governo de Calderón goze de certa estabilidade e avance nos planos contra as massas. Esta política provoca brechas no regime, onde o PRD aproveita para se relocalizar como "opositor", ao mesmo tempo em que busca fortalecer os setores mais conciliadores e pactuados da direção da APPO, para conter as tendências mais radicalizadas e que se aceite uma "solução" nos marcos institucionais. Se esta luta for levantada e se mantém URO, este receberá duramente as ofensas que ofereceu o povo trabalhador.

A política do governo busca, diante da chantagem e do ultimato de uma possível entrada da Polícia Federal Preventiva e do exército, impor uma negociação que não resolve as demandas e enfraquece o movimento. De forma surpreendente, setores da direção da APPO e da Seção XXII da CNTE (professores) aceitaram as "propostas" da Secretaria de Governo, acordando na mesa de negociação do Distrito Federal a entrega de Oaxaca a "custodia" da política municipal e estatal e que a renúncia de URO se discuta e se resolva no Congresso da União. Ao fim desta edição, a comissão de Governo do Senado anunciava a viagem de uma comissão à Oaxaca, com a clara intenção de pressionar para uma saída "institucional". É evidente que esta "saída" é uma armadilha que nem sequer resolve a demanda do Fora URO! A comissão negociadora aceitou submeter à consulta entre as bases o que antes foi rechaçado pela assembléia da APPO.

Este acordo vai contra as resoluções da APPO, que rechaçou a proposta que "incluía a destituição de funcionários, o ingresso da Polícia Federal Preventiva (PFP) à cidade para realizar tarefas de vigilância, e aceitar que uma comissão de integrantes da sociedade civil, seja parte do diálogo com a assembléia." (Notícias de Oaxaca), ratificando a demanda da saída de URO. Além disso, a comissão negociadora utilizou mal o "voto de confiança" que havia pedido à Assembléia no fim de semana passado, pelo qual lhes permitia acordar para discutir depois nas bases, contrariando totalmente em sua negociação o espírito de luta.
Está por ver qual será a resposta das bases combativas, que até agora tem rechaçado em várias ocasiões as propostas de certos setores da direção de acabar com a luta, por uma negociação desfavorável. No caso destes acordos se imporem, significaria a entrega da Comuna de Oaxaca às forças do Estado, como parte da política dos setores mais conciliadores da direção da APPO e da Seção XXII.

Um programa para triunfar

Frente ao perigo que traz esta política, que pode levar a entrega do movimento, desde a LTS-CC estamos propondo uma série de medidas políticas para que triunfe a Comuna de Oaxaca, e para que as organizações que nos reivindicamos socialistas, juntos aos trabalhadores, jovens e mulheres combativas de Oaxaca, às proponhamos à APPO. Em primeiro lugar, achamos que, frente à ameaça da intervenção federal, é necessário impulsionar uma grande marcha em Oaxaca que ponha um fim a toda ameaça repressiva, demonstrando a disposição do povo oaxaquenho a defender sua comuna e enfrentar as incursões militares. É preciso organizar uma grande greve geral política em todo o estado (algo que os sindicatos não fizeram ainda), para que a força dos trabalhadores do setor energético, da saúde, do turismo, da construção e das distintas indústrias, juntos ao magistério, sejam a ponta de lança para dar o golpe de misericórdia ao governo de URO.

Os trabalhadores e o povo oaxaquenho, encabeçados pela APPO e pela Coordenadoria de Mulheres Oaxaquenhas (COMO), só podem confiar em suas forças para impor suas demandas, e por elas devem enfrentar a armadilha e as manobras na mesa de negociação. Por isso, a luta pela queda de URO não deve acabar aí: a solução para as demandas operárias e populares não virá da mão de outro político burguês nem da "democratização" das instituições do apodrecido regime estatal. É preciso lutar para que se vá URO e impor um Governo Provisório da APPO e das demais organizações operárias, camponeses e populares em luta, e que sejam os trabalhadores e seus aliados da cidade e do campo quem o tomem em suas mãos, tornando concreta a idéia de "tomar o céu de assalto". Este governo operário e popular, ao invés de confiar em que os representantes dos capitalistas e latifundiários venham "democratizar" suas instituições (como o Senado), teria que convocar uma Assembléia Constituinte revolucionária onde as grandes maiorias discutam como tornar realidade suas reivindicações mais sentidas.

A diferença de quem quer limitar a luta a uma troca da pessoa política do governo, e transformar a APPO em um novo partido político nos marcos do atual regime, consideramos que para lutar pelo poder para os explorados e oprimidos do Estado, é fundamental que a APPO, que hoje agrupa as distintas tendências e direções sindicais políticas, sociais, e de mulheres, se transforme em um organismo baseado em delegados eleitos nas comunidades, bairros e centros de trabalho, com mandato de base (com caráter revogável), no qual se decida de forma democrática - depois de ser amplamente informados - todos os passos a seguir. A APPO deve incorporar democraticamente os trabalhadores de todo o estado e os representantes das comunidades.

Nós acreditamos que é imprescindível que na APPO se expressem com voz e voto aqueles que sustentam de fato o poder da Comuna, a "primeira linha" que tem evitado a ocupação da polícia e do exército na cidade: as barricadas e os corpos de autodefesa, baseados na força e na disposição à luta de uma ampla base combativa. É necessário que as centenas de barricadas enviem seus representantes à APPO, e que então se estabeleça uma coordenação que integre todos os destacamentos de autodefesa, no qual se defina democraticamente os passos a seguir. Da mesma forma, as organizações que seguem a estratégia militarista deveriam colocar-se a serviço dos organismos democráticos de autodefesa e subordinar-se a suas decisões. Estas medidas são fundamentais para defender a Comuna frente uma eventual intervenção, e para coordenar e centralizar os destacamentos de autodefesa, com o objetivo de preparar a greve geral política em todo o Estado, que abra o caminho a uma verdadeira insurreição dos explorados e oprimidos e o estabelecimento de um verdadeiro poder operário e popular em Oaxaca.

É urgente que os sindicatos (o SME, a UNT, a CNTE) assim como as organizações da "outra campanha", convoquem urgentemente uma paralisação nacional em solidariedade e uma grande mobilização no Distrito Federal e nas principais cidades do país, para colocar fim à repressão e em defesa da solução das demandas da APPO, assim como impulsionar uma coordenação nacional em apoio a Oaxaca, colocando todos seus recursos políticos e materiais.

O violento desalojamento de 14 de junho, nossos presos políticos, os companheiros torturados e assassinados e o heroísmo das massas nas barricadas, obrigam a não realizar nenhum acordo com o governo que vão contra as demandas centrais do povo oaxaquenho. Viva a Comuna de Oaxaca!

A Liga de Trabajadores por el Socialismo – Contra Corriente (LTS-CC), é a organização irmã da LER-QI no México, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

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