Segunda 13 de Maio de 2024

Internacional

ESTADOS UNIDOS: A CRISE ECONÔMICA DIVIDIU OS PARTIDOS CAPITALISTAS

A economia norte-americana mais perto do abismo

03 Oct 2008 | Como se fosse possível, o sistema financeiro está a um passo mais próximo do abismo. Só falta um pequeno empurrão para que se produza uma débâcle. Este detonador pode ser uma corrida no circuito interbancário internacional dos principais bancos estrangeiros se estes começam a se preocupar com a solvência das instituições financeiras dos EUA. Por mais que o plano de resgate que eventualmente seja aprovado nos próximos dias no Congresso, os gigantes dos bancos norte-americanos sofrem uma perda de confiança monumental. Neste panorama, a descomunal crise política em Washington agrega doses elevadas de incerteza. O colosso do capitalismo mundial se parece cada vez mais com a Argentina em 2001. É incrível que seja possível pensar na comparação apesar das óbvias diferenças. Tanto é assim que os economistas como Paul Krugman falam já de uma “república de bananas”. A crise, que por sua vez se expande ao mundo, golpeia violentamente a Europa com uma onda de resgates bancários e nacionalizações do sistema financeiro. A crise financeira e econômica mundial dá novos saltos.   |   comentários

Descomunal crise política em Washington

O desconcerto que se havia apoderado de Washington frente à aceleração da crise dá um salto dantesco com o rechaço do Plano Paulson pela Câmara de Representantes do Congresso norte-americano. Este resultado é expressão por um lado da extrema debilidade de Bush, a quem o apelido de “pato manco” (expressão que se usa para descrever a falta de poder do presidente) é demasiado grande. Seu nível de aprovação caiu para 26% - o mais baixo de sua presidência- enquanto mais de 70% o desaprova. Sua incapacidade de convencer a opinião pública da necessidade do plano de resgate foi patente. Sua apelação ao medo, invocando em termos sombrios de nada serviu. Seus repetitivos discursos não tiveram o menor impacto na população, uma vez que nem sequer conseguiram mobilizar seu Partido num momento de inusitada gravidade como este. Em segundo lugar, o fracasso parlamentar é expressão das fortes divisões do Partido Republicano, uma das patas centrais do sistema bipartidário. A batalha pela nomeação presidencial não fez nada para fechar as profundas diferenças que o atravessam, e que saíram à superfície uma vez que se erodiu o projeto neo-imperialista de Bush no começo de sua segunda presidência. Se McCain perde, perspectiva cada vez mais provável graças ao novo cenário aberto pela crise económica, o Partido Republicano pode entrar em um período de dura luta interna já que carece de liderança e de coesão. Que um eventual governo de McCain tampouco fechará esta brecha se demonstra pelo escasso eco que seu candidato teve sobre seus partidários apesar de ter anunciado a suspensão de sua campanha eleitoral para se colocar à frente da solução da crise económica. Seu pedido não teve o menor impacto sobre os setores mais direitistas do partido, que apresentaram a tentativa de transferir uma vasta soma de dinheiro aos setores mais ricos como “socialismo” . O representante de Michigan, Thadeus McCotter, foi tão longe que chegou a invocar a Revolução de Outubro de 1917 na Rússia dizendo que o plano lembrava o slogan de “pão, paz e trabalho” . Estes representantes do grande capital, ainda que soem demagógicos para alguns setores desesperados da pequena-burguesia vítima das hipotecas subprimes, no marco da crise criada pelo parasitismo de Wall Street estão em última instância por menos impostos aos ricos e pela destruição do que ainda resta da assistência social nos EUA, transferindo todo o dinheiro público ao grande capital, mas por outro caminho.

