Segunda 13 de Maio de 2024

Internacional

A CRISE SE POLITIZA E GLOBALIZA VELOZMENTE

O capitalismo em terapia intensiva

12 Oct 2008 | A divisão européia frente à crise financeira internacional, que se soma à divisão das duas patas do sistema bipartidário norte-americano nos EUA na semana passada, mostra a rápida politização da crise capitalista mundial mais importante desde a década de 1930. Também se acelerou a globalização da mesma, com um salto na crise européia e sua forte repercussão em todos os países semicoloniais e dependentes. Se observa plenamente o que dissemos na última Estratégia Internacional:"...a internacionalização do capital produtivo converteu quase todo o planeta em sua esfera de valorização e tem sido um dos elementos essenciais que permitiram a recuperação da taxa de lucro. Entretanto, também implicou que os mecanismos de propagação e contágio das crises tenham se acelerado".   |   comentários

EUA: Se evitará uma grande depressão?

Devido à total insuficiência do Plano Paulson finalmente aprovado no dia 3 de outubro pela Câmara de Representantes em um voto de resignação comprado por uma corrupção massiva que mostrou qualquer coisa menos unidade nacional frente a crise, o FED teve que recorrer em 07 de outubro a medidas extremas para evitar um total colapso do sistema financeiro e a necessidade de financiamento das empresas que precipite a entrada em uma Grande Depressão. Assim, a autoridade monetária pagará juros aos bancos pelas reservas que tenham na FED com o objetivo de melhorar as condições de liquidez das entidades financeiras. Mas mais importante ainda é que em forma inédita anunciou a constituição de um fundo para comprar títulos das empresas que ficaram sem uma fonte principal de financiamento nos mercados devido à crise financeira. Assim, criaram também um Fundo de Financiamento de Títulos Comerciais anunciado pelo FED para prover liquidez às empresas que emitem dívida privada e que cada vez encontram menos compradores nos mercados. Entretanto esta medida excepcional não conseguiu acalmar a bolsa de Wall Street, que seguiu com grandes baixas. O detonador desta vez foi o discurso do presidente da FED, Ben Bernanke, que assegurou que estaria "reconsiderando se sua atual postura ’ manter os juros em 2% segue sendo adequada frente aos acontecimentos" , e deixou as portas abertas para uma queda de juros em curto prazo ante "a piora das perspectivas de crescimento económico". Estas declarações que mostram que a crise está piorando desataram uma nova onda de pânico. Novamente os números no vermelho se fizeram sentir com força entre o setor bancário, que não levanta a cabeça. Por um lado Sovereign, Wachovia e National City que eram os únicos que ensaiavam subidas, acabaram se afundando 15%, 11% e 19% respectivamente. Enquanto entidades como Citigroup, Goldman Sachs ou JP Morgan caíram entre 8% e 13%. Suas ações despencaram mais de 26% depois de anunciar resultados piores que o esperado. Seu lucro neto caiu 60,6% nos novo primeiros meses do ano em comparação com o mesmo período do ano anterior. A gravidade da crise se demonstra no fato da impotência das autoridades ser colossal. Seus últimos anúncios nem sequer conseguiram a volta ao otimismo momentâneo. Em outubro os índices só estão se movendo para o negativo. Assim, quando o presidente assinou o plano de salvação de 700 bilhões de dólares destinado à compra dos valores intoxicados das entidades financeiras, em vez de um levantamento da confiança, se converteu em um duro golpe de confiança. E quando a FED anunciou que tomaria a medida extremamente radical de comprar papéis da dívida corporativa, em vez de reduzir a pressão nos mercados financeiros meramente expandiu o temor. Cada vez mais começa a se instalar uma lógica perversa na que a certeza última começa a ser que qualquer intervenção é uma gota no oceano mediante as disfunções que a crise atual está provocando no sistema. A última tentativa de contenção da crise tem sido a baixa pactuada em meio ponto das taxas de juros dos principais bancos centrais do mundo à FED, tais como o Banco da Inglaterra e o Banco Central Europeu ’ este último que até pouco vinha se negando a tomar esta medida ’ tem um limitado impacto, enquanto a tensão nos mercados de capitais está se intensificando.

Uma brutal deterioração financeira e económica norte-americana.

