Sexta 26 de Abril de 2024

Internacional

Imperialismo, subordinação e protestos

05 Dec 2004   |   comentários

A cúpula da APEC no Chile não está trazendo grandes novidades imediatas para os capitalistas e seus governos, como Fórum. Se para promover e consolidar os interesses particulares de alguns, principalmente da China com sua investida sobre a América Latina para assegurar a provisão de recursos naturais e a inversão de seus capitais. Ou os Estados Unidos, buscando (de maneira vã) assegurar e consolidar sob forma de acordos uma dominação mais consensual sobre esta importante região do mundo. Depois, as declarações sobre os acordos de livre comércio de todo o bloco ficaram restritas às intenções de alguns empresários, bloqueados por países como EUA, que optaram por acordos bilaterais.

Para países semicolonais como Chile, se trata antes de um gesto político que por um lado sirva como ponta de lança política do imperialismo norte-americano na América Latina. Por outro lado, se assenta como ponte para os negócios entre América Latina e à sia, revertendo-se como passo comercial e talvez financeiro. Finalmente, que afirme sua estrutura como país dependente, provedor de recursos naturais: 64% das exportações anuais estão concentradas em de cobre, celulose, salmão, vinho e madeira. No total, buscam assegurar a subordinação aos interesses do imperialismo.

Mas há algo realmente novo. E não precisamente que agrade aos organizadores desta festa dos ricos. Vencendo a campanha de intimidação dos dias anteriores. Vencendo as medidas repressivas, como por exemplo, a que impedia que as pessoas nas ruas do centro de Santiago ficassem quietas: a ordem era que havia que circular, senão as Forças Especiais de Carabineros te prenderiam. Ou os franco-atiradores que se viam dos edifícios de Santiago, os atiradores com cachorros, os motociclistas, as patrulhas aéreas. As detenções por suspeita. A repressão às marchas e atos de repúdio dos dias anteriores, no quais uma vez presos os que se enfrentavam, eram mantidos confinados nos pátios pelos gases usados na repressão.

Vencendo tudo isto, na sexta-feira dia 19 se realizou a maior mobilização no Chile desde o fim da ditadura. Convocada pelo Fórum Social Chileno reivindicando humanizar a globalização. A marcha se estendeu por 20 quadras, predominantemente composta por famílias de uma classe média cada vez mais castigada e pela juventude. Foram 50 000 pessoas que tomaram as ruas de Santiago. Protestando também contra os efeitos mais irritantes da dominação imperialista norte-americana, “agüente Faluja” rezava algum de los carteles, “não queremos, não nos dá vontade, de ser uma colónia norte-americana” se escutava entre os cânticos, expressando o descontentamento contra o governo entreguista, anti-operário e anti-popular da Concertación, que governa junto com a direita, em um dos países com a pior distribuição de riqueza nacional. Mais irritante ainda quando a economia chilena crescerá até 5% este ano.

Em um momento, a marcha se transformou em uma verdadeira batalha campal: a ameaçadora e provocativa presença dos Carabineros começou a ser rechaçada, se iniciaram enfrentamentos que se estenderam por duas horas, uma barricada cortou a marcha em dois impedindo a mobilidade dos carros que lançavam água com produtos tóxicos, os Carabineros tiveram que retroceder para continuar avançando e detendo tudo o que se movimentasse, incluindo jornalistas que terminaram internados em estado grave.

A importante mobilização foi antecedida pelas lutas do movimento estudantil secundarista e universitário. Pelas lutas do povo nação-mapuche. Pelas lutas de setores dos trabalhadores das minas, portos, hospitais, repartições públicas e algumas empresas industriais. Pela formação de novos setores da classe trabalhadora em novos setores da economia, como a do salmão. Pela formação de novas organizações sindicais, como a Federação dos Trabalhadores do Salmão, ou a Federação dos Trabalhadores Mineiros, com mais de 30 mil afiliados. Mas o grande ausente nesta mobilização foram os trabalhadores. Quando, por exemplo, as trabalhadoras de um dos principais produtos emergentes de exportação, o salmão, tem o seu tempo de banho contado e depois é descontado este tempo de seu salário. Não é uma casualidade que a ameaça do desemprego, a impossibilidade de se sindicalizar ou recorrer a métodos de luta da classe trabalhadora, como a greve, atuem como um limite sempre presente.

Estar atravessando um período eleitoral que se iniciou com as recentes eleições municipais e concluirá no próximo ano com as presidenciais, com a ameaça de um triunfo da direita pinochetista, tem pesado. Certas medidas e anúncios de uma espécie de auto-reforma do regime burguês, por cima, atuam como freio. Mas acima de tudo, as direções atuais da classe trabalhadora na CUT (Central Unitária dos Trabalhadores) colocaram todo o seu peso: junto com sindicalistas da região da à sia Pacífico, se reuniram com Lagos para exigir, suplicar, pela incorporação de um “capítulo sindical” na APEC. E nem sequer foi convocada para a mobilização.

Os militantes trotskistas de Classe contra Classe lutamos pela construção de um partido revolucionário que defenda que para enfrentar e vencer o imperialismo, a classe trabalhadora deve começar por expropriar e colocar sob o controle dos trabalhadores os monopólios imperialistas que junto com seus sócios menores, os burgueses nacionais, usurpam nossas riquezas e super-exploram os trabalhadores. A maior mobilização desde o fim da ditadura, é uma prova mais de que a etapa política no Chile começa a mudar, e que os partidos burgueses não podem seguir governando como até agora.

Classe contra Classe
21/11/2004

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