Sexta 26 de Abril de 2024

Nacional

Chega de repressão e assassinatos no campo

Pelo direito de autodefesa dos sem terra e dos trabalhadores do campo

11 May 2003   |   comentários

Nos últimos meses, os camponeses sem terra vêm intensificando suas lutas. Só no primeiro trimestre de2003, foram cerca de 45 ocupações, em estados como o Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro entre outros. São 22 novos acampamentos contra 19 registrados no mesmo período de 2002, no governo de FHC, além de uma série de atos e ocupações de prédios públicos que os sem terra vêm promovendo.

Esse ressurgir da luta no campo é fruto da enorme concentração da terra nas mãos da burguesia latifundiária, enquanto milhões de camponeses não possuem terra para trabalhar, sofrendo desemprego, fome e a miséria. Hoje, mais de 95 mil famílias aguardam em assentamentos passando fome. E o governo do PT, que prometia fazer a distribuição de terras, hoje lhes pede calma. Sempre calma. Assim é também para com o resto dos trabalhadores. Quem passa por situações adversas como essa, realmente não pode continuar esperando, quanto mais ter calma enquanto vê seus filhos morrerem de fome.

Mas, além de não ter terra para trabalhar, eles vem sofrendo da violência que dia a dia aumenta: no primeiro trimestre deste ano, houve 13 assassinatos oficialmente reconhecidos a trabalhadores do campo, ações judiciais, despejos sendo executadas pela P.M de maneira brutal, deixando sem terras feridos, ao mesmo tempo em que se criam bandos de jagunços, armados pelos grandes latifundiários, para combater os sem terra. O caso mais notório ’ porque veio a público ’ é o exemplo claro do Paraná, onde latifundiários organizaram-se para criar o que eles próprios denominam de “Primeiro Comando Rural” , financiado por estes, para a contratação de jagunços e a compra de armas, visando combater e assassinar os trabalhadores sem terra.

Os camponeses pobres e sem terra apoiaram Lula para a presidência, com ilusões de que ele viesse a realizar distribuição de terra. Contudo Lula, desde que chegou ao governo vem fazendo o contrário.

Por isso os trabalhadores do campo nada devem esperar deste governo, pois um governo que possui em seus ministérios e em importantes cargos, grandes latifundiários e homens do agro-business, como o ministro da agricultura Roberto Rodrigues, presidente da ABGA, e o Ministro do Desenvolvimento Furlan, presidente do Conselho de Administração da Sadia, um conglomerado com grandes propriedades no campo, não poderá atender às reivindicações dos sem terra. Uma mostra disso é a manutenção da medida provisória do governo FHC, que impede que uma terra ocupada seja desapropriada por dois anos, garantindo para a burguesia a lei e a ordem, a mesma ordem e lei que permitiu a morte de centenas de sem terra em massacres e tocaias, sem que os responsáveis sejam “legalmente” punidos.

Desde 1980 já são mais de 1.500 trabalhadores sem terra assassinados por fuzis empunhados por jagunços e PMs que agem como o braço armado da burguesia latifundiária disposta a massacrar qualquer trabalhador que vá contra seu latifúndio, evidenciando ainda mais a necessidade dos camponeses sem terra organizarem sua defesa contra essas guardas reacionárias.

Pelo direito de autodefesa dos sem terra

Temos que dar um basta a estas agressões e assassinatos. Como bem vimos no julgamento dos PMs que participaram do massacre de Eldorado dos Carajás que foram absolvidos, a justiça está a favor dos patrões. Mas são lamentáveis atitudes como as da direção do MST, que vem simplesmente pedindo o desarmamento dos bandos de jagunços armados, sem tomar nenhuma atitude eficaz contra a “fúria” dos latifundiários, deixando os trabalhadores sem terra sem nenhuma defesa concreta. Isto fica claro na declaração de Stédile: “recomendamos que em caso de conflito, todos devem se envolver. Homens, mulheres e crianças têm que agarrar paus, panelas e pedras para defender-se. Isso não agride a polícia, porém demonstra a seria vontade de conquistar a terra” .

Mas o que é de absoluta irres-ponsabilidade é a recente atitude da direção do MST no Paraná, região de grandes lutas, onde o governador do Estado propós às lideranças que a policia fizesse um “estágio” nos acampamentos, em resposta a uma das reivindicações que os dirigentes fizeram ao governador.

“Queremos um policial mais bem preparado, que trate a questão agrária como um problema social e não como um caso de polícia” disse José Damas-ceno, um dos coordenadores estaduais do MST (Informativo MST-on line).

Um absurdo! Colocar o braço armado da burguesia dentro de sua “trincheira” com a esperança que mude de lado, sem contar que esses PMs observarão como se estrutura o acampamento e quais são as medidas de segurança, facilitando ainda mais suas ações.

É uma ilusão acreditar que a policia não vai reprimir a luta dos sem terra. Esta ilusão deixa a burguesia um passo à frente, pois sempre estará preparada para reprimir, e com a Justiça ao seu lado. Sendo assim, os trabalhadores do campo devem estar sempre preparados para resistir a mais repressão.

Aqui não se trata de casos isolados, e sim de ataques ferozes da burguesia latifundiária disposta a torturar e matar os trabalhadores do campo e suas famílias, que já vêm sofrendo ano após ano. Não podemos deixar mais que os camponeses que vêm travando importantes lutas durante anos continuem sendo colocados sob o nefasto jugo da repressão e de assassinatos.

É necessário que os sem terra junto aos trabalhadores do campo organizem sua própria autodefesa, rompendo com toda a lógica pacifista das direções, tendo o direito de se armar se for necessário, para poder defender sua integridade física a de sua família de seus companheiros e seus assentamentos.

Eles têm direito de montar suas próprias milícias camponesas, que tenham condições estruturais para defender suas famílias e a terra conquistada.

Pela direito de autodefesa dos sem terra!

Pela liberdade imediata de todos os sem terra presos!

Cadeia aos assassinos!

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