Terça 14 de Maio de 2024

Nacional

Basta de mortes pela sede de lucro!

Transformar a comoção em protesto!

17 Jul 2007   |   comentários

Nos últimos dias, ficamos tomados por indignação ao lembrarmos que junto com 186 passageiros e tripulantes, foram vários os trabalhadores que morreram no trabalho, outros ao tentarem salvar suas vidas e tantos outros salvando as vidas de companheiros.

Os trabalhadores dos aeroportos, e muitos de diversas categorias, têm se colocado no lugar dos companheiros que morreram naquele prédio em chamas, refletindo que isso poderia acontecer com qualquer um de nós. E isto passa a ser um temor a mais para os trabalhadores da aviação que são, junto com os usuários, os que têm sofrido na pele com a crise aérea.

Para governo, órgãos estatais e para a mídia a serviço dos grandes capitalistas donos das companhias aéreas a crise dos aeroportos não passa pelo drama operário nem tampouco dos usuários, mas é tratada com o maior dos cinismos do tipo “relaxa e goza” , e ao mesmo tempo busca isentar os verdadeiros culpados ’ as empresas aéreas, os governos, a direção da Infraero, o comando da Aeronáutica e a Anac (Agência Nacional de Aviação) ’ e criar os “vilões” que lhes convêm ’ os controladores de vóo - para esconder seus crimes.

Só pode ser justa a crescente indignação da população e dos familiares das vítimas do acidente, ao ver a postura dos responsáveis por todas as mortes, desde o governo Lula, a Infraero, o Ministério da Defesa, a Aeronáutica, o governo estadual de São Paulo (Serra, PSDB e PFL-DEM), a TAM, empresa integrante do duopólio assassino TAM-GOL, que juntas já mataram mais de 350 pessoas em 10 meses, assim como a dita CPI do “Apagão Aéreo” conformada por deputados do corrupto parlamento do país, que concluiu seus trabalhos com acusações contra os controladores de vóo e inocentando as empresas aéreas e os governantes.

Essa crise aérea que hoje se expressa tragicamente por conta de acidentes tem como outra face, e seu marco inicial, a tragédia “silenciosa” das 9 mil famílias dos trabalhadores da velha Varig demitidos sem os direitos pagos e com total aval dos mesmos responsáveis pelos acidentes de hoje - Governo Lula, Anac e os capitalistas aéreos. Mas essa tragédia dos trabalhadores demitidos a imprensa e a burguesia esquecem fácil, para não ter que explicar que os acidentes também são conseqüências dos milhares de trabalhadores capacitados ’ pilotos, comissários, aeroportuários etc. - que perderam o emprego em nome do “enxugamento” da Varig e das companhias aéreas que demitem e cortam despesas, inclusive de manutenção e segurança, para alcançar maiores lucros.

O governo federal se ausentou das responsabilidades. Durante uma semana não se pronunciou sobre o acidente de Congonhas, e o que vimos foram as posturas escandalosas de assessores diretos de Lula comemorando a possível falha do avião, o silêncio da Anac, Infraero, Aeronáutica e Ministério da Defesa, além da desrespeitosa entrega de medalhas aos responsáveis pelos acidentes. Lula anunciou medidas que de nada resolvem o problema, e vão criar mais vantagens para as empresas aéreas, como o aumento das passagens para garantir os lucros das empresas em face da diminuição de vóos em Congonhas.

Diante desse acidente, os governos estadual e municipal (Serra e Kassab) procuram posar como solidários e inocentes, num puro oportunismo, visto que esta aliança política ’ PSDB e PFL-DEM ’ está à frente do governo estadual desde 1995 e por oito anos dominou a o governo federal, deixando de investir em infra-estrutura, cortando verbas para garantir pagamento de juros aos banqueiros e empresários, demitindo trabalhadores, terceirizando e precarizando as condições de trabalho dos controladores de vóo, funcionários da Infraero e das instituições responsáveis pela aviação nacional. Também são responsáveis pela crise aérea e as tragédias, como ficou claro com o acidente da linha 4 do Metró, que matou 9 pessoas em nome dos lucros das empreiteiras e dos objetivos político-eleitorais do PSDB e do PFL-DEM.

Não cabe a nós e nem nos ajudará, cair no debate se a causa é “falha humana” ou “mecânica” . Consideramos e relembrarmos que nesses dias a matriz de todas as causas de tragédias para a massa trabalhadora é a habilidade de uns poucos privilegiados transformarem miséria, exploração e a insegurança, em lucros, como a TAM lucrou se aproveitando da demanda e da procura logo após o acidente da GOL há 10 meses, são hoje os capitalistas da família Constantino, donos da GOL, que riem a partir da esperança da retomada dos grandes lucros perante as mortes no vóo da TAM.