A convicção de que nenhuma medida funcionará expressa a profunda deterioração das finanças e da economia norte-americana. Fazendo uma metáfora, o "sistema circulatório" do capitalismo está obstruído. Isto faz com que haja partes vitais do corpo financeiro tal qual o sangue ’ o dinheiro e o crédito ’ não fluam, o que ameaça matar o paciente, a economia. Até o imperturbável Warren Buffet, o homem mais rico do mundo e que se converteu com seu resgate privado de bancos e empresas no J Pierpont Morgan moderno [1], tem dito que a "seca creditícia" está "chupando o sangue" para fora da economia.

Estamos atravessando um momento crítico no qual o mecanismo de transferência de fundos desde a poupança aos investimentos pode ficar seriamente afetado.

O crédito interbancário encareceu a níveis que fazem praticamente impossíveis as transações, devido a que ninguém confia que recuperará o dinheiro emprestado. Esta desconfiança já está se alastrando à sociedade, como mostra o início da corrida em diversos segmentos do sistema financeiro e bancário. A situação começa a ficar cada vez mais similar à do crack de 1929, na qual qualquer mecanismo de incentivo de liquidez era completamente inútil. Havia se estabelecido um circulo vicioso: os bancos usavam o dinheiro estatal para resolver seus problemas e não para dar crédito. Esta falta de financiamento afogava a economia real. As firmas, para evitar a asfixia, retiravam seus fundos das instituições financeiras para poder manter sua atividade e fazer frente a seus gastos correntes. O resultado era que os bancos necessitavam de mais dinheiro do Estado para sanar seus balanços.

O financiamento do FED às empresas busca justamente evitar este cenário. Chegará a tempo ou os danos já são irreversíveis?

Os dados da economia real são cada vez mais preocupantes. Somente em setembro perdeu-se 159.000 postos de trabalho nos EUA, a queda mensal mais alta desde março de 2003. Mas a taxa de desemprego atual, que ronda na média algo mais de 6%, não será nada se colapsa o sistema de financiamento da economia.

Já existem alguns sintomas do que se pode chegar a passar. Por exemplo, a Califórnia, o Estado mais populoso dos EUA, adiantou que necessitará de um empréstimo do governo nacional de 700 milhões para pagar os serviços públicos como a polícia, os hospitais ou os bombeiros. Empresas de ponta como a General Electric (GE) estão buscando financiamento de maneira desesperada. A General Electric conseguiu que a Berkshire Hathaway, a companhia de Warren Buffet, comprasse ações preferenciais por 3 bilhões de dólares. Mas nem todas as empresas têm essa sorte, e muitas estão fortemente endividadas. Este encarecimento do financiamento não somente fará mais com que os planos de investimento sejam mais conservadores, mas afetará os lucros. Ainda que, diferentemente do desmoronamento da bolha das "ponto com", a maioria das companhias estão menos expostas ’ uma expressão de que o lucro acumulado não de re-investiu ’, muitas empresas automotrizes e de autopeças e comerciantes minoritários tem montanhas de dívidas.

(Des)União Européia: a crise pode chegar forte ao euro.

Para a União Européia (UE), diferentemente dos Estados Unidos, a atual crise pode se transformar em uma crise do regime monetário. A generalização da crise bancária ao nível da União poderia destruir sua moeda comum, o euro, cuja criação nunca foi acompanhada pelo estabelecimento de instituições adequadas para fazer frente às crises financeiras. Este não é um esquecimento casual, na realidade tem a ver com as debilidades estruturais do projeto comunitário, e expressa de forma aguda suas contradições insanáveis.

A questão é que a UE facilitou em grande medida a integração do sistema bancário europeu criando gigantes que foram mais além de sua capacidade de administrá-los a nível continental. Agora que os mercados de créditos estão paralisados estas instituições têm uma exposição creditícia (passivo) que supera várias vezes a capacidade de depósitos dos países de origem. Este é o caso do Deutsche (anti-spam-(anti-spam-Bank)) alemão, com um passivo que supera em 1,5 vezes o que entra no erário a título de impostos, ou o Barclays da Inglaterra, que o duplica. Isto se contrasta com, por exemplo, os passivos do (anti-spam-(anti-spam-Bank)) of América, que são aproximadamente a metade da renda depositária dos EUA.

