Domingo 28 de Abril de 2024

Nacional

ATOS DE 1º DE MAIO NO BRASIL

Festas e missas: a classe operária sem representação política independente dos patrões e governo

13 May 2009   |   comentários

Com mais de 2 milhões de demissões desde setembro, com cortes de salários e direitos, PDVs, suspensões de contrato, férias coletivas e ameaças pairando sobre a educação e saúde em muitos estados e municípios os trabalhadores brasileiros não tínhamos nada o que comemorar neste 1º de maio. Mesmo assim, por cima dos empregos, condições de trabalho e vida de milhões de trabalhadores, sobretudo os jovens, os precários e terceirizados as burocracias sindicais da CUT, Força Sindical e CTB organizaram seus criminosos shows com sorteios de carros e apartamentos ao invés de organizar a resistência operária. E, quando organizam marchas de resistência é para colocar os trabalhadores a frente no reclamo patronal de “rebaixa de juros” para que os industriais não arquem com a crise.

A completa conivência destes burocratas sindicais com a ofensiva patronal está ligada, também, a que os primeiros setores tocados pela crise não são os setores mais sindicalizados e a burocracia não os defender ainda não tem lhe custado o que mais lhe importa: seus cargos e privilégios. Esta situação destoa profundamente das necessidades da classe operária e das massas no Brasil, bem como das massivas e combativas manifestações realizadas na França na mesma data, que forçaram a própria burocracia sindical à ação, ou ainda das radicalizadas ações de jovens enfrentando-se com a polícia na Grécia ou as manifestações de trabalhadores junto com imigrantes na Alemanha que pela combatividade e massividade impediram a manifestação pública de partidos nazistas.

Esta vergonha impulsionada pelos pelegos e governistas, de distintas matizes no Brasil lamentavelmente não foi combatida pelos setores anti-governistas que tinham como responsabilidade organizar a uma ampla vanguarda detrás de um programa classista para que os capitalista paguem pela crise. Por isso, a classe operária não teve neste 1º de maio representação alguma de seus interesses, uma vez que a CONLUTAS e INTERSINDICAL deram passos largos em sua adaptação a igreja, às burocracias sindicais e até ao governismo.

Sem os terceirizados e precarizados, com a igreja, burocratas e governistas

A crise capitalista permitia mobilizar audaciosamente setores mais amplos de trabalhadores, organizar uma vanguarda combativa detrás de um programa que levasse a superar as divisões impostas a nossa classe e sua posição independente na luta de classes. Para fazer expressar o classismo era necessário partir do decidido combate contra os PDVs como demissões, ao combate contra as demissões de terceirizados e temporários como ataques ao conjunto da classe, lutar decididamente contra as distintas variações patronais (como redução dos juros ’ programa adotado pelo PSOL e “aceito” pelo PSTU em o que chama de “frente únicas” ) e contra os governos, particularmente o Lula, e sua influência na classe operária.

Foi todo o contrário o que organizaram o PSOL, PCB e PSTU correntes que dirigem centenas de sindicatos e INTERSINDICAL e CONLUTAS. Este peso sindical não expressou-se em uma vanguarda nos atos nem em programa ou lições na luta de classes. Não partiram de tirar lições das importantes derrotas sofridas pela classe em setores de sua influência como a GM e Embraer em São José dos Campos, SP e a Vale do Rio Doce em Itabira e Congonhas, MG, e aprofundaram o que vem aprendendo e ensinando à classe: unidade com aqueles que nos atacam e propaganda abstrata de socialismo para o futuro.

Sem mobilizar mais que nos anos anteriores, esta esquerda realizou nova unidade com a igreja, burocratas e governistas. Em Belo Horizonte reeditaram o ato do dia 30/3, confundindo as bandeiras da esquerda com o programa pelego e patronal da Força Sindical e até da arqui-amarela UGT. No tradicional ato de São Paulo triunfou o elemento “tradicional” sobre o elemento “ato” . Em nome da unidade com a Pastoral Operária e a novamente mal-sucedida aposta em que a pastoral mobilize os operários (em concorrência com as festas chamadas pela mídia, burocracia e patronais), a esquerda convocou os trabalhadores à missa. Insatisfeitos comungaram ainda mais longe de seu disparate: abriram o carro de som ao Bispo de São Paulo. Ativo membro da CNBB e sua campanha de perseguição das mulheres que abortam, este senhor é o organizador das demissões, expulsões e precarização da PUC-SP a serviço do Bradesco e Banco Real.
Depois do sermão bispal introduziram mais uma “novidade” no ato de 2009, o direito a palanque eleitoral ao governismo. Eduardo Suplicy, senador do PT, que depois esteve presente (em representação do governo?) nos atos da CUT e da Força Sindical falou no ato que “os trabalhadores tem que aprofundar e melhorar seu voto para vereança, deputado, presidente” . Que vergonha, e ainda assim, tem a coragem de falar de triunfo... ou vitoria... Depois destes sermões foi a vez de ouvir novamente, como manda a tradição, as figuras eleitorais da esquerda: Didi, Mancha, Atnagoras, Ã ndio. Os demitidos, os lutadores não tinham fala. Brandão não pode falar. Mas toda esta liturgia de adaptação pode repetir-se.

Erguemos bem alto as bandeiras da independência de classe

Aqueles militantes do PSTU, PSOL e PCB que enchem a boca para gabar-se de sua inserção sindical devem questionar-se o que esta quantidade quer dizer qualidade em mobilização e em programa. A adaptação no que chamam de frente única também expressa-se no programa que tem poucos aspectos que reconduzem ao Programa de Transição. O programa do PSTU, em muito reduzido a exigências a Lula, exprime sua falta de confiança na classe operária para que ela unifique suas fileiras e derrote a burguesia, nem que seja temporariamente e em uma fábrica, como na cerâmica Zanon da Argentina.

Sem ter o peso sindical que tem estas correntes, nos orgulhamos de ter organizado uma importante coluna, o Bloco Classista e Anti-Imperialista no ato da Sé em São Paulo, que chegou a contar com 250 pessoas, entre trabalhadores e estudantes do grupo revolucionário de mulheres Pão e Rosas, da juventude marxista do Movimento A Plenos Pulmões e de vários trabalhadores e jovens de diversas fábricas e locais de trabalho. Nosso bloco travou uma importante luta política para expressar em conteúdo sua forma classista, e rompeu com o ato ao canto de “nosso bloco é classista não tem Suplicy governista” . Não cantamos vitórias de atos em que a Igreja, o governo e burocratas lavam seus rostos enlameados de sangue e suor operários. Vitoriosos são os atos que ajudam a classe a organizar-se independentemente da burguesia.

Como foi marchar com o Bloco Classista?
“Fui ao ato através do convite do meu amigo X, militante da LER-QI com o intuito conhecer mais sobre as manifestações esquerdistas que ocorrem no 1º de maio. Sou sincero ao falar que todas me decepcionaram, exceto o bloco em que estavamos presentes, pois enquanto o pessoal do PCB, PSTU e outros blocos ficavam parados ouvindo políticos sem tomar alguma iniciativa, nosso bloco se mostrava bem mais organizado e unido, com bem mais força de vontade e de luta que qualquer um, e tudo isso me impressionou, ao tanto que posso dar a certeza que ano que vem estarei lá outra vez!” Rafael Marigo - Estudante do 1º Ano de Ciências Socias da FSA

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