Sábado 4 de Maio de 2024

Movimento Operário

Os novos ares da luta de classes

A revolta azul, amarela e vermelha contra a burocracia governista

22 Sep 2007   |   comentários

O vidro quebrado no carro de som, na assembléia da última quarta-feira 19/9, denunciava que o ritmo da greve nos correios não caminhava como a direção do sindicato gostaria. Na Praça da Sé, trabalhadores com a roupa azul e amarela exigiam aos gritos que os diretores do sindicato descessem do “palanque” para enfrentá-los cara a cara. A direção, composta majoritariamente pela Corrente Sindical Classista (PCdoB) e pela Articulação (PT), preferiu chamar a polícia militar que reprimiu os trabalhadores com gás pimenta, bombas e balas de borracha para escoltar alguns dos seus diretores, alvo da fúria da peãozada.

Durante essa assembléia, foram distribuídas cópias do pedido de férias de um dos trabalhadores da oposição do sindicato e no carro de som, um diretor apelidado “sem-terra” , gritava ao microfone que ele fosse expulso. O engano dos governistas foi não perceber que os trabalhadores em greve sabem quem está do seu lado. Vêem esse trabalhador todos os dias no piquete, mesmo estando de férias. Além disso, o pedido vinha com o carimbo de “segunda via” , deixando claro que foi com a empresa que a diretoria conseguiu a cópia. Dessa manobra da diretoria, que propositalmente implodiu a assembléia por saber da disposição dos trabalhadores em passar por cima dos velhos pelegos, extraiu-se uma importante lição, conforme nos falavam os carteiros grevistas ao final do confronto: “Vão assinar o acordo de madrugada e avisar a imprensa antes de avisar a gente” . Dito e feito.

Na quinta-feira, dia 20/9, nova assembléia. A direção do sindicato tinha, de novo, o mesmo objetivo: entregar a luta. No entanto, os trabalhadores revoltosos na base, responderam à altura. Os diretores governistas tentaram dar informes do acórdão feito na noite anterior como se aquilo fosse “grandes conquistas” que teriam conseguido pela categoria. A assembléia não deixou: gritou, apitou e agitou até que desistissem. Tentaram também falar das dificuldades e terríveis sofrimentos que viriam se a greve continuasse. Foi inútil: os trabalhadores responderam com vaias e erguiam os cartazes: “A GREVE CONTINUA” . O que há de novo é que esta greve não fazia parte dos planos da burocracia governista. Os trabalhadores combativos organizaram um comando de greve por fora da diretoria sindical. Um trabalhador havia nos dito que “se a diretoria tentar acabar com a greve, o comando de greve vai dirigir a luta. Já não são eles que estão dirigindo a greve, são os trabalhadores” ; e ele provou que tinha razão. A assembléia votou em peso, esmagadoramente, pela continuidade da greve. A diretoria, no carro de som, teve que cantar “a greve continua” junto com o coro vitorioso dos trabalhadores dos correios, uma massa azul, amarela e vermelha, que deu uma primeira mostra de como se combate uma direção burocrática. Enquanto os burocratas tentavam se relocalizar, os trabalhadores já organizavam os piquetes do dia seguinte, por regional.

Durante a madrugada de quinta para sexta no ABC, o piquete demonstrava disposição em seguir adiante, pela manutenção da greve. Nos CEE”™s (Centro de Encomendas Especiais) de São Bernardo e Santo André, sob a fina garoa que começava a cair nas primeiras horas da manhã, os trabalhadores diziam: “somos os primeiros a entrar e os últimos a sair” . As 10h da manhã de sexta-feira chegava ao conhecimento de todos o parecer do TST (Tribunal Superior do Trabalho) que, como previsto, condenava a greve abusiva e estipulava o prazo de 18h do mesmo dia para o fim da greve. Esse era o trunfo que a burocracia almejava, além do acordo feito pelas costas dos trabalhadores com o governo e a empresa, para trair na assembléia de mais tarde.

O que aconteceu na assembléia de sexta-feira era também previsível. Com a carta do TST em uma mão, e a proposta do governo/empresa na outra, os burocratas da direção do sindicato, junto do advogado não menos traidor, faziam todo o tipo de ameaça aos trabalhadores, caso estes optassem novamente pela continuidade da greve. Falavam de toda retaliação e ataques que a categoria e o sindicato sofreriam, e das “vitórias” que seriam perdidas, para enterrar a greve. Na proposta da empresa foi concedido aquilo que os trabalhadores já sabiam: pouco mais de 3% de reajuste, adicional de periculosidade, nenhuma punição e garantia de não cortar o ponto dos dias parados. Infelizmente, a oposição também foi incapaz de dar uma resposta superior. O PCO, foi contra a greve desde o começo porque “A greve não estava preparada". Por isso, foi rechaçado pelo setor mais combativo. Visivelmente, quem também não estava preparado era o PSTU, que por sua impotência política, programática e estratégica, não se apresentou em nenhum momento como alternativa de direção combativa, independente do governo e da burocracia e, ainda por cima, apresentou uma proposta mais esdrúxula que a dos pelegos: não aceitar o acordo (a proposta da empresa), e voltar ao trabalho segunda-feira (24/9)! Ou seja, propuseram rifar o pouco que foi conquistado, fruto da luta radicalizada mesmo com a direção burocrática traindo a todo momento, sem garantir a conquista de nenhuma punição, e voltar ao serviço de mãos abanando, de cabeça baixa, abrindo brecha pro governo atacar os trabalhadores carteiros no momento seguinte e qualquer outra categoria que fizer greve. Vê-se no PSTU, claramente uma militância adaptada, acostumada a plebiscitos, eleições, marchas etc, mas completamente incapaz de uma atuação revolucionária no terreno da luta de classes. Tão adaptado à democracia dos ricos, o PSTU não foi capaz sequer de apresentar uma alternativa contrária à instituição burguesa TST que levasse os trabalhadores radicalizados a retomar a greve em suas mãos, desde a base, reforçando e ampliando os comandos por unidade.

Sem alternativa, os trabalhadores se viram obrigados a aceitar a proposta da patronal. Mesmo assim, o sentimento anti-burocrático despertado nos companheiros dos correios, e a necessidade de construir uma nova direção, não ficaram para trás. Assim como na quarta-feira, quando os pelegos governistas recorreram ao aparato repressivo do Estado para escapar da fúria da classe trabalhadora, mais uma vez foi necessário chamar os “companheiros policiais” que já estavam desde o começo da assembléia, prontos para servir aqueles que talvez um dia sejam seus superiores. Os burocratas que hoje se livram das massas escoltados pelo exército da burguesia, amanhã estarão ocupando diretamente cargos nos governos burgueses, fazendo leis anti-operárias, atacando diretamente aqueles que se levantam e lutam pelos seus direitos. Porém, o brilhante exemplo dado pelos “companheiros azuis” dos correios, sua combatividade e seu espírito anti-burocrático, continua sendo o grande motor da luta de classes e traz o “ar fresco” de um incipiente ressurgir das lutas dos trabalhadores e do povo contra a opressão e a exploração capitalista.

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