Quinta 2 de Maio de 2024

Internacional

De Oaxaca: Entrevista com Mario Caballero

A Comuna de Oaxaca resiste

10 Oct 2006   |   comentários

O povo de Oaxaca se mantém em pé na luta, enquanto o governo ensaia distintas saídas possíveis, ainda que todas lhe impliquem custos políticos. O Senado afinal não votou o “desaparecimento de poderes” , uma saída apoiada por vários setores como solução institucional ao conflito. Isto mostra que os distintos setores do regime não chegam a um acordo: retirar Ulises Ruiz ou derrotar a luta mediante o desgaste ou a repressão. Entrevistamos Mario Caballero, dirigente da Liga de Trabajadores por el Socialismo ’ Contracorriente, membro da Fração Trotskista ’ Quarta Internacional, que se encontra em Oaxaca.

Palavra Operária: Depois de quatro meses de conflito em Oaxaca e das mobilizações contra a fraude, qual é a situação atual do país?

Mario Caballero: Em nível nacional, a imposição de Felipe Calderón como presidente mediante a fraude não pós fim à crise política, apesar de ter enfraquecido (por responsabilidade de López Obrador e do PRD) o enorme movimento democrático surgido contra a fraude eleitoral de 2 de julho. Isto se vê na persistência da luta do povo oaxaquenho, mas também nas disputas no interior do regime, e na relocalização do PRD frente a este conflito: que no principio apoiou Ulises Ruiz (URO) por meio da ação de seus quatro governadores e dos senadores locais, e agora exige sua renúncia. O governo de Calderón, ainda que ilegítimo frente a importantes setores, tentará impor seus planos, para os quais quer preservar os acordos com o PRI, já que deverá enfrentar novas ações de resistência e luta do movimento operário e popular. A ação de setores do movimento operário, junto com a incorporação de velhos métodos de luta como a greve, as barricadas, o surgimento da APPO como frente única de organizações e as massas em luta, a existência da comuna baseada em seu poder territorial, mostram que assistimos a um salto na subjetividade proletária do movimento de massas.

PO: Conte-nos como é a situação em Oaxaca e quais discussões se abriram na APPO em torno das propostas do governo.

MC: Nos últimos dias, enquanto avança a tentativa de enfraquecer a Comuna de Oaxaca na mesa de negociação, aumentaram a tensão política, as agressões e os ataques contra a vanguarda, como mostrou o ataque às barricadas no dia 14 de outubro, no qual assassinaram um companheiro (ao todo já são oito mortos). Isto se combina com o ultimato do Ministério do Interior lançado durante o fim de semana para que os professores regressem às aulas, e a constante chantagem da repressão. Apesar disto, e das tentativas de setores da direção para acabar com a luta, não há desmoralização nas massas.
Estas tentativas de acabar com a luta se materializam na proposta de retorno às aulas do dirigente magisterial Rueda Pacheco, que perdeu por 79 votos na assembléia da CNTE (sindicato de professores); sobre este tema está se realizando uma nova discussão e votação esta semana. Na assembléia da APPO de 16/10 se expressaram tanto os setores conciliadores, como aqueles que estão por manter a luta até que caia URO. Os setores conciliadores tentaram impor uma saída desfavorável, como o SERAPAZ (organismo de direitos humanos) que propõe uma trégua de 100 dias, como uma licença de URO durante esse período, a entrega da cidade a um comitê civil e que as forças federais se encarreguem do comando da polícia, o que desativaria a mobilização e criaria um refluxo do movimento. Por outro lado, existe um importante ânimo na vanguarda, para manter e garantir o funcionamento das barricadas, se mantêm a atividade dos meios de comunicação e a guarda no centro da cidade. Tanto em Oaxaca como no acampamento instalado no Distrito Federal, existem importantes setores que se opõem a uma saída desfavorável, que não contemple a demanda básica da renúncia de URO.
Junto a isto, estão acontecendo processos interessantes entre os trabalhadores, como na Universidade Benito Juarez, que tinham uma “representação” na APPO através do Secretário Geral de seu sindicato. Se realizou uma assembléia na semana passada, a pedido das bases, da qual participaram cerca de 300 trabalhadores (uma parte importante deles trabalha na universidade) na qual se votou uma comissão de 5 delegados que participe da APPO, e se discutiu em torno das próprias reivindicações. Ao mesmo tempo que se desenvolveram elementos de auto-organização, se deram também fenómenos de questionamento das direções sindicais.
Enquanto isso, continua o combativo acampamento na cidade do México, onde integrantes da APPO, que chegaram de caravana ao Distrito Federal, iniciaram uma greve de fome, e se prepara uma mobilização para o sábado dia 21 de outubro. Estes novos setores da vanguarda e da base que estão nas barricadas, na caravana e no acampamento, são os que sustentam a luta e enfrentam a política conciliadora de setores da direção.
Nós da LTS-CC estamos participando do acampamento, solidarizando-nos, difundindo a luta da APPO e suas lições entre os trabalhadores e a juventude.

PO: Que medidas são necessárias neste momento decisivo para a luta de Oaxaca?

Nós vemos que a nova onda de provocações e ataques atualiza e torna mais concreta do que nunca a necessidade de coordenar e centralizar a autodefesa, é que as barricadas se incorporem à APPO com seus delegados rotativos e revogáveis e se reorganize a segurança. Ao mesmo tempo vemos que se faz cada dia mais urgente superar o isolamento da luta da APPO. Reiteramos que é vital para o triunfo das demandas do povo oaxaquenho rodear de solidariedade nacional e efetiva sua luta, impulsionar uma ação unificada e nacional para que Oaxaca triunfe. Como viemos dizendo, acreditamos que os sindicatos (em primeiro lugar os que são opositores, como o Sindicato Mexicano de Eletricistas, a União Nacional de Trabalhadores, a própria CNTE) assim como as organizações da “Outra Campanha” , convoquem urgentemente uma paralisação nacional em solidariedade e uma grande mobilização no Distrito Federal e nas principais cidades do país, exigindo o fim da repressão e a solução para as demandas da APPO, impulsionando uma coordenação nacional em apoio a Oaxaca.

Para entender o conflito:

URO: Ulises Ruiz Ortis é o governador do estado de Oaxaca. A APPO e o povo oaxaquenho pedem sua renúncia. É membro do PRI.
PRI: Partido da Revolução Institucional. Governou o México durante mais de 70 anos, até 2000 quando ganhou o PAN.
PAN: Partido Ação Nacional. Seu candidato Felipe Calderón foi imposto como presidente mediante a fraude nas últimas eleições.
PRD: Partido da Revolução Democrática. López Obrador foi seu candidato presidencial, denunciou a fraude e encabeçou as mobilizações no Distrito Federal.
APPO: Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca. Nela se reúnem professores, trabalhadores e o povo de Oaxaca.
CNTE: Coordenadoria Nacional de Trabalhadores da Educação, sindicato de professores. A Seção XXII encabeça a greve dos professores de mais de quatro meses em Oaxaca.

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