Quarta 24 de Abril de 2024

Movimento Operário

MARXISMO NO MOVIMENTO OPERÁRIO

O Programa de Transição para trabalhadores: o marxismo de nosso tempo para uma época de crises

06 Sep 2012   |   comentários

Neste mês de setembro daremos início, como parte do Ciclo “Porque Trotsky?”, a uma série de atividades e grupos de discussão para trabalhadores que tem como objetivo fundamental apresentar as ideias do revolucionário Leon Trotsky. Queremos apresentar a vida e as ideias de Trotsky e discutir alguns pontos de sua última grande obra, o Programa de Transição. Num momento de crise econômica e social como o nosso, é fundamental tomar conhecimento da tradição (...)

Neste mês de setembro daremos início, como parte do Ciclo “Porque Trotsky?”, a uma série de atividades e grupos de discussão para trabalhadores que tem como objetivo fundamental apresentar as ideias do revolucionário Leon Trotsky. Queremos apresentar a vida e as ideias de Trotsky e discutir alguns pontos de sua última grande obra, o Programa de Transição. Num momento de crise econômica e social como o nosso, é fundamental tomar conhecimento da tradição revolucionária internacional, que é uma importante conquista de nossa classe.

No texto Os 90 anos do Manifesto Comunista Trotsky sintetizava a atualidade do marxismo concentrada em conceitos fundamentais, como a visão materialista da história sinteticamente apresentada na frase “A História de todas as sociedades até os nossos dias não foi senão a história da luta de classes”, que apresentava à sociedade europeia um visão da história da humanidade entendida a partir da sua divisão entre classes sociais, entre burgueses e proletários. Neste mesmo texto é enfocada uma visão demarcada por esta análise de classe do papel do Estado, como um balcão de negócios dos capitalistas, tendo as crises econômicas como algo inevitável em um modo de produção irracional em que o lucro determina e permeia todas as relações sociais de produção não apenas em um país, mas internacionalmente, o que seria a base explicativa da necessidade do internacionalismo proletário.

Ao mesmo tempo Trotsky consegue explicar de forma simples e não menos profunda as diferenças que marcaram o capitalismo em sua fase imperialista, marcada por mudanças em relação à época da livre concorrência em que o capitalismo ainda vivia uma fase de crescimento orgânico do capital. Entre estas mudanças uma das fundamentais, detalhada por Lênin, é decorrente do surgimento do capital financeiro como produto da fusão entre o capital industrial e o capital bancário que seriam decisivos para que os monopólios passassem a determinar o signo desta época em que os monopólios dominam ramos inteiros da produção e disputam palmo a palmo sua influencia nos países em todo o mundo. Este novo cenário vai impor ao proletariado enfrentamentos decisivos com a burguesia, que marcam o sentido de toda esta época, cortada por crises, guerras e revoluções.

Iniciaremos o debate com uma apresentação de quem foi Trotsky, um dirigente revolucionário russo que teve toda sua vida permeada pelas convulsões características da época imperialista. Trotsky nasceu no final de 1879, e desde jovem colocou sua vida a serviço da revolução socialista. Com 25 anos, já tendo fugido do exílio na Sibéria, acompanhou e fez parte do surgimento, pela primeira vez na história, dos organismos de auto-organização da classe trabalhadora, os soviets (ou conselhos), que se formaram na Revolução de 1905. Trotsky foi presidente do principal soviet da Revolução de 1905, o de Petrogrado. A época imperialista impôs aos revolucionários forjar uma política na qual a conquista do poder estivesse no centro das atenções; para isso, era necessário lutar contra toda influência das posições da burguesia nas fileiras operárias, como, por exemplo, a votação dos créditos de guerra. Essa perspectiva foi o norte da vida de toda uma geração de militantes conhecida como a terceira geração de marxistas, da qual Trotsky, Lenin e Rosa Luxemburgo foram os mais importantes.

Na Revolução de 1905 (derrotada pelo exército), nos anos de forte repressão e trabalho político clandestino, no acirramento dos conflitos entre os países imperialistas, no início da Primeira Guerra Mundial e, finalmente, na Revolução socialista de 1917; Trotsky esteve presente em todos esses momentos. Estes processos levaram a um intenso debate entre os marxistas da II e da III internacionais, dos quais Trotsky assumiu um papel destacado atualizando o marxismo teórica e praticamente à luz destes novos desafios, sintetizando lições destas experiências em riquíssimas elaborações como a Teoria da Revolução Permanente e o Programa de Transição, que permitem dizer que o trotskismo foi o portador da continuidade do marxismo revolucionário forjado para responder aos problemas da tática e estratégia revolucionárias que a época imperialista impunha ao proletariado internacional; enfim, o marxismo para nossa época.

Assim, Trotsky foi se constituindo um grande estrategista da revolução internacional, combatendo em seu momento as visões mencheviques, reformistas e revisionistas do marxismo e, posteriormente tomando a frente do combate às concepções centristas da Internacional Comunista sob o comando de Stalin que se materializaram na organização da Oposição de Esquerda a partir de 1923 e posteriormente da IV Internacional, em 1938. Ao mesmo tempo foi o único entre os revolucionários da geração de dirigentes da Revolução Russa que sobreviveu às guerras, e o que por mais tempo sobreviveu às perseguições stalinistas (foi finalmente assassinado por um agente de Stalin em 1940). Teve que responder, portanto, a fenômenos inéditos da luta de classes, como a derrota do proletariado alemão e a ascensão do nazi-fascismo, bem como o fracasso dos processos revolucionários na China e a burocratização do Estado operário na União Soviética. Este foi uma conquista da revolução de 1917, mas Trotsky sempre defendeu a expansão da revolução socialista para outros países, pois caso a URSS ficasse isolada, como queria Stalin, seria somente uma questão de tempo até que o capitalismo se restaurasse ali.

Das várias e valiosíssimas obras elaboradas por Trotsky escolhemos tratar do Programa de Transição, que constitui uma das elaborações fundamentais para as épocas de crises em que o capitalismo deixa cair sua máscara. Neste livro, Trotsky busca mostrar que do capitalismo os trabalhadores e o povo pobre não podem esperar nada além do aumento da exploração e da miséria, o que demonstra que esse sistema não serve aos interesses da humanidade, e que a burguesia necessita ser derrotada. Como principal problema, Trotsky aponta a falta de uma direção política capaz de enfrentar e derrotar a burguesia.

Mesmo sabendo do enorme distanciamento entre a teoria revolucionária e a classe operária, produzida por importantes derrotas na luta de classes nos últimos 30 anos, que relegou o marxismo aos estreitos corredores da academia, queremos com esta atividade tomar a iniciativa de fazer uma apresentação das ideias revolucionárias aos trabalhadores de distintas categorias que atuam conosco e fazer um chamado a estes companheiros a estudar, debater e participar das atividades que impulsionaremos a partir do ciclo “Porque Trotsky?” e a aprofundar estas discussões conosco. Esperamos que esta pequena, mas importante, iniciativa sirva como impulso para que esses companheiros tomem em suas mãos a apaixonante tarefa de lutar por uma sociedade sem explorados e exploradores, sobretudo em um momento em que a crise econômica internacional começa a demonstrar seus primeiros impactos no Brasil, no qual onde a resposta de nossa classe será decisiva.

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