Por sua vez, o Partido Democrata apesar de sua aberta aliança com Wall Street e do papel responsável de seu candidato presidencial, Barack Obama, que apoiou desde o primeiro momento a necessidade de um plano de resgate e acordou com Bush e McCain os detalhes do pacote de resgate aos bancos em quebra, não póde evitar que um setor de seus parlamentares mais populistas ou “liberais” votassem contra o mesmo, considerando a medida como um resgate para os multimilionários dos maiores bancos, apesar das decorativas emendas que se incorporaram para faze-lo mais palatável à população. É que junto à desconfiança do próprio mercado financeiro frente a certos limites que se colocavam ao plano de resgate original, um elemento determinante foi o rechaço de grande parte da população que pressionou os legisladores para que não aprovassem o resgate, no marco do temor dos legisladores de ambos os partidos que seu voto favorável pudesse comprometer suas chances de reeleição legislativa nos próximos comícios. O resultado é uma crise política descomunal em Washington. A gravidade do momento é ilustrada pelo principal editorialista do Financial Times que na semana passada dizia que o Plano Paulson não solucionaria a crise, e agora assustado pela inação parlamentar que poderia abrir caminho a uma nova Grande Depressão, coloca em sua coluna desta semana que: “O plano é certamente defeituoso. Mas o fracasso de ratifica-lo torna improvável que alguém se convença de que algo melhor está próximo. Convencerá que os EUA estão escolhendo serem mais impotentes. Num momento de tal fragilidade quando a segurança que o governo oferece é mais que indispensável, esta é a pior mensagem” (“Congress decides it is worth risking depression” , Financial Times 30/9).

Esta nova realidade política agrega um elemento de forte incerteza na crise e em suas prováveis saídas. A ruptura da coalizão neoliberal (hoje Bush, mas também Obama e McCain) na votação da Câmara de Representantes foi suficiente para opor ao Plano Paulson I mas é incapaz de oferecer uma alternativa do tipo New Deal, já que é impossível por agora que se reúnam politicamente para além desta última votação. Pelo contrário, a aparição de linhas de ruptura em ambos partidos é um elemento grave, que expós a debilidade do sistema bipartidário num momento de extrema vulnerabilidade como é a crise atual, que requer cada vez mais decisões financeiras e orçamentárias e onde o apoio do Congresso é técnica, jurídica e politicamente necessária. Por isso, agora a única coisa que é certa é o aprofundamento da crise, ainda que consigam emplacar algum pacote, coisa que muitos duvidam.

É assim que para além dos mercados terem voltado a crer no resgate - como mostra a subida das bolsas depois da queda mais importante de Wall Street desde o crash de 1987 - este otimismo não repousa realmente em nenhum avanço substantivo na negociação. Como diz um correspondente do jornal El País em Washington: "...a CNN confirnou que hoje o Senado submeterá a votação do plano de resgate proposto por George W. Bush. A decisão foi tomada por Harry Reid, líder da maioria democrata, e por Mitch McConell, líder da minoria republicana. O programa que se submeterá à votação incluirá uma cláusula sobre reduções tributárias rechaçada pela Câmara de Representantes. Também aumentaria os seguros federais aplicados aos depósitis de no máximo 100.000 dólares a 250.000 dólares. Segundo Reid e McConell a redução tributária poderia ajudar a conseguir o voto dos republicanos. Em todo caso, o voto afirmativo do Senado - cujo comportamento é sempre muito mais previsível e ortodoxo que o da Câmara - teria um mero valor político, posto que se requer a aprovação de ambos setores legislativos" . (El País, 1/10). E agrega que "agora McCain consciente de que aqui pode enterrar todas as suas esperanças presidenciais, tenta mostrar uma imagem mais prudente, e nos últimos dias se ofereceu a ’fazer de tudo’ para encontrar uma solução".

O problema é, precisamente, saber qual é esta solução, como se convence a uma dezena de congressistas republicanos - e não será fácil fazer com que os democratas assumam toda a responsabilidade política na aprovação do plano - para que se ponham ao lado do voto afirmativo. Se trata de um grupo de republicanos extraordinariamente ideologizados e fanatizados que, além disso, têm que ganhar suas cadeiras dentro de pouco mais de um mês; um grupo que tem feito da doutrina da não-intervenção estatal seu lema.Em última instância, as reações dos mercados europeus e norte-americanos ao longo da semana, enquanto os políticos norte-americanos buscam uma saída para seu impasse político, serão críticas em decidir se o mero pânico do mercado e do subseqüente descalabro financeiro desafia todas as tentativas dos bancos centrais do mundo de sair da paralisia completa em que se encontram os mercados. A repercussão desta situação nas grandes companhias industriais e de serviços atualmente solventes, com lucros e em operação, poderiam ser enormes na medida em que careçam de créditos de curto prazo para financiar o pagamento dos salários e os custos operacionais, precipitando uma nova e mais calamitosa fase da crise.

