Sábado 4 de Maio de 2024

Internacional

CHILE

Diante dos acontecimentos na Bolívia e da reunião da UNASUL

18 Sep 2008 | Em outubro de 2003, os trabalhadores, os camponeses, os indígenas e o povo pobre boliviano se mobilizaram em colunas com centenas de milhares de pessoas, pelas principais cidades, como La Paz , El Alto, Cochabamba, contra o saque imperialista e patronal dos hidrocarbonetos, contra o regime da grande propriedade de terra nas mãos do imperialismo, a burguesia e os latifundiários nacionais, e pelo reconhecimento dos povos originários e seu direito à autodeterminação nacional. Ou seja, questionaram nas ruas o modelo neoliberal imposto nos anos 90 e, além disso, a própria estrutura capitalista semicolonial na Bolívia.   |   comentários

A heróica luta dos trabalhadores e do povo boliviano...

Em outubro de 2003, os trabalhadores, os camponeses, os indígenas e o povo pobre boliviano se mobilizaram em colunas com centenas de milhares de pessoas, pelas principais cidades, como La Paz , El Alto, Cochabamba, contra o saque imperialista e patronal dos hidrocarbonetos, contra o regime da grande propriedade de terra nas mãos do imperialismo, a burguesia e os latifundiários nacionais, e pelo reconhecimento dos povos originários e seu direito à autodeterminação nacional. Ou seja, questionaram nas ruas o modelo neoliberal imposto nos anos 90 e, além disso, a própria estrutura capitalista semicolonial na Bolívia.

Os trabalhadores organizados na COB e em outros sindicatos menores, além dos camponeses e indígenas, a partir das suas diversas organizações, enfrentaram nas ruas o governo entreguista e neoliberal de Sánchez de Losada, que finalmente caiu, depois de tirar a vida de 50 companheiros da COB. Só foi possível derrubar este governo entreguista e neoliberal que, com os fuzis da Polícia e das Forças Armadas, reprimiu e tirou vidas operárias, somente porquê os trabalhadores e as massas mantiveram a mobilização nacional e o enfrentamento físico nas ruas, sustentado pela greve geral, bloqueios de estradas e pelos embriões de auto-organização e autodefesa.

Os limites de sua luta

Mas, até hoje, essas demandas estruturais de outubro de 2003 não foram conquistadas íntegra e efetivamente. Os heróicos trabalhadores, camponeses, indígenas e pobres urbanos da Bolívia, ainda continua sem a nacionalização total dos hidrocarbonetos, sem a revolução agrária, e sem o direito à autodeterminação nacional dos povos originários, já que o governo de Evo Morales, sempre buscando o diálogo com a direita, não termina de realizar íntegra e efetivamente as demandas estruturais das massas. E hoje a situação tornou-se ainda mais complexa com o crescente fortalecimento da direita reacionária e raivosa dos estados de Santa Cruz, Pando, Tarija, Chuquisaca e Beni.

A reação da direita

A burguesia e a oligarquia mais reacionária da Bolívia, localizada nos departamentos do leste do país (Santa Cruz, Pando, Tarija, Beni e Chuquisaca), lançaram na semana passada, uma intentona contra o governo de Evo Morales, com “golpes cívico-municipais” nestes departamentos, utilizando como ponta de lança a direitista e facistóide Unión Juvenil Cruceñista (UJC), que é a tropa civil de choque da reação boliviana.

Este passo ofensivo da reação direitista ocorre no marco de uma escalada dos boicotes regionais, bloqueios de estrada e provocações contra o governo de Evo Morales e contra as massas da cidade e do campo. Esta escalada, que vem se fortalecendo há meses, tem como principal fundamento o desgosto dos empresários da cidade e do campo diante das muito magras reformas que fez o governo de Evo Morales, como a reforma dos Impostos Diretos aos Hidrocarbonetos (IDH, que nada mais são do que impostos e semi-nacionalizações sem expropriações) além da Nova Constituição Política do Estado (NCPE) que realiza pequeníssimos avanços na reforma agrária, suficientes para já arrepiar os latifundiários.

A reação pró-imperialista da burguesia e da oligarquia boliviana vem reagindo há meses, levantando a demanda de “autonomias departamentais” , com a qual pretende conseguir uma auto-administração económica e política das províncias, o que permitirá reduzir a incidência das reformas de Evo Morales em seus territórios. Com a reacionária bandeira de “autonomias departamentais” a burguesia e a oligarquia têm construído um movimento civil, em contato com o imperialismo ianque, que tem como seu setor mais reacionário a UJC, e vêm conseguindo cada vez mais força como reação opositora.