Não podemos permitir que este duopólio da aviação nacional seja isento da responsabilidade de ter pressionado pela aceleração da reforma superficial e a liberação prematura das pistas do aeroporto de Congonhas! E logo após o terrível acidente se negam a interditá-la já que a plena “alta temporada” de férias é o momento de mais lucros, às custas das vidas dos passageiros e trabalhadores da aviação. Perante a isso, o presidente Lula, mostrando mais uma vez que esta ao lado dos capitalistas da aviação sai a publico para dizer que “o sistema aéreo brasileiro é seguro” .

Chamamos cada trabalhador, especialmente os que estão de alguma maneira ligados aos aeroportos e vivem o drama imposto pelos capitalistas, a se levantar conosco e dizer um BASTA. Basta de mortes pela sede de lucro! Sigamos o exemplo dos controladores de vóo que se colocaram em luta. Somente unificando os trabalhadores, com uma política independente, poderemos impedir mais e mais tragédias como as milhares de demissões na Varig e os constantes acidentes aéreos. Apenas assim poderemos barrar os sistemáticos ataques que temos sofrido em nossas condições de trabalho, com terceirizações, precarização, redução dos salários e direitos, demissões, para não falar da pressão psicológica a qual nos submetem. Basta de super-exploraçã o! É hora de darmos uma saída que atenda aos nossos interesses e aos da população. Vamos transformar a comoção em protesto e mobilização por soluções definitivas!

Os Controladores de Vóo, como parte da classe trabalhadora, lutam legitimamente e estavam com a razão!

Desde o começo nos colocamos ao lado dos companheiros controladores de vóo que diante da precarização de suas condições de trabalho se colocaram em luta frontal contra os planos do governo e dos monopólios da aviação, e inclusive desafiando seus superiores das Forças Armadas, denunciando a situação de risco dos aeroportos e a iminência de novos acidentes de grande proporção.

Foi para evitar tragédias como a última que centenas de controladores do país se mobilizaram e se negaram a trabalhar como forma de alertar a sociedade, já que como trabalhadores reconhecem os graves riscos por conta das condições precárias dos equipamentos. Porém, foram logo censurados ’ e alguns deles presos ’ pelo governo Lula e pelos velhos ditadores militares da Aeronáutica.

Repetimos ao conjunto dos trabalhadores e usuários, e também à população: perante a crise aérea só confiamos nos controladores! Esses companheiros, como nós, não têm nenhuma espécie de interesse particular ou ganância; ao contrário, seus interesses são coletivos, pois suas melhores condições de trabalho representam conseqüentemente condições mais seguras de vóos.

Por isso, chamamos a todos a se solidarizarem com a luta dos controladores e contra a repressão que o governo Lula e a FAB aplicam contra eles. Exigimos a desmilitarizaçã o do controle aéreo já! Liberdade imediata dos controladores, fim dos processos e punições, direito de reunião, organização e greve! Atendimento das reivindicações dos controladores!

O PSOL, a Conlutas e a esquerda precisam adotar uma política independente

Algumas forças políticas da esquerda, equivocadamente, não atuam nem utilizam suas forças para que haja uma saída independente dos trabalhadores para a crise. O PSOL, por exemplo, diz “orgulhar-se” de participar da CPI do Apagão Aéreo, na qual PT, PMDB, PSDB, PFL-DEM e Cia. concluíram que os culpados pela crise são os controladores de vóo, inocentando as empresas ’ Gol e TAM - e os governantes. Esta CPI também tem culpa no cartório, porque esteve em Congonhas ’ junto com o Ministério Público ’ fazendo vistoria na pista e avalizando a reabertura sem as obras completas, uma das causas do acidente da TAM.

Como o PSOL pode pedir aos trabalhadores que confiem que os políticos corruptos do Congresso nacional são capazes de investigar e punir as empresas que financiam suas campanhas? Todos sabem que o senador Roriz, que renunciou há poucos dias, foi flagrado recebendo R$ 2 milhões do “Nenê Constantino” , o dono da GOL. E não é novidade que a TAM tem gente sua na Anac, a partir das relações desta empresa com o ex-ministro José Dirceu, dirigentes do PT e parlamentares.

Das CPIs e das comissões de investigação do governo, da Aeronáutica e da Infraero nada se pode esperar de positivo. Somente uma investigação independente, dos que não têm rabo preso com os responsáveis pela crise e tragédias, pode levar a um veredito verdadeiro e à punição dos responsáveis. As centrais sindicais, os sindicatos e associações dos trabalhadores da aviação e as associações das vítimas dos acidentes podem constituir uma Comissão Independente de Investigação, recorrendo a técnicos e especialistas independentes que apurem a verdade sobre os acidentes e desmascarem as raízes da crise aérea, isto é, os negócios que envolvem as empresas aéreas, a cúpula militar, os governantes, a Anac, os dirigentes da Infraero e os políticos patronais.