A atual crise, que golpeia em cheio os principais bancos europeus, tem posto em evidência esta vulnerabilidade do projeto comunitário, desatando uma política de "salve-se quem puder" entre seus países membros.

Há um processo acelerado de re-nacionalização das políticas financeiras nos 27 Estados membros da UE, que já não vêem Bruxelas (sede das instituições da UE) antes de atuar. Por exemplo, a Irlanda decidiu garantir por dois anos todos os depósitos (incluída a dívida) dos bancos, o que desatou uma guerra por depósitos no interior da UE. O passo unilateral dado pela Alemanha, depois de uma reunião de coordenação em Paris junto à França, Inglaterra e Itália para encontrar medidas em comum à crise, foi uma mostra patética. Posteriormente, o compromisso alcançado em 7 de outubro entre os ministros de finanças dos 27 (Ecofin) está longe de fixar um padrão para a proteção de depósitos. Estes acordaram em elevar a garantia para indivíduos com uma soma de ao menos 50.000 euros. Mas a proposta inicial de subi-la a 100.000 euros não obteve consenso. Alguns países, como os da Europa do Leste e Finlândia entre outros, consideram que um teto tão elevado implicaria uma carga muito pesada, enquanto que a Grécia, Espanha, Holanda, Bélgica e à ustria têm anunciado que elevariam o teto da garantia a 100.000 euros. Mas isto pode ser insuficiente para responder ao verdadeiro problema: o perigo de fuga de patrimónios médios-altos que superam esta quantidade a outros países europeus que tenham garantido 100% dos depósitos, como a Alemanha e Irlanda. Este risco segue existindo porque, como mostra o afundamento dos bancos britânicos, continua a desconfiança generalizada. Alguns meios dão uma visão mais otimista da reunião dos ministros de Finanças. Por exemplo, o Financial Times Deutschland ressalta as declarações da ministra francesa Christine Lagarde, de que a UE não aceitará uma versão própria do Lehman Brothers (o banco de investimento norte-americano cuja queda significou um antes e um depois na crise financeira mundial). Segundo este jornal, não há um plano de resgate massivo, similar ao que colocou a França, mas sim uma coordenação dos esforços nacionais. Angela Merkel, a titular do governo alemão, anunciou que está trabalhando para estabelecer critérios que permitam distinguir entre as instituições relevantes e aquelas que não o são. Este critério pode se transformar na mãe de todas as discórdias. Se o Congresso norte-americano se dividiu frente ao Plano de Resgate de seu próprio sistema bancário, quem garante que os 27 chegarão a um acordo sobre que bancos salvar quando estão em jogo interesses nacionais dos Estados membros? Esta política somente pode terminar exacerbando as disputas no seio da UE.

O problema de fundo é que os países mais fortes como a Alemanha não querem utilizar seus recursos públicos para salvar, por exemplo, o banco espanhol, cujo resgate custaria mais que 50 bilhões de euros. Neste marco de (des)união européia, não surpreende que as bolsas sigam caindo vertiginosamente.

O plano de resgate do governo britânico, que anunciou um pacote de ajuda de 62 bilhões de dólares, não foi suficiente para acalmar o pânico. Segundo o ministro das Finanças, o dinheiro servirá para comprar ações nos principais bancos do país ’ uma re-nacionalização parcial -, que em 7 de outubro sofreram fortes quedas que chegaram até aproximadamente 40% no caso do Royal (anti-spam-(anti-spam-Bank)) of Scotland (RBS). Até o momento, as instituições que confirmaram sua participação no programa de re-capitalização são o Abbey, Barclays, HBOS, HSBC, Lloyds TSB, Nationwide, RBS e Standard Chartered.