A crise se expande violentamente à Europa

A salvação de Fortis por parte dos governos belga, holandês, e luxemburguês com a injeção de 11,2 bilhões de dólares de euros em troca de 49% de seu capital foi a primeira de uma onda de quedas. Fortis que não possui um nome muito conhecido em nível internacional, é uma instituição bancária belga-holandesa que já esteve entre as 20 maiores entidades financeiras do mundo. A mesma constitui o maior resgate de uma importante instituição financeira européia, com passivos que tornam o PIB belga pequeno. Posteriormente, outra entidade de peso como o franco-belga Dexia, foi socorrida pelas autoridades de ambos países. A crise combinada destas duas instituições bancárias tem significado um forte terremoto na Bélgica, que já está traumatizada pelos duros enfrentamentos entre flamencos e valones (Flandes e Valovia são as duas comunidades lingüísticas em que a Bélgica está dividida).

No mesmo dia, mediante uma injeção de 3,5 bilhões de euros tanto de um pool de entidades privadas alemãs como pela sua administração central foi resgatado o Hypo Real State, a segunda maior hipotecária da Alemanha, para evitar sua insolvência. Esta entidade é o principal emissor europeu de uma espécie de bónus cobertos que figuram dentre muitas das carteiras de fundos monetários ao redor do mundo, cuja quebra poderia ter gerado um forte efeito cascata ao Lehman (esta entidade alemã tinha passivos de 56 bilhões de dólares, tanto como o quebrado norte-americano). Por último na Dinamarca não se salvaram do vírus da quebra e o Banco Roskilde teve que sofrer uma intervenção pelo banco central dinamarquês. Na Islândia o governo concordou ficar com 75% do Banco Glitnir, o terceiro maior banco do país pela capitalização bursátil, por 60 milhões.

Como demonstram todas estas quedas bancárias que já vinham se dando nos EUA, agora esta dinâmica se mostrou com tudo na Europa, explicitando que o sistema financeiro está numa espiral infernal que não para.

O que tem se dado na Europa é um sinal de alarme sobre seu sistema financeiro e a saúde dos bancos europeus, que ao contrário de sua complacência inicial, poderiam ser fortemente golpeados frente à crise em curso não só por que muitos deles têm em suas carteiras mais ativos tóxicos da dívida hipotecária norte-americana que muitas entidades dos EUA, como também por que estão expostos a uma acumulação de mais dívidas dos mercados imobiliários da Inglaterra, do estado espanhol, França, Holanda, Escandinávia e Europa do Leste,em que em algum deles a bolha imobiliária alcançou extremos superiores aos EUA. Agreguemos a isso que muitas entidades bancárias européias são "demasiado grandes para deixá-las cair", mas "demasiado grandes para serem salvas" pelos governos nacionais aos que pertencem. Neste marco, talvez o mais excepcional tenha sido a decisão do governo da Irlanda de garantir os depósitos dos bancos do país durante dois anos e suas emissões de dívidas com o objetivo de acalmar a população e sustentar seu sistema financeiro, depois de os três primeiros bancos do país terem registrado sua pior sessão bursátil em duas décadas desde 1987, com quedas de 50%.

Por sua vez, este anúncio do governo irlandês aumentou a pressão sobre Londres para que se tome uma medida similar. As seguranças oferecidas pelo primeiro-ministro, Gordon Brown,no sentido de que seu governo garantirá os depósitos bancários de até 50.000 libras em lugar das 35.000 libras atuais não é suficiente, advertem os diretores do setor. Os bancos britânicos estão seriamente preocupados por uma fuga das poupanças em direção á Irlanda se Londres não seguir o exemplo de Dublin. Segundo a imprensa britânica, mais de um terço daqueles que tinham depósitos superiores a 35.000 libras no banco Bradford & Bingley retirou seu dinheiro na semana passada antes que o governo trabalhista interviesse para nacionalizá-lo. Os diretores de uma série de bancos britânicos comunicaram discretamente ao governo que a desconfiança no sistema está levando seus clientes a também retirarem suas poupanças. Mas uma medida como a irlandesa não é fácil de tomar na Grã-Bretanha, destino financeiro global, já que o dinheiro depositado atualmente nos bancos e nas entidades de crédito hipotecários do Reino Unido representa mais de dois bilhões de libras. Disso deriva que Londres se mostre reticente a oferecer uma garantia semelhante aos bancos britânicos.

O movimento irlandês uma nacionalização de fato do conjunto do sistema financeiro, está sendo investigado pelas autoridades reguladoras européias por comportamento anti-competitivo já que a garantia de dois anos aos seus depósitos lhe outorga uma vantagem sobre o resto da Europa, o que tem levado as autoridades francesas a considerar um esquema similar. Se a França termina adotando isso inevitavelmente pode levar a que os demais governos europeus devam segui-la e os depositantes terão que decidir que garantia soberana é a mais segura. Estaríamos, dito de outro modo, ante o começo de uma luta acirrada pelo escasso capital entre os distintos imperialismos europeus, o que colocaria em questão sua união monetária e criaria fortes tensões entre seus membros.