Essa Comissão Independente de Investigação poderia demonstrar as culpas e exigir as punições dos responsáveis, além de debater e propor medidas sérias para resolver a crise aérea de conjunto.

A Conlutas e a Intersindical, que reúnem sindicatos e organizações de oposição ao governo Lula e ao governo estadual, deveriam tomar iniciativas concretas para exigir da CUT, da Força Sindical e demais centrais sindicais passos para constituir essa Comissão. Um primeiro passo para uma ação independente deve ser cercar de solidariedade todos familiares das vítimas, defendendo suas exigências e direitos, colocando toda a estrutura sindical a favor deles, assim como convocando atos e manifestações de protesto contra os acidentes, o caos aéreo, a prisão dos controladores e os ataques aos direitos dos trabalhadores da aviação. Uma grande campanha nacional pode e deve ser encabeçada por essas organizações sindicais de esquerda, fazendo chegar aos milhões de trabalhadores e ao povo a verdade sobre a crise aérea, seus responsáveis e as soluções para evitar tragédias humanas e perdas para os trabalhadores. Medidas duras como paralisações e greves de solidariedade em diversas categorias devem culminar um plano de ação no qual os trabalhadores possam impor suas forças e garantir a punição dos responsáveis.

Trabalhadores e usuários: devemos nos organizar contra a crise, a insegurança dos vóos e as precárias condições de trabalho

Desde a falência-venda da Varig e o brutal ataque sem precedentes históricos no país, quando se demitiu de um só golpe mais de 9 mil trabalhadores sem pagamento, as centrais sindicais, as organizações de massa e mesmo as principais organizações de esquerda adotaram uma postura de criminosa passividade. Mesma postura adotada após o acidente com o Boeing da Gol ou quando era cumprida a ordem de prisão dos líderes das greves dos controladores.

A CUT, principal central sindical do país, está atrelada por mil laços ao governo e ao Estado e por isso seus dirigentes não levantam uma mínima campanha contra a ganância assassina dos monopólios da aviação. A Força Sindical, que mantém o controle de forma mafiosa do sindicato dos aeroviários do estado de São Paulo, utiliza o sindicato para simplesmente transmitir as imposições patronais de precarização contra os direitos dos trabalhadores, abandonando- os às condições revoltantes. Esses dirigentes sindicais burocratas se aliam aos governos e às empresas aéreas e entregam nossos direitos, salários e conquistas, ao mesmo tempo em que não defendem os interesses dos passageiros e da população.

Devemos confiar e contar com nossas próprias forças para alcançar uma aviação segura, de qualidade e acessível aos que trabalham e à maioria da população. Somente medidas radicais podem resolver o grave problema aéreo nacional, enfrentando o problema dos problemas: a sede de lucros das empresas que tudo fazem para aumentar sua produtividade numa concorrência desenfreada que só pode causar mais tragédias para os trabalhadores e os usuários.

Ao contrário do que dizem os governantes, as empresas, os militares e a imprensa, os trabalhadores aeroviários e os usuários precisam compreender que a solução para o “caos aéreo” exige acabar com essa concorrência, começando por tomar soluções profundas para a aviação com uma medida radical: estatizar todo o sistema aéreo, criar uma empresa única estatal de transporte de passageiros e de cargas e de controle aéreo, que administre e gerencie todo o sistema em prol da maioria da população trabalhadora do país e dos usuários.

Isso é necessário porque a Infraero, apesar de ser uma estatal funciona para gerir e se submeter aos interesses das empresas aéreas, além de servir como um cabide de emprego para as negociatas políticas entre os partidos patronais, a cúpula dos militares e os empresários. Uma estatal com tamanha responsabilidade estratégica não pode continuar sendo controlada e administrada por burocratas a serviço das empresas e dos governantes. Os trabalhadores aeroviários e os usuários devem tomar em suas mãos esse serviço essencial, sob a administração operária de um Conselho Administrativo com dirigentes eleitos e revogáveis, que prestem contas publicamente às organizações sindicais e populares que representem os interesses dos usuários, dos trabalhadores e do povo pobre.

Essa é a única saída real para eliminar as tragédias capitalistas, ao mesmo tempo em que se abre a possibilidade de fazer da aviação um serviço realmente essencial seguro e de qualidade que permita sua utilização ao conjunto da população e não apenas a uma elite ’ 20%, hoje ’, pois a maioria popular sonha mas não pode viajar de avião.

O Movimento de Trabalhadores Classistas é composto por militantes da LER-QI e independentes

Artigos relacionados: Nacional









  • Não há comentários para este artigo