Sábado 27 de Abril de 2024

Movimento Operário

EM MEIO AO CONFORMISMO BRASILEIRO DA COPA DO MUNDO, DAS ELEIÇÕES E DAS ENCHENTES

50 dias de uma luta exemplar

24 Jun 2010   |   comentários

Num cenário nacional onde os jornais estão diariamente estampados pelos jogos da Copa do Mundo, onde as eleições presidenciais se configuram como um verdadeiro show de despolitização e onde o governo Lula descaradamente declara que irá demorar 1 mês para enviar ajuda aos mais de 115 mil desabrigados pelas enchentes no Nordeste, os trabalhadores da USP, Unesp e Unicamp permanecem em luta. O que pode explicar esta situação? Ainda que o isolamento político e social da greve se expresse na declaração do presidente Lula, que tem 85% de aprovação popular, quando este disse que “greve é guerra, e o salário deve portanto ser cortado”, é preciso entender que os trabalhadores da USP, junto ao seu sindicato, tem expressado um pólo de resistência na defesa do direito de greve e de um modelo de universidade a serviço da classe trabalhadora e do povo pobre que conseguiu influenciar uma série de outros trabalhadores das universidades estaduais paulistas, assim como uma vanguarda estudantil e intelectuais e professores em apoio a nossa luta.

Isso se expressou quando na última quarta-feira foi publicado com destaque na Folha de São Paulo, um dos principais jornais da burguesia brasileira, um artigo entitulado “Por uma Universidade Pública”, assinado pelos professores Francisco de Oliveira e Paulo Arantes, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP; Luiz Renato Martins, da Escola de Comunicação e Artes da USP e Jorge Luiz Souto Maior, Juiz do Trabalho e Professor da Faculdade de Direito da USP. No artigo, os professores afirmam que “Todos os que prezam o regime democrático devem se alinhar com os trabalhadores da USP, que fazem história com suas lutas, contribuindo vivamente para a democratização da universidade...”. Nesta semana, impusemos uma primeira derrota ao Reitor e sua política de matar a greve pela fome dos trabalhadores. Uma Comissão de Trabalhadores foi recebido pelo Coordenador da Prefeitura do Campus, e o fez recuar no corte de mais 30 dias de salário, expressando a importante força que o movimento grevista ainda mantém.

Os nossos métodos combativos de luta têm sido fundamentais para manter a mobilização, e a combinação com uma importante campanha democrática, tem sido chave para demonstrar ao conjunto da população e da comunidade universitária que o Reitor Grandino Rodas é intransigente o suficiente para deixar a greve num impasse. Num momento em que os trabalhadores apresentaram uma contraproposta ao Reitor, exigindo 1 referência (aumento na Carreira) equivalente à 5% de aumento salarial, além do pagamento de todos os dias em greve sem reposição de horas e nenhuma punição aos lutadores, o Reitor informou que a próxima negociação ocorrerá apenas na quarta-feira que vem, daqui a uma semana, numa clara tentativa de cansar o movimento e nos isolar ainda mais com o início das férias estudantis.

Porém, ainda que manobrando, essa situação expressa que o Reitor também está desgastado, que a falácia do “diálogo” que vinha apresentando desde sua imposição por José Serra dentro da universidade já está superada, e que agora a universidade conhece o verdadeiro Grandino Rodas. Os trabalhadores da USP, desta forma, demonstram mais uma vez a sua combatividade, organizando uma luta exemplar que não aceita a imposição de uma derrota por parte da Reitoria e do Governo, e segue organizando os trabalhadores desde a base para resistir a todos estes ataques. Nossa força só não é maior pela vergonhosa atitude das direções das centrais sindicais que ao invés de organizar a luta pelas reivindicações operárias, estão ao serviço dos apoios eleitorais aos candidatos burgueses, mas também pela impotência da esquerda começando pelo PSTU que se reivindica trotskista e dirige a Conlutas e importantes sindicatos em todo o pais, que não tem feito nada, nada pela greve. Pior ainda, após a explosão do Congresso da Classe Trabalhadora (CONCLAT) nenhum setor da esquerda foi capaz de tirar as conclusões corretas de seus erros, que diziam respeito principalmente a organização de um Congresso por fora da luta de classes e da construção de um programa para a classe trabalhadora diante da crise capitalista. Nesse marco, continuam estéreis para conformar um grande cerco de solidariedade à USP, Unesp e Unicamp massificando nossos atos com militância ativa, influenciando mais setores a nosso favor e organizando um grande fundo de greve para que nossa luta não seja derrotada pela fome dos trabalhadores, que tem mais de 1.600 famílias sem receber os salários. O Comando de Greve dos trabalhadores da USP dirigiu uma Carta Aberta à Nova Central que publicamos aqui chamando a concretização da Campanha em Defesa do Direito de Greve, entendendo que uma vitória de nossa greve é uma vitória do conjunto da classe trabalhadora brasileira, que mostra que não é preciso aceitar os descontos dos dias em greve como fez a burocracia sindical na greve dos professores da rede estadual e na greve dos trabalhadores judiciários.

Frente a esta nova provocação do Reitor, estamos impulsionando uma Comissão de Intelectuais, Professores e Parlamentares que exijam a antecipação da negociação, para avançarmos num desfecho para este duro conflito, sabendo desde já que nos manteremos firmes para garantir o pagamento de todos os dias descontados, pois buscamos fazer desta luta uma luta exemplar, contribuindo para forjar uma tradição classista no movimento operário brasileiro.

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