A política de “diálogo” e seus resultados

Frente a cada apertão da direita, o governo de Evo Morales não fez mais do que concessões que essa direita, ao mesmo tempo em que chama os trabalhadores, camponeses e o povo pobre a “manter a calma” e “respeitar as vias institucionais” .

Primeiro concedeu à burguesia e à oligarquia que cada ponto da nova constituição precisasse de 2/3 dos votos para ser aprovado. Em segundo lugar aceitou discutir na Assembléia Constituinte o reacionário programa de “autonomias departamentais” . E em terceiro lugar lhes permitiu que realizassem um plebiscito pelas autonomias em suas províncias.

A estratégia de Evo Morales e de seu governo é realizar uma “revolução democrática e cultural” que significa dar concessões às massas em pleno acordo com a burguesia e a oligarquia, dentro das margens da democracia para os ricos. A esta altura, as medidas e o programa que Evo Morales adotou abandonaram completamente as bandeiras dos trabalhadores e do povo pobre, levantadas em outubro de 2003. E, além disso, desarmada progressivamente a capacidade de luta e organização das massas, chamando-as a “manter a calma” , a “não sair nas ruas para não provocar à direita” , o que tem resultado em uma direita fortalecida pelas concessões de Morales e nas massas debilitadas pela política do governo. Nos últimos dias, assistimos ao exemplo mais visível disto.

A intentona reacionária da direita, em colaboração com o imperialismo ianque

A direita fascistóide dos “departamentos autónomos” , dirigidos pelo prefeito de Santa Cruz, Rubén Costas, lançaram “golpes cívico-municipais” durante a semana passada a partir da paralisação convocada por eles contra a NCPE e o IDH. A vanguarda da reação, a UJC, saqueou edifícios públicos, tomou rádios e canais de televisão utilizando armamento de baixo e alto calibre. Diversos meios de comunicação denunciaram o contato dos “autonomistas” com o governo dos EUA, o que foi reconhecido por Savia Cuéllar (prefeita de Chuquisaca). Enquanto que em Santa Cruz a intentona direitista foi combatida pelo povo trabalhador do Plan 3000 [1], no departamento de Pando, enquanto dezenas de camponeses marchavam até Cobija para expressar o apoio ao governo, um grupo da UJC os atacou com armas de fogo de baixo e alto calibre e fuzis, assassinando 14 camponeses, em uma ação fascista, ultra-reacionária e antipopular. Após isto, a UJC tomou o controle territorial de Pando, patrulhando as ruas e atacando o povo trabalhador.

A resposta de Evo Morales, como era de se esperar, foi chamar, mais uma vez, a direita que acabara de assassinar a 14 camponeses, ao diálogo! Junto a isso, decretou o estado de sítio em Pando e fez um chamado a confiar nas Forças Armadas, negando às massas a possibilidade de responder à direita reacionária com a mobilização e o enfrentamento nas ruas. Chamava assim a confiar nas mesmas Forças Armadas e na mesma polícia que em 2003 assassinou 50 operários, e que somente há duas semanas matara dois trabalhadores, Forças Armadas como todas as da América Latina, forjadas em base à matança dos trabalhadores e do povo pobre e na defesa dos interesses da burguesia nacional e por esta via, finalmente, também do imperialismo.

Por sua vez, em um nítido gesto diplomático, Evo Morales, declarou o embaixador norte-americano na Bolívia, Philip Goldberg, persona non grata. Até agora a reação direitista tirou a vida de 30 civis, entre trabalhadores, camponeses e gente do povo. Enquanto isso o diálogo não parece caminhar, apesar que tanto Costas como Cossío (prefeito de Tarija) e inclusive o ultra reacionário Branco Marinkovic, apontaram a intenção de chegar a um acordo, por sua parte Leopoldo Fernández (prefeito de Pando) se nega a toda iniciativa de diálogo.