Uma espada de Damocles sobre o sistema financeiro norte-americano

A crise nos EUA segue se exacerbando. Como disse um analista japonês: "da experiência do Japão na década de 90, está claro que a crise financeira dos EUA está seguindo um modelo familiar. Nós estamos vendo agora a "síndrome da manada de lobos". Enquanto os lobos são bons em atacar suas presas como equipe, eles se voltam contra os mais débeis se a fome prevalece. Quando Lehman caiu, Washington Mutual se converteu na próxima vítima, seguido por Wachovia. Quando Wachovia se fusionou com o Citicorp, se começou a ver o National City. Isso continua até que o último lobo não encontra nada para caçar. No Japão nós temos agora três bancos nacionais, mais de uma dezena a menos que em 1980. Eram todos, de acordo com a Agência de Serviços Financeiros japonesa, demasiados grandes para cair...Os EUA também estão encaminhando- se a três megas-bancos. .." (“America must seek aid for a global credit line” , Kenichi Ohmae, Financial Times 30/9).

Que o que diz este analista não está muito longe da realidade o demonstra o fato de que com a aquisição da Corporação Wachovia, o sexto banco nos EUA, pela parte de operações do Citigroup se reforça a idéia de três bancos hegemónicos: Citigroup, JP Morgan e Banco da América, que controlarão mais de 30% dos depósitos nos EUA. O trio adquirirá assim um poder enorme no estabelecimento dos preços dos créditos e serviços, que não serão retribuídos aos seus clientes que agora os estão sustentando com seus impostos utilizados para seu resgate. Mas inclusive até chegar a este resultado muita água pode correr sob a ponte e cenários mais catastrofistas não estão descartados. Como diz Nouriel Roubini: "Esta é a uma crise creditícia e de solvência que vai para além da falta de liquidez. Ninguém empresta a ninguém, e ninguém acredita em ninguém (nem nos mais confiáveis) e todo o mundo está esperando a liquidez que é injetada pelos bancos centrais. E como a liquidez vai em direção aos grandes bancos, o resto do sistema não tem acesso aos fundos e os mecanismos de transmissão de créditos estão bloqueados” .

Roubini põe na mora agora dois nomes tradicionais de Wall Street: Goldman Sachs e Morgan Stanley: “Após as quedas de Bear Sterns e Lehman Brothers e da fusão entre Merril Lynch com o Banco da América, sugeri que Morgan e Goldman também se fusionassem com alguma instituição financeira que tivesse uma grande base de depósitos assegurados para evitar uma corrida repentina sobre eles. Em troca, Morgan e Goldman optaram por uma saída cosmética, convertendo- se em bancos comerciais numa tentativa de conseguir liquidez...nenhuma destas duas instituições pode criar no curto prazo uma gama de sucursais, nem têm tempo ou recursos para comprar bancos menores. O investimento de 8 bilhões de dólares de capital japonês no Morgan e os 5 bilhões de Buffet na Goldman são uma gota no oceano por que ambas necessitam de mais capital. Ambos os bancos estão perdendo clientes e negócios” . Nestas circunstâncias “elas deveriam se fusionar agora com grandes instituições financeiras internacionais na medida em que nenhuma instituição norte-americana é suficientemente sólida e grande para ser sólido sócio de fusão...Lloyd Blankfein e John Mack (CEO da Goldman e Sacks respectivamente) têm que vender suas empresas com grandes descontos antes que suas ações terminem sendo oferecidas, em algumas semanas, a uns poucos dólares. A FED deveria lhes dizer que se apressem, já que ambos são maiores que Bear e Lehman” .

