Quarta 24 de Abril de 2024

Internacional

CHILE

Desafiando a prepotência

11 Aug 2011   |   comentários

No dia 4 de agosto o governo ocupou as avenidas com a polícia para realizar seu objetivo político: suspender o direito à manifestação. Se houvessem conquistado seu objetivo os empresários da educação, entre outros o próprio ex ministro da educação J. Lavín, estariam respirando tranqüilamente. Cerca de 80% da população, segundo a última pesquisa CEP, rechaça o lucro na educação básica e universitária. Mas seu plano não funcionou. Os estudantes secundaristas e universitários desafiaram a prepotência do governo. Ainda que não tenha sido possível concentrar-se na Praça Itália. A imprensa direitista divulgou por toda a tarde que os estudantes “não conseguiram marchar”. Mas miilhares e mlhares protagonizaram enfrentamentos com a polícia, barricadas e pedradas. Às 18h30min, num gesto patronal, o governo chamou repetidamente que se descumprisse a convocatória da Confech e do Colégio de Professores. Helicópteros policiais usavam luz de perseguição nas ruas da cidade. Mas novamente durante a tarde aconteciam enfrentamentos com a policia e dezenas de barricadas. Cerca das 21 horas começaram a bater as panelas em municípios como Cerro Navia, San Miguel, Maipú, em cidades do sul como Puerto Montt e também em bairros mais acomodados como Nuñoa. Existe um amplo apoio ao movimento. Todos estão fartos da educação de Pinochet.

A última pesquisa CEP mostrou que o movimento estudantil gerou um enorme desprestígio ao governo. Apenas 26% da população o aprova. 54% o rechaça. Mas o conjunto dos políticos empresariais atravessa um mal momento. A Concertação não possui mais que 19% de apoio e a Coalizão pela Mudança 24%. Tudo indica que há cada vez menos confiança nesses conglomerados que existem como pilares da “democracia protegida”. Tudo isso enquanto o debate sobre a educação contribui para a politização de amplos setores da sociedade.

Isso é o que podemos denominar de uma crise do regime da democracia protegida. A Concertación era um grupo de “falsos amigos do povo”. Bachelet, por exemplo, ganhou popularidade com a “proteção social”, subsidiando com pequenas quantias os setores mais empobrecidos da sociedade. Mas agora que muitos poucos acreditam no progressismo da Concertación, qual político patronal sairá fortalecido com a crise da direita? Todo mundo reconhece a crise política. Por isso que tanto a direita quanto a oposição começam a acelerar os trâmites de reformas políticas como a inscrição automática, o voto voluntário ou dos chilenos que vivem em outros países. Seus analistas começam a discutir a necessidade de mecanismos plebiscitários e como acabar com a designação “a dedo” de parlamentares.

A atuação da polícia no 4 de agosto e noutros acontecimentos recentes como na denúncia de infiltrados nas marchas que aparecem na televisão aberta podem abrir também um maior questionamento em diversos setores sociais ao autoritarismo e a sua instituição. Sob quais pilares a patronal vai se apoiar para salvar seu domínio da sociedade? Não é casual que Zalaquett e Chadwick responderam com tanta fúria no 4 de agosto. Zalaquett anunciou desocupações e que os pais dos estudantes nas ocupações teriam que pagar de seus próprios bolsos possíveis danos nas escolas. Chadwick disse que ninguém dá ultimato ao governo, aludindo ao prazo de 6 dias que deram a Confech e o Colégio de Professores e defendeu abertamente a repressão.

A CUT adiantou sua paralisação de outubro para agosto (25) mas não há sinais de que queiram paralisar conjuntamente com os estudantes e professores no dia 9. Deste modo a enorme simpatia pelo movimento estudantil não é transformada pelas direções da classe trabalhadora em um convite para a entrada em cena da luta operária. Na mina Escondida refluiu o movimento com um abono. Poderiam os dirigentes deste setor ter mantido o apoio da paralisação nacional? Não são os trabalhadores uma enorme força quando utilizam seus próprios métodos de luta como a greve? Para acabar com as divisões devem ser formadas assembléias operárias e populares em todo o país para organizar um plano de luta. Há que lutar por uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana baseada na mobilização dos trabalhadores e do povo pobre.

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