Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

BOLETIM CLASSISTA

"Um boletim classista e revolucionário para organizar os trabalhadores"

02 Nov 2012 | Entrevistamos Claudionor Brandão, diretor do Sintusp e demitido político do governo Serra, Diana Assunção, diretora do Sintusp e processada pela Reitoria da USP e Silvana Ramos, ex-trabalhadora terceirizada da USP e dirigente da luta das trabalhadoras terceirizadas da Dima em 2005, sobre o “Boletim Classista”, nova ferramenta dos trabalhadores que teve seu primeiro número publicado na última semana.   |   comentários

Entrevistamos Claudionor Brandão, diretor do Sintusp e demitido político do governo Serra, Diana Assunção, diretora do Sintusp e processada pela Reitoria da USP e Silvana Ramos, ex-trabalhadora terceirizada da USP e dirigente da luta das trabalhadoras terceirizadas da Dima em 2005, sobre o “Boletim Classista”, nova ferramenta dos trabalhadores que teve seu primeiro número publicado na última (...)

JPO: Na última semana foi publicado o “Boletim Classista”. Qual o objetivo deste boletim e porque este nome?

Brandão: O objetivo do boletim é ser uma ferramenta de luta e organização dos trabalhadores, que não se restrinja às questões sindicais ou corporativas. Há uma “tradição” do sindicalismo brasileiro que é separar o “sindical” do “político” e assim acabar contribuindo com a estratégia da burguesia que quer manter a ação dos trabalhadores restrita às lutas sindicais. Isso só pode acontecer com uma luta política contra a burocracia sindical que usa os sindicatos para defender os interesses dos patrões. O boletim se chama “classista” para deixar bem marcado um perfil de independência de classe dos trabalhadores diante da burguesia e dos governos. Mas na verdade é um nome provisório porque o que queremos mesmo é que os próprios trabalhadores que considerarem que esta é uma boa ferramenta definam qual é o nome mais apropriado.

JPO: A capa do primeiro número colocava como eixo a questão do voto nulo nas eleições municipais. Porque vocês escolheram este tema?

Diana: Justamente por esta questão que o Brandão colocou anteriormente. Então nada mais apropriado do que levar aos trabalhadores uma posição classista e revolucionária sobre as eleições municipais. Não é um debate fácil, muitos trabalhadores tem ilusões sobre o que foi o governo Lula e o que é o governo Dilma. Por isso, buscamos no boletim denunciar o próprio processo eleitoral da burguesia. Também denunciamos os partidos como PSDB, PP, PFL, PMDB, entre outros, demonstrando que o PT é parte destes setores e não governa para os trabalhadores. Por isso nosso boletim deve armar os trabalhadores para lutar contra os ataques do governo como o Acordo Coletivo Especial (ACE) que flexibiliza os direitos dos trabalhadores.

JPO: Como é a atuação de vocês na Diretoria do Sintusp?

Brandão: Nós estamos na Diretoria do Sindicato dos Trabalhadores da USP como minoria, a partir de uma chapa que formamos com o Coletivo Piqueteiros e Lutadores. O Sintusp está entre os sindicatos mais combativos do país que se manteve independente dos patrões e dos governos mesmo depois de toda a ofensiva neoliberal e ataques das últimas décadas, diferente dos sindicatos da CUT, da Força Sindical e outras. Por isso somos parte desta Diretoria compartilhando com o Coletivo a unidade nas lutas contra os ataques do reitor Rodas. Neste momento levamos adiante a luta contra os processos, mas também pela democratização radical da universidade. Além disso, na Prefeitura do Campus temos realizado reuniões quinzenais com mais de 100 trabalhadores contra o desmonte desta unidade.

Diana: Essas lutas são fundamentais, por isso mesmo ainda que mantenhamos divergências estratégicas com estes companheiros, como a necessidade da construção de um partido revolucionário dos trabalhadores, mas também a questão da liberdade de tendências no movimento operário e a democracia operária, estas divergências não impediram a atuação comum na Diretoria com um programa classista e combativo. Isso porque é importante remarcar nossas posições e debater com outras concepções, como viemos fazendo. Isso é parte de uma tradição internacional, na Argentina a Chapa Marrón Classista que protagonizou a luta de Zanon em 2011, ganhou mais uma vez com 70% dos votos a eleição para o Sindicato Ceramista de Neuquen, e deram um aporte para a classe operária argentina implementando a proporcionalidade e permitindo que se expressassem todas as tendências desta categoria.

