Sexta 26 de Abril de 2024

História

Dia da mulher, o dia da revolução

01 Dec 2014 | É uma casualidade que o primeiro dia da revolução de Fevereiro/Março foi coincidida com o dia da mulher? O que fez o Estado conquistado com a revolução de Outubro/Novembro pela emancipação das mulheres? Tudo começou em 1917?   |   comentários

Em 1917, o dia da Mulher começava com uma greve das operárias têxtis, e se transforma no primeiro dia da Revolução Russa. Essa greve não havia sido a primeira. As lutas operárias entre 1905 e 1907 incluíam nas suas demandas as necessidades das mulheres.

Os anos prévios

Em 1917, o dia da Mulher começava com uma greve das operárias têxtis, e se transforma no primeiro dia da Revolução Russa. Essa greve não havia sido a primeira. As lutas operárias entre 1905 e 1907 incluíam nas suas demandas as necessidades das mulheres. Não existiu quase nenhuma greve que não mencionara de nenhuma forma demandas, como o pagamento da licença a maternidade, tempo livre para as lactantes ou a criação de creches nas fabricas.

Nos anos prévios a revolução, existia (entre muitas outras) uma discussão sobre a organização das mulheres trabalhadoras dentro do Partido Operário Socialdemocrata da Rússia (POSDR). Os dirigentes mencheviques se opinião expressamente; ao contrário, os bolcheviques impulsionavam sua organização.

Em 1911, começa a celebrasse o Dia da Mulher. Outra vez surgem as diferenças: os mencheviques dizem que marcham apenas com as operárias, e os bolcheviques dizem que não, que essa data devia ser comemorada por toda a classe trabalhadora, homens e mulheres.

No Dia da Mulher de 1914, o Partido Operário SocialDemocrata, por iniciativa de Lenin, publicou em São Petersburgo o jornal Rabotnitsa (A operária), jornal para mulheres trabalhadoras. A pesar de quase todas as editoras do jornal, entre elas as dirigentes mais importantes do bolchevismo: Inessa Armand, Nadezhda Krupskaia e Anna Ulianova-Elizarova, estarem detidas, os doze mil exemplares que estavam previstas para comemorar o Dia da Mulher saíram a luz.

Em 1915, a Terceira Conferência Internacional de Mulheres Socialistas celebrada em Berna, participou uma delegação de mulheres bolcheviques, transformando a reunião em um dos primeiros polos onde se agruparam os revolucionários que se opinião a política chauvinista da socialdemocracia alemã, que apoiava a sua burguesia na Primeira Guerra Mundial. Dessa conferencia sairia a consigna popularizada pelos bolcheviques de “Guerra à guerra”.

A revolução de Outubro

Logo depois da tomada do poder, as mulheres trabalhadoras conquistaram direitos com que os Estados Unidos ou Europa nem sonhavam todavia: educação, direito ao voto, direito ao aborto, ao divórcio, igual salario a igual trabalho, entre outros. A revolução, longe do prejuízo alimentado por visões liberais e reformistas, não deixou nada para manhã nem propôs os direitos das mulheres como “temas secundários”. Apenas abriu um mundo novo para elas.

Pela primeira vez as mulheres dispunham de sua vida, já não dependiam do marido para ter documentos, ou decidir onde viver. Obtiveram acesso a educação, ingressaram às fabricas. A revolução pois tudo em questão: o poder da igreja, do matrimonio, das uniões livres, do amor, da sexualidade, da família, da educação das crianças, impulsionaram a socialização do trabalho doméstico, entre tantas outras questões da vida cotidiana. O processo não esteve isento de contradições, teve avanços e retrocessos, expressava o rasgo entre a sociedade nova para nascer e a velha sociedade opressora que se desmanchava.

O código civil de 1918, resultante de profundos debates e estudos de juristas, intelectuais e dirigentes bolcheviques, não teria comparação com a legislação mais avançada dos países centrais europeus. Entre os objetivos dos esforços estava garantir a igualdade ante a lei de homens e mulheres, mas especialmente trabalhar na transformação radical de todo aquele que dificulta a igualdade perante a vida, onde as mulheres permaneciam atadas ao trabalho doméstico, vítimas de opressivos costumes ancestrais, que era necessário arrancar a raiz da cultura e da vida social soviéticas.

E apesar das dificuldades econômicas e políticas (as medidas mais audazes se tomaram ao mesmo tempo que a URSS enfrentava a guerra imperialista e a guerra civil) nunca foram o freio para os bolcheviques e a geração de 1917, o atraso econômico, a fome e, especialmente, a derrota da revolução na Europa, preparam um caminho de retrocesso.

A reação

Na direção absolutamente oposta aos sonhos libertários de 1917, o regime stalinista se rendeu ao culto a família como ferramenta de disciplinamento social, condenou novamente as mulheres ao lar, limitou o desenvolvimento da socialização dos serviços de creches, lavanderias e restaurantes, desconheceu as uniões livres e estabeleceu o matrimonio civil como única união legal, suprimiu a sessão feminina do Comitê Central do Partido Bolchevique, voltou a penalizar a homossexualidade, (como em tempos de Czarismo), criminalizou a prostituição e proibiu o aborto.

Junto com a perseguição e a cadeia, os fuzilamentos, o exilio e os julgamentos fraudados, paradoxalmente em nome do socialismo, se desacreditaram todas as ideias que se debatiam ardentemente nos primeiros anos da revolução. A reversão ideológica que empreendeu stalinismo representou uma tragédia, não apenas ao destruir a possibilidade de edificar uma nova ordem social, senão que o partido que a levaria adiante se fez representante de si mesmo como herdeiro da revolução. E como assinala a historiadora Wendy Z. Goldman, autora de Mulher, Estado e Revolução, “a tragédia mais grande de todas é que as gerações seguintes de mulheres soviéticas, deserdadas dos pensadores, das ideias e dos experimentos gerados por sua própria revolução, aprenderam a chamar a isso de “socialismo” e chamar a isso “liberação”. Nada mais longe da revolução que honrou seu compromisso com as mulheres, e lutou ombro a ombro com elas para alcançar a sua emancipação, e sonhou uma sociedade liberada de todas as misérias materiais. A geração que assaltou o céu na Rússia em 1917, imaginou novas formas de relações humanas, despojadas da coerção, da repressão, do despotismo e da mesquinhez familiar.

Nas palavras de Alexandra Kollontai: “Se alcançamos que das relações de amor desapareça o cego, exigente e absorvente sentimento passional; se desaparece também o sentimento de propriedade do mesmo que o desejo egoísta de “unir-se para sempre ao ser amado”; se alcançamos que desapareça a tolice do homem e que a mulher não renuncie criminalmente ao seu “eu”, não resta dúvida que a desaparição de todos os sentimentos fará que se desenvolvam outros elementos preciosos para o amor” (Carta a Juventude Operária, 1921).

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