Quinta 2 de Maio de 2024

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A crise da esquerda e as eleições

23 Apr 2010   |   comentários

Lamentavelmente, as discussões eleitorais
que vêm se desenvolvendo entre
essas correntes que se reivindicam de
esquerda não têm nada a ver com a
política concreta que as correntes da
esquerda deveriam adotar frente às
catástrofes provocadas pelas chuvas, o
papel do Brasil na ocupação militar do
Haiti, o aumento da exploração e o
aprofundamento da utilização do
trabalho precário como pilar da
recuperação econômica em curso, a
unificação das campanhas salariais, ou
a recém derrotada greve da Apeoesp.

O impacto da
candidatura de
Marina Silva e do
lulismo sobre o PSOL

Marina Silva saiu do governo Lula e
do PT reivindicando os seis anos e
meio durante os quais foi parte do
alto escalão do governo, como
ministra do Meio Ambiente. O
mesmo governo em oposição ao qual
o PSOL buscou construir-se, o qual
sacrificou a defesa dos pressupostos
ecológicos mais básicos e implementou
uma verdadeira contrarreforma
agrária em benefício do
agronegócio e da mineração voltada
à exportação de commodities.
Marina Silva filia-se ao PV – partido de
aluguel controlado pelo filho de
Sarney e que compõe ao mesmo
tempo a base do governo Lula e é
aliado de primeira importância do
DEM e PSDB no Rio com o
deputado Gabeira e a base de
governos dos tucanos e democratas
no Rio de Janeiro e em São Paulo –,
busca representantes do grande
capital monopólico como o
Presidente da Natura para candidato
à vice-presidência em sua chapa, e
defende em seu programa as
reformas trabalhista e sindical.
Combinada com influência do
lulismo sobre a base eleitoral do
próprio PSOL, e nesse sentido com
o risco de um retrocesso eleitoral
em relação a 2006, Marina Silva se
transformou no argumento da
renúncia de Heloísa Helena à
candidatura presidencial. Esta renúncia
não se dá discretamente, mas
através de mil e um elogios à exministra
de Meio Ambiente. Foi para
participar deste projeto de Marina
Silva que todas as correntes que
historicamente compuseram a
maioria centro-esquerdista do PSOL
– não só o MES e o MTL, mas
também a APS – decidiram abrir
discussões para avaliar a possibilidade
de Heloísa sair como vice de
Marina, ou do PSOL apoiar o PV em
troca de meios materiais e políticos
que auxiliassem na eleição de seus
parlamentares;“diálogo” esse que foi
interrompido pela própria cúpula do
PV, que não queria abrir mão de
coligar-se com o DEM, PSDB e PPS
no Rio de Janeiro.
Esses movimentos políticos constituíram
uma prova a mais da falência
do projeto político do PSOL, pois
veio à tona o caráter inorgânico,
débil e fluido dos votos em Heloísa
Helena. Incapaz de responder ao
avanço do lulismo e ao surgimento
da candidatura de Marina Silva, a
direção majoritária do PSOL
empreendeu um novo giro à direita:
mostrou como sua estratégia de
conciliação de classes pode incluir
setores monopólicos e oligárquicos
da burguesia e não apenas os
capitalistas médios; mostrou como o
caráter neo-desenvolvimentista do
programa do PSOL pode “dialogar”
com o status quo que defende as
privatizações, a flexibilização dos
direitos trabalhistas, o aumento da
exploração e a subordinação ao
capital imperialista; e também
mostrou até onde pode ir o modo
burguês de fazer política das
direções majoritárias deste partido.

O caráter da “nova
maioria” do PSOL
e da candidatura
de Plínio

A “nova maioria” que surge no II
Congresso do PSOL, realizado em
outubro de 2009, ao redor da qual
se projeta a candidatura de Plínio de
Arruda Sampaio, é um subproduto
da divisão interna da aliança de
correntes que dirigiam o partido até
então (MES, MTL e APS), em função
da política eleitoral que o PSOL
deveria adotar com a renúncia de
Heloísa Helena à candidatura
presidencial. Por um lado, o MES e o
MTL defendiam uma espécie de
“candidatura tampão”, que posteriormente
se materializa em
Martiniano Cavalcante, com um
programa e uma estratégia que
deixasse “mãos livres” para que os
parlamentares do PSOL pudessem
fazer as alianças e os discursos que
quisessem nos estados para
elegerem o máximo possível de
parlamentares. Já a APS, apesar de
ter muito mais identidade com os
objetivos, com o programa e a
estratégia do MES e do MTL do que
das correntes que historicamente
compuseram a minoria do PSOL,
preferiu compor um novo bloco
majoritário junto com estas últimas
ao redor da defesa da candidatura de
Plínio, pelo simples fato de que esta
seria a que mais poderia ajudar a
capitalizar votos, em especial para a
reeleição de Ivan Valente em São
Paulo.
Diferentemente do que tentam fazer
parecer as correntes da chamada
“esquerda do PSOL”, a candidatura
de Plínio, ao contrário de ser “mais
classista e socialista”, reproduz no
fundamental a trajetória percorrida
pelo PSOL desde sua fundação: um
programa antineoliberal em geral,
feito sob medida para dialogar com
o reformismo centro-esquerdista e
setores burgueses médios e para ser
implementado nos marcos da
democracia burguesa; um discurso
que busca se enfrentar o menos
possível com Lula para não perder
votos; nenhuma palavra proibindo
coligações com partidos burgueses
no plano estadual ou o financiamento
de campanha proveniente
da burguesia, como ocorreu em
2008; nenhuma palavra sobre as
ações mais anti-operárias que
marcaram a história do PSOL, como
o apoio à Lei do Super-Simples, que
flexibilizou os direitos trabalhistas
nas pequenas e médias empresas; e
tampouco qualquer delimitação com
as posturas mais à direita do PSOL,
que nas declarações de Martiniano
se opuseram à reestatização das
empresas privatizadas e rechaçaram
a propaganda do socialismo, que no
MES de Luciana Genro defenderam a
“parceria” com o capital privado nos
serviços públicos e pregaram mais
repressão policial como mecanismo
de “segurança pública”, sem mencionar
a já conhecida participação de
HH na reacionária campanha contra o
direito ao aborto.