O caso da Islândia, um dos elos mais débeis da Europa, mostra ao extremo a que pode chegar o desenvolvimento da crise nos países do continente. Esta se encontra em uma avançada "argentinização" (em referencia ao crack económico e default argentino de 2001), cuja moeda se desvalorizou 50% em um ano com respeito ao euro e ao dólar, perdendo de fato sua capacidade como meio de pagamento. Suas autoridades se queixaram de que os amigos do país não ofereceram assistência financeira, forçando-o a buscar uma injeção de dinheiro da Rússia. Mas não seria necessário chegar a este ponto para que a eurozona seja posta em questão. Por exemplo, o abandono à sua sorte e a eventual queda das finanças italianas ou do sistema bancário espanhol [2] colocaria em risco a integridade da União. E isto poderia suceder muito rapidamente ante a crise de um banco de envergadura, como, por exemplo, o Unicrediti italiano, fortemente exposto na Europa do leste e nos países Bálticos.

Muitos se aferram à idéia de que a história da UE está marcada por crises que ameaçaram sua destruição, mas que, em última instância a terminaram fortalecendo. Sem ir muito longe, o estabelecimento do euro requereu praticamente o colapso do Sistema Monetário Europeu de 1992/95. Para muitos isto poderia se repetir, dando como resultado o surgimento de uma Europa Federal na qual o governo central tenha poderes significativos em tal grau que, por exemplo, a França na Eurozona seria igual ao Texas nos EUA. Mas a existência de fortes interesses nacionais faz com que este cenário seja altamente improvável, ou ainda mais, utópico. Para que "França seja o Texas" seriam necessárias mudanças superiores às atuais ’ que a crise seja muito mais devastadora, ou que haja a conquista de novas zonas de influência, etc -, que possam varrer as diferenças que separam os 27 Estados da União, especialmente os distintos interesses das potências, já que não existe um caminho evolutivo para uma maior integração. Pelo contrário, se a crise se aprofunda, é altamente provável que golpeie forte o euro.

O que acontecerá com o dólar? A situação avança em direção a uma fragmentação do mercado mundial?

Os analistas de visão estreita do New York Times dizem maravilhados: "A bolsas estão desmoronando; o mercado creditício segue congelado, e algumas autoridades estrangeiras predizem que o Estados Unidos perderá seu status de superpotência financeira. Entretanto, o dólar, símbolo mais visível do poderio financeiro estadunidense, está em alta".

Uma combinação de fatores explica a fortaleza do dólar.

Em primeiro lugar, o crescimento do dólar responde à repatriação dos fundos das instituições norte-americanas aos EUA, que tanto necessitam, junto ao feito de que os especuladores estão se desfazendo de suas posições em todo o mundo, "refugiando- se" nos títulos do Tesouro norte-americano. O dólar tem sido fortemente respaldado pela Reserva Federal, que estabeleceu uma rede de intercambio monetário com o Banco Central Europeu, o Banco do Japão, o Banco da Inglaterra e outros bancos para proporcionar dólares aos bancos estrangeiros. Numa escala sem precedente, a Reserva Federal teve que ampliar a liquidez de dólares no sistema financeiro internacional numa magnitude de 125 bilhões de dólares.

Em segundo lugar, o dólar tem subido recentemente devido ao fato conjuntural de que os indicadores da economia norte-americana no segundo trimestre foram melhores que os da Europa e do Japão, que já entraram em recessão; ao mesmo tempo em que a desvalorização prévia do "ouro verde" empurra as exportações norte-americanas frente ao mundo, em especial os produtos agrícolas.

Em terceiro lugar, os países da à sia em grande parte sustentaram o dólar como parte de uma política exportadora agressiva que lhes permitiu manter altas taxas de crescimento depois da crise de 1997/98. O passo em direção a uma economia baseada no mercado interno, como sugerem vários analistas, quando o consumo chinês é superior apenas a 30% do PIB, não é algo que se possa fazer de forma rápida e não traumática, pois estes países têm um interesse estratégico em evitar uma rápida depreciação do "ouro verde". A massiva acumulação de reservas produto desta política comercial agressiva levou a que estes países comprassem títulos do Tesouro norte-americano ou de empresas como Freddie Mac e Fanny Mae, ou seja, ativos financeiros. Nestes momentos, nos quais há uma importante interrogação sobre o futuro do euro, os fundos soberanos devem ser cautelosos numa política de diversificação.

