Quinta 16 de Maio de 2024

Nacional

As contradições do crescimento do PSOL

20 Jan 2005   |   comentários

Para todos os revolucionários no Brasil, o fenómeno objetivo mais importante hoje é o processo de ruptura das massas com o PT. O curso e os ritmos desse processo serão determinantes para definir toda a próxima etapa da luta de classes no país. Todo projeto político de esquerda deve ser compreendido nesse marco, e é a partir de sua intervenção nesse processo que deverá provar sua viabilidade e sua relevância histórica.

Atualmente, e principalmente desde as eleições municipais do ano passado, o PSOL vem ganhando autoridade como principal alternativa à esquerda do PT. De fato, salta aos olhos a dinâmica de crescimento que o PSOL tem assumido nos últimos meses. Já na marcha contra as reformas do governo Lula no dia 25 de novembro em Brasília, em sua primeira grande aparição pública como partido, o PSOL demonstrou dividir meio a meio com o PSTU a influência política sobre a vanguarda antigovernista. Em dezembro, uma pesquisa de opinião atribuiu 5% das expectativas de voto para Heloísa Helena nas eleições Presidenciais de 2006, o que expressa setores do movimento de massas. Nas últimas semanas de janeiro, um grupo de pelo menos 100 militantes da esquerda do PT, incluindo importantes figuras públicas como o membro da Executiva Nacional da CUT Jorge Luís Martins e o intelectual Plínio de Arruda Sampaio Jr.; e setores das correntes Democracia Socialista, Articulação de Esquerda, intelectuais e petistas ligados à Igreja Católica, aponta para sua adesão ao PSOL no Fórum Social Mundial.

Esse crescimento atribui uma enorme responsabilidade ao PSOL, pois mostra força potencial para atrair os setores que rompem com o governo Lula e o PT. Ao mesmo tempo, atribui aos setores de vanguarda da classe trabalhadora a tarefa de criticar duramente o programa, a estratégia e os métodos que têm guiado o PSOL em seus primeiros meses de existência, pois esses 5% de expectativa depositados em Heloísa Helena expressam o descontentamento em relação ao governo Lula e ao PT, e precisam ser canalizados para uma alternativa de independência de classe capaz de disputar a influência das massas com o PT, e não para um novo projeto destinado reeditar os mesmo erros do PT.

As manobras burocráticas da direção do PSOL

Vários setores já vinham questionando desde as eleições de outubro de 2004 os métodos para a tomada de decisões dentro do partido após a resolução que abriu as portas para o apoio a candidaturas do PPS, do PCdoB, do PT e até mesmo do ex-partido de Collor, por parte de algumas das principais figuras públicas do PSOL. Depois, foi o discurso de Heloísa Helena na Convenção do PDT, tecendo inúmeros elogios a esse partido, e os rumores de que João Fontes iria para o partido do falecido Brizola, que deram continuidade ao constrangimento já presente. Desta vez, o lançamento oficial da candidatura de Heloísa Helena para a Presidência da República pelo PSOL no dia da entrega das assinaturas necessárias para a fundação do partido abriu uma verdadeira crise junto à base do partido, chegando a dar origem a uma carta aberta assinada por vários militantes na qual criticam os métodos da direção do partido.

Aonde vai o PSOL? [1]

Os métodos burocráticos adotados pela direção do partido não estão de forma alguma descolados dos interesses programáticos e estratégicos que norteiam essa direção. Porém o mais importante é que não é devido aos métodos burocráticos da direção, nem pelo seu programa conciliador, nem muito menos devido aos namoros públicos com os burgueses PPS e PDT, que o PSOL aparece hoje como uma alternativa atrativa para as massas. O que dá força a esse partido, contra o que sua direção defende, é o fato de que ele aparece para os trabalhadores e para a juventude como uma nova bandeira, sem máculas, construída por aqueles que vieram a público denunciando os ataques do governo Lula aos trabalhadores e que se negaram a acompanhar Lula e o PT em seu giro direitista.

É por isso que o mesmo fortalecimento do PSOL que saudamos como enfraquecimento do PT, lança uma imensa sombra sobre o destino dos trabalhadores e do povo brasileiro. Porque o PSOL tem hoje uma direção disposta a lançar mais uma vez por terra as esperanças das massas, e a usar a autoridade de que goza hoje para construir um novo engendro que só trará mais amargura e desilusão aos trabalhadores.

É preciso seguir de perto a evolução do PSOL, saber entender o progressivo sentimento das massas que se aproximam dele, dialogar com tal sentimento, e combater a direção que hoje impõe uma trajetória reformista ao partido, levando adiante contra ela uma luta por um programa e uma estratégia baseados na independência de classe dos trabalhadores.

[1Para uma crítica programática profunda ao PSOL, consultar “Um PSOL que obscurece” , Palavra Operária nº 12 e “Um experimento pós-marxista” , na Revista Estratégia Internacional Brasil nº 1.

Artigos relacionados: Nacional , Debates









  • Não há comentários para este artigo