Sexta 26 de Abril de 2024

Economia

Quais os efeitos da crise russa sobre a economia brasileira?

21 Dec 2014   |   comentários

As bolsas de valores do mundo inteiro, principalmente nos países periféricos (chamados eufemisticamente de emergentes pela imprensa patronal), foram abaladas pela repercussão da forte queda do rublo, moeda nacional russa, frente ao dólar. Apenas na terça-feira 16/12 a desvalorização foi de 11%, a maior desvalorização diária desde a grande crise que atingiu o país em (...)

As bolsas de valores do mundo inteiro, principalmente nos países periféricos (chamados eufemisticamente de emergentes pela imprensa patronal), foram abaladas pela repercussão da forte queda do rublo, moeda nacional russa, frente ao dólar. Apenas na terça-feira 16/12 a desvalorização foi de 11%, a maior desvalorização diária desde a grande crise que atingiu o país em 1998.

As autoridades russas, a começar por Vladimir Putin, culparam as sanções da U.E. e dos Estados Unidos pela forte queda da moeda; analistas burgueses além desse fator destacam a queda do petróleo (principal produto de exportação da economia russa) como elemento determinante para os problemas econômicos que atingem o país; se é evidente que esses fatores jogam um papel importante na presente crise russa eles são catalizadores de um processo mais profundo que vem se desenrolando desde pelo menos o começo de 2014 e que com a crise russa pode entrar numa nova fase que faça com que a crise mundial entre em um novo patamar, como explicamos aqui.http://www.palavraoperaria.org/Russia-a-queda-do-rublo-coloca-Putin-em-rota-de-colisao

Os países da periferia capitalista (semicoloniais) entram mais fortemente na dinâmica da crise

Durante todo o primeiro momento da crise mundial essa foi marcada por atingir diretamente os centros mais importantes da economia capitalista, as principais potências imperialistas, com ritmos e impactos desiguais tanto no espaço quanto no tempo. As principais economias dos países dependentes e semicoloniais, agrupadas em torno dos chamados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), apesar de sentirem obviamente os efeitos da crise, em vários momentos pareceram ser a contra-tendência a seu desenvolvimento, com a China mantendo seus grandes patamares de crescimento econômico, o Brasil crescendo ao se beneficiar da demanda chinesa por matérias-primas, a Rússia mesmo tendo um desempenho importante de sua economia.

Esse cenário passa a mudar a partir de meados de 2013 e ganha mais força a partir do começo de 2014; começam a haver demonstrações de uma desaceleração importante da economia chinesa, as economias brasileira e russa passam a dar sinais de que poderiam estar se encaminhando ao estancamento econômico, a Argentina (que apesar de não fazer parte dos BRICS é também uma importante economia periférica) enfrentando problemas cada vez maiores em relação a sua dívida externa, em conflitos com os “fundos abutres” estadunidenses, o preço das principais commodites (importantes produtos de exportação das economias semicoloniais) demonstrando quedas acentuadas (dentre as quais o petróleo, que perdeu 40% de seu preço internacional em 5 meses).

Assim, vemos que os problemas atuais que atravessa a economia russa longe de serem algo conjuntural ou específico do país são parte das mudanças estruturais por que está passando a economia mundial e da possibilidade cada vez mais real de que a crise atinja de maneira mais direta os países semicoloniais que até agora vinham conseguindo se manter em relativa estabilidade.

Quais os impactos da crise russa sobre a economia brasileira?

A crise na Rússia teve impacto quase imediato sobre a economia do Brasil; na quarta-feira (17/12) o dólar teve uma forte alta, mostrando que os acontecimentos no país do leste europeu devem repercutir rapidamente sobre nossa economia.
Isso se dá porque a crise do rublo é marco que mostra de maneira evidente esse novo momento da economia mundial, onde as grandes economias periféricas já são atingidas mais integralmente pelas contradições engendradas pela crise capitalista.

Os “mercados” e o capital financeiro, que num primeiro momento tinham se refugiado nesses países periféricos em busca de uma maior segurança (posto que eram as economias centrais que estavam em crise) e de suas altas taxas de juros, com o fim da estabilidade relativa que vinham mantendo esses países, a também relativa recuperação da economia estadunidense e a sinalização do FED (banco central dos EUA) de que os juros no país vão subir, tendem a afluir para esses países centrais, principalmente os EUA, e fugir dos riscos nas economia “emergentes”.

O primeiro impacto, neste sentido, da queda do rublo sobre a economia brasileira é o efeito de contágio, a insegurança que o capital financeiro irá sentir em investir dinheiro em economias mais instáveis e dependentes das receitas provenientes de matérias-primas num contexto de queda da demanda mundial; a isso se somam os problemas específicos da economia brasileira, que já desde meados de 2013, e com mais força a partir desse ano, vem sendo golpeada pelos efeitos da crise: as retrações no crédito, no consumo, no emprego, a desaceleração da economia nacional, todos estes elementos tendem a ser fatores que vão afastar ainda mais os investimentos de capitais no Brasil, o que por sua vez tende a aprofundar ainda mais esses efeitos, como numa bola de neve.

Esta corrida contra os investimentos em países dependentes das matérias-primas (como se mostra nas preocupações com as gigantes do gás e petróleo Gazprom e Rosneft na Rússia, enfrentando dificuldades no pagamento das dívidas em dólares) pode afetar também o Brasil em meio à mega-crise da Petrobrás, já que os lucros projetados pelos investimentos internacionais no pré-sal estão seriamente questionados com o barril de petróleo em queda, a US$60.

Rumando ao oitavo ano da crise mundial e com a integração dos “emergentes” na economia mundial, as consequências de “defaults” ou quebras de grandes empresas vinculadas às commodities nos BRICS em 2015 seriam incomparavelmente maiores do que foram as consequências da crise da dívida asiática e o default da Rússia de finais da década de 1990. A crise russa, portanto, no marco de ser possivelmente uma inflexão na crise mundial, é um sintoma dos problemas econômicos de todos os chamados “emergentes” dos BRICS, como a economia brasileira, e nós trabalhadores não podemos deixar de nos preparar para que o Brasil seja a próxima “bola da vez” a ser golpeada por seus efeitos de forma mais contundente.

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