Sexta 26 de Abril de 2024

Nacional

Balanço e perspectivas do Ensaio Geral revolucionário

Governo Lula e o PT no processo boliviano

14 Nov 2003 | Lula interveio para sustentar à oligarquia assassina boliviana em nome da “continuidade democrática”   |   comentários

É comum ouvir em setores da esquerda petista de que o governo Lula tem no campo internacional uma política “progressista” . De que “até o momento, a política internacional tem sido o aspecto mais positivo da orientação do governo” , em função de seus discursos nas negociações externas. Porém, na verdade, no caso da Bolívia foi o sustentador de regime assassino da oligarquia nativa frente a ameaça dos trabalhadores e o povo desse país de dar-lhe o golpe final. Assim, enquanto as balas do exército boliviano massacravam vidas de operários e camponeses para sustentar o governo liberal e entreguista de Sanchez de Losada, Lula tendeu uma mão ao regime assassino desse país, atuando como mediador, junto ao governo da Argentina, para dar uma “saída negociada” ao maior processo revolucionario que viveu Bolívia nos últimos anos vinte anos, enviando a Marco Aurélio Garcia ao país vizinho.

O levante boliviano foi protagonizado por operários, camponeses e indígenas, e enfrentaram a resistência e o ódio racista de sua oligarquia dominante. A greve geral por tempo indeterminado e a insurreição, métodos da própria classe operária, aterrorizaram à burguesia nativa, os governos da região e ao imperialismo ianque. A chamada “guerra do gás” não foi mais que o emergente das contradições profundas de uma sociedade onde o 20% da população mais rica fica com o 54% da riqueza, e onde o 20% mais pobre, na sua maioria indígena, só com o 4%. A Bolívia burguesa já não pode oferecer nada às massas, suas elites nativas tem entregado tudo o que tinham por entregar. A supervivência da dominação imperialista e do capitalismo ameaça inclusive com a desagregação nacional, já que as burguesias de regiões mais ricas do país, como Santa Cruz, ameaçam com separar-se do estado para “fugir do caos” .

Assim, Bolívia é a expressão de que este sistema só tem para oferecer penúrias infinitas aos operários, aos camponeses e aos indígenas, ao povo pobre. É uma expressão de como o imperialismo submete aos povos oprimidos às piores humilhações. A rebelião do povo boliviano nos fala de que é necessário derrotar as pretensões imperiais num mundo onde os Estados Unidos, com a força de seus exércitos de intervenção, intenta impor sua hegemonia em todo o planeta, que se traduz em uma nova ordem neocolonial para a periferia. Na América Latina as classes dominantes nativas e governamentais aceitam as regras do jogo, ou como muito procuram regatear alguma coisa deste novo estatuto colonial, como temos observado em todo este ano com o governo Lula.

A saída institucional negociada sob o imperialismo e a intervenção do governo Lula, junto à Argentina, permitiu que o outro responsável pelos assassinatos, o vice-presidente Mesa, assumisse o governo, evitando uma crise superior. Lula interveio para sustentar à oligarquia assassina boliviana em nome da “continuidade democrática” . O chamado “Consenso de Buenos Aires” , assassinado entre a Argentina e o Brasil, estreou “salvando a democracia” oligárquica e assassina boliviana e permitiu que o carniceiro Sánchez de Losada fugisse para Miami. Assim, segundo um comunicado oficial do ministério das Relações Exteriores, “o governo brasileiro, ao longo da crise na Bolívia, pautou sua atuação pela ´necessidade de preservação da paz e da estabilidade institucional democrática´" . E a direção do PT não podia ficar atrás. No meio dos acontecimentos declarava que “o Partido dos Trabalhadores apóia o processo de negociação entre todas as partes com o objetivo de encontrar uma saída para o conflito, em que todos os interessados possam ter sua posição representada para, assim, atingir o objetivo comum em defesa do interesse da população boliviana” . A suposta face de político internacional “progressista” , se mostrou verdadeiramente como é, reacionária até a medula. Por isso consideramos que a oposição e a luta contra o imperialismo não virá das mãos dos que aceitam os planos do FMI, e sim da iniciativa e decisão da classe operária e os povos da região.

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