JPO: A questão da terceirização será um tema importante?

Silvana: Certamente. Eu vivi uma luta operária que está retratada no livro “A precarização tem rosto de mulher” a partir de entrevista comigo e considero que este “Boletim Classista” pode ser uma ótima ferramenta para chegar a mais trabalhadores terceirizados como eu. No bairro em que moro próximo a USP será uma ferramenta importante para discutir com colegas de trabalho e da região, pois muitas são trabalhadoras terceirizadas e ficarão entusiasmadas com um boletim que defende a efetivação dos terceirizados sem concurso público. Além disso, o último número do boletim tratou do tema da violência policial, num momento em que há assassinatos, toque de recolher e invasão de favelas como a São Remo e Paraisópolis.

JPO: Vocês também tem impulsionado “grupos de discussão” sobre marxismo. Como tem funcionado estes grupos?

Brandão: No começo do ano surgiu a idéia destes grupos de discussão, porque para nós revolucionários é fundamental a propaganda das idéias do marxismo. Começamos com o “Manifesto Comunista” com vários grupos de discussão e depois veio a idéia do “Programa de Transição”. Fizemos um debate com mais de 30 trabalhadores onde buscamos debater com os trabalhadores o que era o “Programa de Transição” e porque ele é útil ainda hoje, num momento em que o mundo é atingido por uma crise capitalista, um momento em que os trabalhadores e a juventude se levantam e que alguns efeitos da crise já começam a atingir o Brasil. Levar estas idéias para os trabalhadores é apaixonante para expressar que a classe operária não tem fronteiras, é internacional e que a nossa luta não começa do zero.

JPO: Há um grande destaque para a luta dos trabalhadores da Façon, do Metrô de São Paulo. Vocês poderiam comentar sobre isso?

Silvana: Foi muito importante este destaque. Eu mesma estive numa Plenária junto com os companheiros da agrupação Metroviários Pela Base e vários trabalhadores da Façon para contar a experiência da minha luta na USP e para dar força a estes trabalhadores. Eu acho que isso tem a ver com a idéia de que o boletim é pra mostrar nossa luta, sabe aquilo que não sai nos jornais que estão nas bancas? Que não vemos na televisão? Se temos um boletim como esse podemos chegar na USP, nas fábricas, nos locais de trabalho e falar “Olha só, lá no Metrô está tendo uma luta, eles ocuparam o canteiro de obras, estão quase impondo uma pequena vitória com o pagamento dos salários!” e isso dá força, anima qualquer trabalhador.

JPO: Quais são os próximos passos?

Diana: Estamos organizando dezenas de panfletagens na USP, na São Remo e em outros locais da Região Oeste, região onde queremos construir um centro de cultura e política. Para as panfletagens massivas temos contado com os estudantes da Juventude Às Ruas que estão apoiando ativamente a construção deste boletim e se dispondo a ir para panfletagens às 5h da manhã. Queremos chegar nos setores mais explorados da classe, dando muita ênfase também na luta pelos direitos das mulheres trabalhadoras, do povo negro e dos homossexuais, e também dos povos originários defendendo firmemente os índios Guarani-Kaiowá. Na próxima semana a partir do Sintusp ao lado da Associação de Moradores da São Remo estamos chamando uma ampla reunião contra a violência policial e a política de “reurbanização” (na verdade despejo) da São Remo.

Brandão: Também o próximo passo que queremos dar é organizar um novo boletim que convoque para uma grande atividade de encerramento do ano, onde nós chamemos os trabalhadores e trabalhadoras de outras categorias, como a agrupação Metroviários Pela Base, os bancários que impulsionam o boletim “Uma classe”, a agrupação “Professores Pela Base”, delegados sindicais e trabalhadores dos Correios, trabalhadores da USP, além dos trabalhadores que participaram de lutas ao nosso lado, como os terceirizados da Dima, BKM e União, e agora também da Façon, os metalúrgicos de Osasco que estão em campanha salarial, os moradores da São Remo e região, entre outros. Queremos fazer uma grande atividade chamando a tomarem para si este boletim classista e revolucionário para fazer avançar a nossa luta, e mais que isso, para nos organizar e nos preparar lutando contra a exploração e opressão miserável que este sistema nos impõe.

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