UNASUL: Pacificação a serviço dos empresários, latifundiários e do imperialismo

É nesta situação que distintos governos da América Latina, como o governo chileno de Bachelet, os chamados “progressistas” de Cristina Fernández da Argentina, Hugo Chávez da Venezuela, Tabaré Vásquez do Uruguai, Rafael Correa do Equador, Lula do Brasil, Fernando Lugo do Paraguai, e inclusive o governo pró-imperialista colombiano de à lvaro Uribe, decidiram realizar hoje no Chile, uma reunião extraordinária da União das Nações Sul-americanas (UNASUL), à qual estará presente o próprio Evo Morales. A reunião tem o objetivo de buscar uma solução pacífica entre o governo de Evo Morales e os cinco prefeitos autonomistas.

Esta reunião realiza-se em meio a fortes enfrentamentos diplomáticos internacionais sobre a atual crise política e social boliviana.

Ao mesmo tempo em que Evo declarou o embaixador dos EUA persona non grata por seus contatos diretos com a reação, Chávez expulsou o embaixador americano na Venezuela e declarou que frente a um eventual Golpe de Estado que tentasse tirar Evo do governo, a “Venezuela reagiria com o Exército” . Lula e Cristina Fernández também declararam seu apoio ao governo de Evo frente uma situação deste tipo. Enquanto as Forças Armadas bolivianas reagiram questionando a “intromissão de Chávez” , os EUA expulsaram o embaixador Venezuelano de seu país e inclusive Obama e McCain (os candidatos presidenciais nos EUA) atacaram as declarações e medidas de Chávez e Morales, remarcando a intenção de “ordenar” reacionariamente a América Latina.

Nós, trotskistas do Clase Contra Clase, seção chilena da FT-QI, acreditamos firmemente que o chamado ao diálogo realizado por Evo Morales à direita, bem como o chamado a confiar nas Forças Armadas, na polícia boliviana e nas medidas internacionais às que estão recorrendo os governos patronais do continente, unicamente contribuem para uma estabilização da situação boliviana cada vez mais inclinada para a direita. Chávez acaba de nos mostrar sua pragmática política internacional quando depois de apoiar as FARC, defendeu ativamente seu desarmamento. O Brasil, junto com o Chile e a Argentina, por meio de suas Forças Armadas, querem domesticar o povo haitiano na bota do saque imperialista, posando falsamente de pacifistas diante da situação boliviana, buscando o mesmo objetivo: que os trabalhadores e o povo pobre boliviano do campo e da cidade se submetam ao diálogo e as concessões de Evo Morales à direita e ao imperialismo.

Os governos patronais reunidos na UNASUL nesta segunda-feira, dia 15 de setembro de 2008, perseguem, como principal objetivo, levar definitivamente os trabalhadores e o povo a um beco sem saída. Porque, como vemos no Haiti e na política internacional traiçoeira de Chávez, mais que a “paz” , lhes interessa preservar a domesticação da classe trabalhadora e do povo. Este é o conteúdo muito nítido, da UNASUL, o qual contribui diretamente à política conciliadora do governo de Evo Morales.

Nós, trotskistas do Clase Contra Clase, acreditamos que os trabalhadores e o povo boliviano devem confiar unicamente em suas próprias forças e na solidariedade internacional de seus irmãos e irmãs de classe, e não na estratégia de colaboração de classes do governo de Evo Morales, não na Polícia e nas Forças Armadas bolivianas assassinas de operários, nem na mediação de governos que assassinam o povo haitiano e ficam do lado do imperialismo contra a esquerda. No conjunto, com nossos companheiros da Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional, da Bolívia, lhes dizemos: É possível derrotar à direita “autonomista” com a mobilização e a autodefesa de massas! A solidariedade internacional de todos os trabalhadores e povos do mundo, é urgente hoje e é a única que pode fortalecer os trabalhadores e o povo boliviano.

 Pela derrota da reação direitista!

 Viva a legítima autodefesa do povo trabalhador de Santa Cruz contra a reação!

 Por uma grande frente única de massas contra a reação, independente da política do governo!

 Mobilização e autodefesa de massas auto-organizadas a partir da classe trabalhadora, dos camponeses e do povo pobre!

 Pela nacionalização sem indenização e sob controle operário dos hidrocarbonetos!

 Pela expropriação da terra dos latifundiários!!! Terra para quem a trabalha!

 Nenhuma confiança na colaboração de classes, nas Forças Armadas, nem nos governos patronais da América Latina!

 Fora o imperialismo da América Latina!

Segunda, 15 de setembro de 2008

Clase Contra Clase (Chile)

Traduzido por Miriam Rouco

[1Bairro popular de Santa Cruz.

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