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PETROBRÁS

O Rio “Arábia Saudita” vai virando um rio de cortes contra os trabalhadores e a população

10 Dec 2014   |   comentários

A organização dos trabalhadores é o que pode impedir que esta crise seja paga por nós mesmos.

Poucos anos atrás quando a economia nacional ia de vento em popa, empurrada pelo vento internacional de aumento da demanda chinesa de commodities e com os preços recordes do petróleo, as descobertas de petróleo do pré-sal significam na boca dos políticos um futuro promissor. Até hoje a governista UNE argumenta que os royalties do pré-sal para educação renderão um grande futuro aos jovens brasileiros. Mundos e fundos foram prometidos com a riqueza do pré-sal. Uma batalha judicial e política foi travada entre a elite carioca e setores de outros estados sobre como dividir os recursos do pré-sal. Em nenhum dos dois lados encontrava-se um campo que realmente colocaria os recursos naturais do país à serviço da população.

Em 2007 e 2008 diversos setores da elite brasileira discutiam os prós e contras de aderir a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Este futuro ficou no fundo do mar. Hoje com a crise na Petrobrás produto do bilionário esquema de corrupção, com a crise financeira da empresa oriunda de agressivo plano de investimentos (e empréstimos) no custoso pré-sal e queda do preço internacional da matéria prima o que vemos é todo o reverso: um agressivo plano contra os trabalhadores que ainda não foi anunciado, mas já começa a cobrar seu preço tanto na Petrobrás como em todo o Estado do Rio de Janeiro.

Ou seja, Dilma, Paes, Cabral, Pezão e todos aqueles que nos prometiam que viraríamos xeiques hoje querem colocar direitos elementares como emprego e saúde em xeque.

Peças em jogo, Petrobrás em xeque

A Petrobrás fez uma grande aposta na província petrolífera do pré-sal. Dezenas de bilhões de dólares já foram investidos, um rápido desenvolvimento dos campos já garante uma produção diária superior a 515mil barris. Porém para alcançar os 1,6 milhão de barris por dia previstos para 2018 ainda são necessários bilhões em plataformas, sondas, dutos, logística. Sem alcançar esta produção a Petrobrás terá dificuldade de honrar suas multibilionárias dívidas.

Para piorar as contas da empresa o pré-sal exige preços do petróleo nacional superiores a US$70 para que seja rentável na margem que a empresa quer (na indústria do petróleo, praticamente sempre há lucro, o problema capitalista é de qual margem de lucro conforme a dificuldade de extração, localização, qualidade do óleo). E hoje, produto de múltiplas determinações como o aumento da produção de gás de folhelo (shale gas) nos EUA, e múltiplas determinações geopolíticas (Rússia, Arábia Saudita, Irã, queda do consumo chinês, etc) o preço esta caindo vertiginosamente.

Encontra-se hoje em um recorde de baixa nos últimos 5 anos, cotado a menos de US$ 65 o parâmetro internacional do óleo Brent. Ou seja, o “marlim”, “roncador”, “lula” da Petrobrás estão com preços muitíssimo inferiores às contas que a Petrobrás fazia. Esta é uma primeira peça chave deste xeque que está se armando.

Uma segunda peça chave é o multibilionário escândalo de corrupção, que acrescenta incertezas políticas e contábeis na empresa. Nesta sexta-feira a empresa irá anunciar seu balancete sem o visto da empresa ianque de consultoria (PwC), empresa esta que está pressionando por maiores cortes e privatização. O preço das ações da Petrobrás estão despencando em ritmo maior do que a queda do preço do petróleo. Nesta situação sua capacidade de financiamento ficará ainda mais afetada.

Produto deste escândalo já caiu um poderoso presidente de uma subsidiária da Petrobrás, dezenas de empresários das maiores empreiteiras do país, bem como ex-diretores da Petrobrás, Renato Duque e Paulo Costa encontram-se presos. O pano de fundo deste escândalo, como viemos afirmando, é a crescente privatização da empresa, seu uso para formar “gigantes capitalistas nacionais” e compra de políticos, e maior pressão imperialista para entrar nos negócios bilionários do petróleo nacional e no mercado de licitações.

Como consequência desta dupla crise os petroleiros próprios já estão sentido na pele uma redução na qualidade dos serviços, o transdporte à qualidade da alimentação e devem se preparar a maiores ataques. Os terceirizados estão padecendo demissões nos estaleiros, sejam os envolvidos nos escândalos de corrupção como o IESA do Rio Grande do Sul como em diversas empresas contratadas nas plataformas, refinarias e terminais país à fora.

Royalties em xeque ajustes contra os trabalhadores

Diversos municípios e os próprios estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo são altamente dependentes das receitas do petróleo em royalties participações especiais. Estas receitas levam em consideração a quantidade produzida (ou transportada) e o preço do que foi transportado. Estes dois estados fizeram seus orçamentos baseando-se no petróleo a mais de 90 dólares. A 65 dólares a queda é de quase 30%!

No Estado do Rio estava prevista uma receita de R$ 9 bilhões para 2015 oriunda do petróleo. Este valor equivale a mais de 10% das receitas orçadas. Se o preço do petróleo continuar nestes patamares o Rio terá uma queda de sua arrecadação em nada desprezíveis 3 a 6% da receita total.

Ainda não há grandes anúncios de cortes, porém a conta gotas, mesmo antes desta queda de arrecadação, o governo do Estado do Rio já vetou o aumento dos recursos destinados às universidades estaduais, sobretudo a UERJ. O governador Pezão também mandou fechar dezenas de “farmácias populares” que garantiam a compra de medicamentos e outros itens a preços acessíveis. Com receitas crescentes os governos Pezão-Cabral ficarão famosos por atacar os professores grevistas e por pagar um dos piores salários aos professores no país. Com menos recursos sua receita tende a ser mais dura.

Antes do impacto orçamentário previsto o receituário já está dirigido contra os trabalhadores e a população. 2015 promete que também no Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro, a queda no preço do petróleo tenha também seus efeitos na luta de classes. A organização dos trabalhadores é o que pode impedir que esta crise seja paga por nós mesmos.

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