Sexta 10 de Maio de 2024

Internacional

O que significa a queda das Bolsas

05 Jun 2006   |   comentários

Desde 2003 a economia mundial vinha crescendo fortemente. Os Estados Unidos, atuando como grande comprador em última instância e a China como “oficina manufatureira mundial” , deram lugar a um “círculo vicioso” de crescimento a nível global ’ incluindo os produtores de matérias-primas, como os latino-americanos ’ não visto nas últimas duas décadas. Um dos motivos que empurravam esta dinâmica era a facilidade de crédito, resultado das baixas taxas de juros nos EUA. Isto permitiu um aumento do consumo dos endividados particulares norte-americanos, e uma bolha especulativa imobiliária, superior inclusive à da chamada “alta tecnologia” nos finais da década passada. Por sua vez, a abundante liquidez internacional (forte emissão de moeda nos EUA) dava lugar a que parte deste capital afluísse em busca de rendimentos mais altos aos países semicoloniais, revertendo a fuga de capitais sofrida desde a crise asiática de 1997-98 até o default argentino de dezembro de 2001. Junto ao crescimento acelerado do comércio internacional, impulsionado em boa medida pelos altos preços dos produtos básicos e o petróleo, estes elementos permitiram que os países semicoloniais crescessem a um ritmo desconhecido há anos.

Mas recentemente se multiplicaram os sinais de uma reversão dos fatores que possibilitaram a bonança: os altos preços do petróleo, o início do desinfle da bolha imobiliária dos EUA e outros países com grandes déficits de conta corrente, e as expectativas de um endurecimento maior da política norte-americana (aumento das taxas de juros) para conter a crescente inflação mundial. Estes elementos explicitam a falta de sustentabilidade a longo prazo do recente ciclo económico mundial, e começaram a mudar o estado de ânimo dos investidores, que mudaram de uma confiança exuberante (considerando que não importavam desequilíbrios da economia mundial, nem os crescentes déficits fiscais e comerciais dos EUA, já que estes eram financiados “gratuitamente” pela China e demais países em desenvolvimento, devido à sua necessidade de exportar ao mercado norte-americano) a um clima de preocupação e cautela.

A disparada da inflação nos EUA a 0,6% em um mês foi um alarme que provocou uma forte queda em todos os mercados bursáteis, inclusive no preço das matérias-primas em nível mundial. Os investidores temem uma brusca aceleração das subidas das taxas de juros nos EUA que esfrie a economia deste país, inclusive sua entrada em recessão e que pelo seu papel de “importador em última instância” da economia mundial termine provocando uma desaceleração do crescimento em nível internacional. Esta perspectiva para os EUA, junto à decisão da China de subir as taxas de juros, podem indicar que os dois motores que impulsionaram o auge dos anos passados estão entrando em um ritmo lento.

Por sua vez, uma subida das taxas de lucro, para além da esperada deixou mal amparados aos que especulam nestes mercados, em geral com empréstimos a taxas irrisórias. A fuga aos metais preciosos, como o ouro que alcançou o preço de 730 dólares a onça (aumentando cerca de 40% desde novembro) arrastando inclusive a prata, mostra a fuga dos detentores das notas verdes em direção a outros mais seguros, abrindo novas interrogantes sobre a sustentabilidade do dólar como moeda de reserva mundial.

A mudança de tendência na economia mundial pode afetar aos países da periferia do sistema imperialista mundial, dando origem inclusive a uma nova onda de crises regionais (como já conheceram o México em 1995, o sudeste asiático em 1997-98, a Rússia neste último ano, o Brasil um ano mais tarde ’ ainda que tenha evitado o default de sua dívida externa -, e a Argentina em 2001 com o colapso de sua economia). Isto se mostra na queda massiva da bolsa e da moeda na Turquia, na crise da Hungria (cujos pilares económicos são menos sólidos ainda), na renovada crise da Indonésia (um dos epicentros da crise asiática da década passada) e a suspensão das operações da bolsa da à ndia (um dos países “estrela” dos últimos anos) depois de uma queda de dez pontos em seus índices. Para os países latino-americanos, em especial para a América do Sul, beneficiados pelo crescimento da economia mundial dos últimos anos, a queda nos preços das matérias-primas e a subida das taxas norte-americanas, no marco das economias que estão super-endividadas como o Brasil significa duas más notícias que podem implicar o fim da recente “bonança” de suas economias e que permitiu, ao menos conjunturalmente, assentar seus governos “pós-neoliberais” depois do ciclo de lutas que atravessaram a região contra as conseqüências nefastas da “ofensiva neoliberal” dos anos 90. Esta possível reversão do crescimento económico poderia acelerar a experiência dos trabalhadores e dos povos oprimidos com a demagogia destes governos.

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