Sexta 26 de Abril de 2024

Nacional

ENCHENTES E DESLIZAMENTOS

No Brasil de Lula a promessa da potência emergente desmorona no barro

23 Apr 2010   |   comentários

Ano a ano repetem-se tragédias relacionadas
a chuvas em todo o país. Este ano esta
catástrofe recorrente e completamente
evitável tocou mais duramente os fluminenses,
baianos e sergipanos. As promessas
de um país desenvolvido, de uma potência
emergente tão presente nos discursos de
Lula, Serra e Dilma afundou-se na lama e na
água.Todas as obras e recursos do PAC na
Bahia e nem mesmo as casas do “Minha
Casa, Minha Vida” no Rio de Janeiro se
safaram. O saldo desta tragédia são 253
mortos no Rio e mais 7 na Bahia, 70 mil
desalojados ou que perderam suas casas no
Rio e mais de 10 mil na mesma situação na
Bahia e ainda outros 4 mil desalojados no
vizinho Sergipe.
O governo Lula, seus governadores Jacques
Wagner (PT-BA), Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e
prefeitos da base aliada como João Henrique
do PMDB em Salvador, Eduardo Paes do
PMDB no Rio de Janeiro, e Jorge Roberto
Silveira do PDT de Niterói, ainda o exministro
das cidades, Geddel (PMDB),
concorrente a governador na Bahia, todos
culparam a chuva excessiva e garantiram que
todas as medidas possíveis tinham sido
tomadas.
Esta catástrofe das chuvas não é algo
natural, mas algo social, criada pelo
capitalismo e nada imprevisível, que restaria
ao povo somente “orar a São Pedro”, como
disse Lula. Ao contráiro de ser algo
inevitável, e devido exclusivamente a uma
chuva imprevista (cerca de 300mm em 24hs
no Rio e Niterói) como afirmaram o
governador Sérgio Cabral e o presidente
Lula, a inun-dação era algo completamente
previsível já que existem registros históricos
no Rio de chuvas recorrentes de mais de
200 mm em 24 horas, e desde décadas atrás,
numerosos estudos geológicos já apontavam
diversos morros como áreas de risco. A
falta de infraestrutura e preparação para
estas chuvas recorrentes afetou o conjunto
da cidade. No entanto, as mortes estão
concentradas fundamentalmente nas áreas
dos morros e bairros periféricos.

A demagogia de Lula frente
à catástrofe no Rio de Janeiro

Lula declarou que não pouparia esforços
para ajudar o Rio de Janeiro a se recuperar.
Disse isso no mesmo dia que o principal
jornal do Rio, O Globo, denunciava que as
verbas destinadas a outra tragédia “natural”,
em Angra no final de 2009, chegou somente
no dia 11/04 à cidade.
Para a tragédia do Rio, Lula destinou 200
milhões de reais, enquanto que no final de
2008, frente ao primeiro anúncio da crise
internacional, distribuiu preventivamente R$
300 bilhões para os banqueiros e os empresários
que ao mesmo tempo demitiam 1
milhão de trabalhadores. Em comparação
com a ajuda aos capitalistas, Lula gastou
0,06% com a tragédia que atingiu, sem
piedade, a população do Rio! Uma das
maiores favelas do Rio, Manguinhos, modelo
do plano oficial de moradia “Minha casa,
minha vida” apresentado pelo governo
como o plano que resgataria o povo pobre
da humilhação, em poucas horas estava
inundada. E para completar, os moradores,
sem nenhum apoio do Estado para seu
resgate, contavam somente com ajuda
mútua para não se afogarem. Podemos
concluir que, a tragédia do Rio de Janeiro
proporciona um retrato gráfico do governo
capitalista de Lula.