Dito isto, há que se considerar os fatores políticos. Por que se a hegemonia norte-americana se baseava no controle do dólar como moeda de reserva mundial, este privilégio se sustentava não tanto pelo peso de sua economia no mundo, que vem retrocedendo nas últimas décadas, mas fundamentalmente por que depois da débâcle da ex-URSS era a única superpotência baseada numa supremacia militar e influência ("consenso") internacional indiscutíveis. Estes fatores vêm erodindo agudamente no último período, como mostra a débâcle no Iraque e Afeganistão e no recente conflito entre a Rússia e Geórgia. O fato de que a Alemanha, uma peça chave da OTAN, tenha se comprometido em Moscou a não apoiar a entrada da Geórgia e da Ucrânia à OTAN, aumenta a debilidade dos Estados Unidos.

Se o dólar se mantém isso seria um golpe para a União Européia e o euro. Porém, o aprofundamento da crise nos EUA e em nível mundial derruba as bases que até agora sustentaram a fortaleza do dólar, uma vez que os massivos resgates do sistema financeiro e corporativo nos EUA e o crescimento geométrico do endividamento do Estado norte-americano estão destruindo suas bases de apoio. Parece que a questão que se coloca é se haverá uma corrida contra o "ouro verde".

Neste marco, a atual crise financeira internacional que tem seu epicentro nos EUA e que é por sua vez uma crise do modelo anglo-saxão e, mais importante ainda, do "padrão de crescimento" impulsionado pelo endividamento que lhes permitiu viver além de seus meios durante décadas, é um golpe que pode ser demasiado forte para a capacidade de liderança dos EUA e a fortaleza do dólar. Em grande parte isto dependerá do manejo da atual crise das autoridades norte-americanas, que como mostrou a crise parlamentar com a não aprovação do Plano Paulson naquela Casa, raramente havia manifestado tal impotência, covardia, "vazio de direção", por parte da administração, da direção do Congresso e dos dois candidatos à presidência. Neste marco a hipótese que coloca Jacques Sapir, economista e historiador francês, não pode ser descartada: "Que o cenário mais temido se desenvolva ou não, depende da forma na qual os managers dos fundos privados na à sia e no Oriente Médio decidam melhorar sua estratégia de carteira de acionistas. Se a sensação de incerteza sobre a liderança dos EUA e sua capacidade de administrar a crise atual nos leva a perder a confiança (ainda que seja uma confiança com problemas), levando-os a se desfazer de suas ações em dólares, então os fundos soberanos teriam que seguir rapidamente para evitar grandes perdas de capital. Uma queda de 25 a 35% do valor do dólar contra outras moedas, junto a mudanças dramáticas nos movimentos de fluxo de capitais e dos preços das commodities, se tornaria então um fato bastante provável. Isto criaria grande incerteza no espaço financeiro, com a provável emergência, como conseqüência, de moedas de reserva regionais. Neste sentido, já se começa a escutar vozes como a do ex-presidente da Tailândia, Thaksin Shinawatra, que foi o primeiro que se distanciou da ortodoxia do FMI pós crise asiática, reivindicando a necessidade de um "bónus asiático que possa nos salvar do dólar". A eventual queda do dólar, o que significaria a perda da principal moeda internacional de referência e intercâmbio, daria lugar ao surgimento de zonas de distintas moedas, ou seja, a uma situação de maior anarquia e luta inter-capitalista a nível mundial, com tensões e conflitos inter-estatais, e também oportunidades para a luta de classes, de magnitude similar aos vividos na primeira metade do século XX. Essas décadas mostraram o desenvolvimento agudo da época que os marxistas chamaram de "crises, guerras e revoluções".

[1JP Morgan: foi um personagem lendário das finanças, um dos grandes barões do capitalismo que o salvou da débâcle frente ao crack de 1907 quando ainda não existia a Reserva Federal e este teve de traçar um plano de salvação entre os próprios bancos.

[2Os atuais ganhadores da crise como o Santander poderiam também entrar em questão. O violento crash dos mercados latino-americanos, com México e Brasil a cabeça, augura uma pressão adicional para o Santander e BBVA. O Latibex, o mercado de empresas latino-americana cotizada em euros, desmoronou segunda-feira (06/10) 20% na maior queda de sua história, assediado pela apreciação das dividas latinas e do dólar frente ao euro. Mais de uma quarta parte do negócio bancário dos dois maiores bancos espanhóis vem do continente latino.

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