Quarta 1 de Maio de 2024

Internacional

EDITORIAL DO JORNAL CLASE CONTRA CLASE PTR N167

Se estamos lutando, que seja para vencer

20 Aug 2011   |   comentários

Mobilização de rua

Na quinta-feira, 18 de agosto, 250 mil pessoas em todo o país e 100 mil em Santiago lotaram as avenidas centrais das principais cidades. No dia anterior o governo tinha respondido os estudantes com uma verdadeira chacota: baixar os juros dos créditos com garantia do estado de 6% para 2%. Quer dizer, manter o endividamento. No resto da sua política educativa, simplesmente insistiu.

A prefeitura, preocupada com a possibilidade de novos eventos da luta de rua, coordenou com a direção do Colégio de Professores (dirigido pelo Partido Comunista) a presença de encarregado de segurança do próprio ato, que mantiveram contato com a força policial. Isso contribuiu para que dessa vez não se dessem enfrentamentos de rua, coisa que para a classe patronal, empenhada na recuperação da vacas gordas neoliberais dos anos é uma preocupação de primeira ordem.

A crise do regime

Do mesmo modo, é uma preocupação de primeira ordem encontrar canais nos marcos da institucionalidade e do regime para desativar o processo. As tentativas desmobilizadoras do governo fracassaram. A derivação da discussão ao congresso -que Guido Girard (PPD) y Melero (UDI) impulsionaram- não rendeu frutos, apesar da intenção inicial de dialogo por parte de Camila Vallejo e do PC. Produto da pressão das bases, a Confech negou-se a esse dialogo. Isso é a expressão de algo muito mais profundo: existe uma experiencia acumulada, de 2006, que faz os estudantes desconfiarem de tudo o que cheire a desvio. Qualquer um que dialoque cotidianamente com estudantes de base, sabe que ninguém quer retroceder a não ser que se consigamos a educação gratuita.

E a classe trabalhadora? A paralisação de 24 e 25

Durante esses 3 meses de luta estudantil vimos importantes processos de greves operárias. Os subcontratados da Codelco em Rancagua paralisaram durante 53 dias e os trabalhadores de Escondida – a mina de cobre mais importante do mundo – durante 15. Os mineiros da planta da Codelco, que não paravam desde 1993, fizeram um dia de paralisação em julho. Os professores fizeram paralisações intermitentes com os estudantes. Os portuarios de Biobio e os trabalhadores do Banco do Chile também protagonizaram greves. Por que essas lutas não confluiram com o enorme processo estudantil? Por que seus dirigentes (PC, Concertação) limitam esses processos a lutas puramente econômicas ou coorporativas. Ou quando colocam consignas mais políticas, como a nacionalização do cobre, não tentaram levar a luta até o final. No caso dos professores, somente em Antofagasta, realizaram uma paralisação por tempo indefinido – que os dirigentes levantaram sem uma decisão a partir das bases-. No resto do país, os dirigentes do Colégio de professores (PC), não impulsionaram mobilizações reais junto aos estudantes. Se alguns setores de trabalhadores confluíram nas ruas com a luta estudantil (como ocorreu com atos de mineiros e estudantes em Antofagasta e Santiago, ou com a presença de professores nas lutas estudantis), não o fizeram através de uma coordenação orgânica das bases. Qualquer tipo de unidade é feita somente pelos dirigentes de cima. Porém, o que faz falta é uma Assembléia Operária, Estudantil e Popular, com delegados mandatados e assembléias resolutivas, para elaborar um Plano de Luta Comum. Podemos dar os passos para elaborar um plano de luta comum. Podemos dar os passos iniciais neste sentido preparando a paralisação convocada pela CUT para 24 e 25 de agosto. Os dirigentes da CUT (PS, PC), não estão à altura das exigências. Somente adiantaram a paralisação que era em outubro para 24 e 25 de agosto. Em sua política defendem maiores impostos para os ricos e um sistema de previdencia administrado pelo estado. Porém, não esclarece o que acontece se esse estado é controlado pela direita como é hoje. O que garante então que nossos fundos de previdência não vão para nas mãos de banqueiros e especuladores? Faz falta que a administração das AFP (Administradoras de Fundos de Pensão) seja feita pelos operários e usuários. Defendem corretamente o rechaço ao código de trabalho da ditadura e o direito de greve. Porém toma como sua a demanda de mudanças constitucionais e a exigência de um plebiscito, que foi rechaçado pela direita, que quer manter tudo igual, de toda forma não um mecanismo realmente democrático e começa a ser criticado inclusive no interior da Confech, onde a maioria das federações se opuseram. Nós também criticamos A) Quem vai elaborar a pergunta dos plebicitos, o governo e os políticos empresariais ou os estudantes e trabalhadores mobilizados? Como? B) O que acontece com os menores de 18 anos que são os protagonistas da luta? C) No caso atual da luta educativa, já não está claro o que quer a chamada “coletividade”, com as marchas multitudinárias e o rechaço de 80% ao lucro? D) Não é por acaso demobilizador passar a discussão das ocupações e das ruas ao parlamento, onde teria que refletirse precisamente o votado no plebiscito? Quem garante que esses parlamentares, com mil laçoscom a educação privada legislarão a serviço do movimento estudantil e dos trabalhadores, depois de realizado o plebiscito? Confiar nos plebiscitos é confiar na democracia para ricos.

Lutar e vencer

Como lutar para vencer? Os empresários defenderão seus interesses com unhas e dentes. Evelyn Matthei (ministra do trabalho) já ameaçou com descontos os funcionários públicos que paralisarem. Há alguns dias os empresários, preocupados, se reuniram com Piñera para evitar qualquer reforma tributária que implique em maiores impostos. O que temos que visualizar é que quanto mais a luta dos trabalhadores, estudantes e pobres avance, e mais as instituições da democracia dos ricos se desprestigiem, mais brutais serão os empresários na hora de se defender. Toda a brutalidade policial e a repressão neste contexto não é casual. As declarações ditatoriais de Zalaquett (UDI) o Larraín (RN) não são casuais.
É necessário lutar por uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana, baseada na mobilização dos trabalhadores e do povo pobre. Criar assambléias operárias-estudantis-populares, para elaborar um plano nacional de luta. Preparar a paralisação de 24 e 25 de agosto a partir das bases. Organizar uma paralisação por tempo indefinido de professores, com mobilização, ainda mais agora que o governo lança o plano “salvar o ano escolar” que busca usar professores para quebrar o movimento. Lutar por uma segunda reforma universitária e uma escola nacional unificada. Prosseguir até que conseguir a educação gratuita em todos os seus niveis e acabar com o subsidio estatal as privadas. Há que construir uma Esquerda Operária e Socialista pata travar essas batalhas. O PTR luta por isso.

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