Militarização e remoções de
favelas: a resposta da burguesia

A população atingida pelos desmoronamentos
e enchentes é, sobretudo, a que vive em
morros e favelas. É necessário considerar
que a população pobre que vive nas favelas
do Rio, Salvador, Aracaju e todas grandes
cidades brasileiras, ao contrario de como é
costumeiro estigmatizar como exclusivamente
de narcotraficantes, está integrada
por um grande contingente de trabalhadores
precarizados, que compõem a
heterogeneidade que caracteriza hoje a
classe operaria. A política do Estado
brasileiro frente à pobreza urbana tem dois
extremos que se complementam: os
massivos planos sociais e a política
assistencialista das ONG, combinados
sempre com a repressão seletiva aos pobres.
Se antes das tragédias o governo do Rio
com o apoio de Lula já vinha implementando
uma política repressiva de ocupação dos
morros, proibindo qualquer manifestação
política, cultural ou social que não fossem
autorizadas pela polícia de ocupação (as
Unidades de Policiamento Permanente –
UPPs), agora sua resposta de militarização e
remoção forçada dos morros aprofunda a
mesma sanha repressiva para organizar uma
nova cidade para o capital.
O prefeito do Rio aliado a Lula já emitiu o
decreto 32.081, autorizando a remoção
forçada e começou com 8 favelas,
desalojando cerca de 12.000 pessoas. O
governador do Rio de Janeiro também
começou a reprimir e remover moradores
de favelas em Niterói e estuda um decreto
estadual para impor esta nova ordem em
todo o estado. Cinicamente, este governo
apontou os próprios afetados como os
“culpados” da tragédia: “O governador
Sérgio Cabral (PMDB), ao lado do
presidente Lula da Silva (PT) e com sua
aprovação, se apressou em definir os
responsáveis pelas mortes: os habitantes das
favelas cariocas, que insistem em construir
em áreas de risco... E se a remoção é a
solução, Cabral também anunciou que a
Polícia Militar estava à disposição de todos
os prefeitos para efetivar essa política”
(Correio da Cidadania, 10/04).
Esta política repressiva do governo estadual e
nacional contra a população dos morros está
inspirada na experiência adquirida pelo
exército brasileiro que há seis anos ocupa o
Haiti. A repressão à pobreza, que o próprio
sistema capitalista gera, é promovida pelo
imperialismo em nosso continente e no
mundo inteiro. Por isso, desde a LER-QI,
impulsionamos também uma campanha
internacionalista nos sindicatos, universidades
e locais de trabalho, pela retirada imediata das
tropas brasileiras do Haiti.

A burocracia sindical
dá as costas aos pobres

Neste panorama trágico e desesperador, não
tem ocorrido manifestações expressivas,
com exceção de Niterói, que denunciem o
descaso dos governos frente à situação e
ofereçam um programa para atender as
demandas mais sentidas do povo. Isto se
deve à cumplicidade da burocracia sindical
com as medidas dos governos que não
somente impede que estas respostas da
população se coordene e generalize, mas
também que se transformem numa força
independente. A maioria dos sindicatos da
CUT (Central Única dos Trabalhadores,
ligada ao PT) não fez nenhuma exigência às
empresas para quê seus lucros e recursos
estejam à serviço das necessidades
populares diante da emergência, nem sequer
uma campanha de solidariedade elementar
como a coleta de alimentos e roupas.
Outras inclusive foram mais alem, como a
Federação Única dos Petroleiros (FUP) que,
ao invés de organizar a solidariedade, de
exigir à Petrobrás que libere suas centenas
de geólogos e milhares de engenheiros e
técnicos para ajudar na avaliação dos riscos
e reconstrução das moradias, publicou
elogiosos textos aos governos.

É preciso uma resposta
da classe trabalhadora

para se colocar como uma alternativa
começando por organizar uma forte
campanha de solidariedade e impedir que se
aplique a política repressiva do governo Lula
e seus aliados. Mas, apesar de considerarmos
que diante da emergência estas medidas são
fundamentais, somos conscientes de que
frente à crise estrutural são completamente
insuficientes, e por isso chamamos a votar
em todos os sindicatos, empresas, escolas e
faculdades, a necessidade de uma reforma
urbana radical entregando as centenas de
milhares de imóveis vazios, públicos e
privados, que existem nas capitais a quem
necessite, um plano de obras públicas
controlado pelas organizações operárias e
de moradores e um plano de luta para o
impor à burguesia e seus governos.
De nossa parte, buscamos que seja aprovada
esta campanha em encontros de estudantes
no Estado de São Paulo, no Sintusp
(Sindicato dos trabalhadores da Universidade
de São Paulo), impulsionando
assembléias com os pais nas escolas. No Rio
de Janeiro, junto aos companheiros
petroleiros, estamos exigindo à FUP e seu
sindicato assembléias para colocar os
petroleiros a frente na solidariedade com o
povo. Na Universidade Federal do Rio de
Janeiro impulsionamos várias iniciativas
junto a diversas correntes independentes.

A situação em Niterói

Nenhuma cidade do país foi tão afetada
pela calamidade como Niterói que
concentrou 165 mortos. Frente a esta
situação tem começado a ocorrer
importantes manifestações nesta
cidade, chegando a última delas a contar
com mais de mil pessoas, em sua
maioria moradores de morros afetados.
Participamos destas manifestações e
achamos fundamental a organização e
coordenação que tem ocorrido entre
os moradores de distintos morros. Para
este movimento ganhar massividade é
necessário que os trabalhadores e
estudantes dêem passos decididos em
seu apoio e para a radicalização de seu
programa.
É importante que este movimento
supere as limitações de programa que
tem demonstrado ao focar sua política
na realização de uma audiência pública
com o prefeito.
Os moradores dos morros e favelas de
Niterói estão dando um exemplo de
organização, é necessário que a
esquerda anti-governista não só nesta
cidade, mas em todo o estado e país se
coloque ativamente para contribuir
com respostas de fundo ao problema:
lutando contra a repressão, por
uma reforma urbana radical e
por um plano de obras públicas
controlado pelos sindicatos e
associações de moradores.

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