A gravidade da crise se demonstra pelo fato de que: “quando nem sequer a opção nuclear de um monstruoso resgate de 70 bilhões de dólares pode impulsionar as ações, se sabe que esta é uma crise de confiança global no sistema financeiro.. .Há uma perda generalizada de confiança que nenhuma política parece capaz de controlar” . E o pior pode estar por vir: “O próximo passo do pânico poderia se converter na mãe de todas as corridas bancárias, uma corrida contra os passivos bancários e do sistema financeiro norte-americano no mercado interbancário entre países de bilhões de dólares na medida em que os bancos estrangeiros comecem a se preocupar sobre a segurança de suas exposições líquidas nas instituições financeiras dos EUA, já uma silenciosa corrida bancária começou, tanto que os bancos estrangeiros duvidam da solvência dos bancos norte-americanos e estão começando a reduzir sua exposição. Se esta corrida bancária se acelera, poderia ocorrer a derrubada absoluta do sistema financeiro norte-americano” . (GlobalEconoMonitor, 29/9). Em outras palavras, a tentativa do secretário de tesouro de Paulson de salvar seus amigos da Goldman Sachs poderia ter um “efeito colateral” de proporções. Ainda que agora o alcance da crise financeira não é plenamente global sendo os EUA seu epicentro, e estendendo-se crescentemente à Europa, um cenário como o anterior que afete Wall Street, o centro do sistema financeiro internacional, terá repercussões globais. Uma corrida generalizada aos bancos estrangeiros contra os bónus corporativos, as ações e os bónus do tesouro norte-americano abre o perigo de uma fragmentação do sistema comercial e de investimentos global.

Abre-se um período de convulsões potencialmente revolucionário

É inquestionável que os EUA deram um passo mais em direção a uma Grande Depressão. Se conseguem evitá-la, cada vez a perspectiva que se abre é de uma recessão, como a de uma década perdida, tal como o Japão nos anos 90. Este fato junto ao desafio russo na Geórgia, um aliado pró norte-americano nas fronteiras da ex-URSS assinala o fim do período de hegemonia norte-americana indiscutida que se abriu após a queda da URSS. A crise de 97-99, que marcou a perda de autoridade norte-americana em todo o mundo semicolonial e dependente, como é o caso da China e da Rússia, que foram se distanciando abertamente das receitas do Consenso de Washington e do FMI, assim como o fracasso da remilitarizaçã o de sua política exterior ’ uma resposta a esta perda de influência política ’ iniciada com Clinton e levada à cabo ao extremo no governo Bush, como explicitou sua débâcle militar no Iraque e no Afeganistão.

O desafio russo e, sobretudo, a atual crise do sistema financeiro norte-americano são seus tiros de misericórdia. A ilusória idéia de que o debilitamento qualitativo da liderança dos EUA significa a ida a um mundo mais multilateral ou multipolar, com maior equilíbrio de poder entre as grandes potências é uma idéia tão falsa quanto perigosa, por que desarma frente ao caráter agudo do período que se abre. Como diz corretamente o economista marxista britânico Alan Freeman: “Muitos dizem que podemos ir pacificamente a um mundo mais multipolar. Mas o capitalismo requer ser um só sistema mundial, que tenha só moeda de referência, e um só sistema financeiro. Todas as experiências de momentos com equilíbrios de poder multilaterais terminaram em blocos que se confrontam brutalmente. Nenhuma foi pacífica” . (Crítica, 1/10)

As ilusões que as elites do mundo tinham em Obama e que sua mudança poderia significar voltar aos tempos da globalização harmoniosa e pacífica de 1991-97 são não só ilusórias como que morreram antes que este realmente chegue ao poder. Pelo contrário, entramos em um período extremamente convulsivo, de um salto nas tensões inter-estatais e económicas, com prováveis guerras de procuração, como a da Geórgia, ou duras medidas protecionistas e guerras comerciais e pela captação de capital, e como conseqüência de luta de classes. Entramos em um período no qual a “época de crises, guerras e revoluções” se atualiza. A classe operária e a luta de classes se encontram atrás dos contornos objetivos que este novo período está tomando.

Entretanto, a crise sacudirá violentamente a situação, as organizações e a consciência conservadora. Os que impactados pelas conseqüências negativas para o movimento operário ou de massas do avanço da restauração capitalista na URSS, a Europa do Leste e a China, colocam a necessidade de “uma nova época, novo programa, novo partido” , deixando para trás os ensinamentos da revolução russa e do bolchevismo se apressaram antes do tempo. Se adaptaram a um breve impasse que já estava se fechando, e agora se termina definitivamente. Este novo período que ameaça nascer nos inícios dos anos 1990 está morto. Pelo contrário, as lições, adaptadas ao capitalismo atual, destas grandes ações revolucionárias se fazem mais necessárias que nunca para enfrentar a catástrofe com que o capital nos ameaça. A revolução proletária e socialista que termine com o poder dos grandes bancos e corporações de seu estado é mais urgente que nunca.

Traduzido por Simone Ishibashi

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