PSTU: os ziguezagues
da candidatura de Zé
Maria em função da
Frente de Esquerda
com o PSOL

Após a recém concluída III Conferência
Eleitoral do PSOL, o PSTU
tornou pública sua decisão de não
reeditar a Frente de Esquerda (PSOLPSTU-
PCB) este ano e lançar a
candidatura própria de Zé Maria,
alegando como motivos fundamentais
a crise interna do PSOL e por
divergências programáticas.
Entretanto, o programa e a estratégia
atuais do PSOL já eram impossíveis
de serem combinados com um
programa operário independente já
em 2006. Além disso, a “autonomia”
das figuras públicas e parlamentares
deste partido para na prática
expressarem suas posições direitistas
como bem entendem à revelia da
base do partido ou dos aliados da
Frente também não é uma novidade.
Não esqueçamos que já em meio à
campanha de 2006 HH apoiou o
auxílio do BNDES à Volksvaguem
quando os trabalhadores dessa
multinacional estavam em greve
contra milhares de demissões. A
única novidade de fato da dividida
Frente de Esquerda é que os votos
de Heloísa Helena para senadora por
Alagoas não vão ter o mesmo poder
de atrair votos para os demais
candidatos da Frente como teriam se
ela se candidatasse à presidência. Por
isso, chamamos os companheiros do
PSTU a tirarem conclusões mais
profundas sobre a experiência da
Frente de Esquerda: valeu à pena
colocar o prestígio do PSTU na
vanguarda operária atrás de um
programa desenvolvimentista burguês
e uma estratégia de conciliação de
classes como a do PSOL, que aceita
doações de empresários, em troca dos
votos que HH poderia proporcionar?
A propaganda ou até mesmo as
críticas que o PSTU faz no jornal
Opinião Socialista não servem mais
que para consumo interno quando
suas figuras públicas em suas
campanhas atribuem a HH e ao PSOL
o falso epíteto de “classista e
socialista”. O que define uma política
como classista ou socialista não é o
mero brado dessas palavras, mas a luta
intransigente contra todas as frações
da burguesia e seu sistema. O caráter
inorgânico não-classista dos votos tipo
HH, que vão embora com a mesma
“facilidade” com que se aproximam, se
dão em detrimento da estratégia de
cons-trução de um partido baseado na
luta pela independência de classe e
pela auto-organização das massas.

As tarefas de uma
Frente Classista

Nós, da LER-QI, chamamos o voto
crítico nos candidatos do PSTU em
2006 e 2008, e denunciávamos o
caráter não classista da frente de
esquerda, e desde o ano passado
propusemos que o PSTU encabece
uma Frente Classista em 2010.
Opinamos que, para colocar de pé
uma Frente verdadeiramente Classista,
é necessário combater a
prática petista que ficou marcada na
esquerda brasileira, de apresentar
um “programa de governo”, ainda
que adornado com fraseologias
socialistas e demandas justas dos
trabalhadores, pois desta forma são
semeadas ilusões nas massas de que
o socialismo ou os interesses da
classe operária possam ser
alcançados pela via das eleições na
democracia burguesa. Pelo contrário,
as candidaturas de uma Frente
Classista precisam apoiar as lutas
dos trabalhadores e do povo não só
no Brasil mas em todo o mundo,
denunciar o caráter de classe da
democracia dos ricos, propagandear
um programa transicional qual, partindo
das necessidades e do nível de
consciência atual das massas, conduza
à conclusão da necessidade da
luta revolucionária pela derrubada do
capitalismo.
Colocando nossas pequenas forças a
serviço de que esta política se
concretize, em 2009 fizemos um
acordo com o PSTU, no qual este
partido cedeu sua legenda para a
filiação democrática de dois militantes
da LER-QI: Mara, reconhecida
militante do movimento negro e do
movimento contra a opressão às
mulheres; e Pablito, que depois da
greve dos trabalhadores da USP em
2009 foi eleito para representante da
categoria no Conselho Universitário
com mais de 2 mil votos.

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