Quinta 25 de Abril de 2024

Nacional

Pela liberdade imediata de todos os sem terra

Cadeia aos assassinos dos trabalhadores do campo

11 Oct 2003   |   comentários

É notório que nos últimos meses a luta pela terra se intensificou. E nos últimos três meses houve um recrudescer ainda maior da luta no campo, com uma série de ocupações e marchas por todo o território nacional. Estados como Pernambuco já ultrapassaram a marca de 143 acampamentos com mais de 18.884 famílias acampadas no local; houve um aumento, em relação ao mesmo período do ano passado, de 62% nas ocupações.

Este recrudescer da luta no campo é fruto da desigual distribuição de terra no país, onde cerca de 1% dos proprietários rurais possuem 46% de todas as terras cultiváveis, enquanto existem milhões de camponeses pobres lutando por terra para trabalhar.

O governo Lula até o momento não tem atendido nem as mais mínimas reivindicações dos sem terra. E enquanto pede calma uma onda de assassinatos e brutal repressão contra os camponeses se expande por diversas regiões do país. Só durante o novo governo Lula foram assassinados 54 sem terra, reconhecidos oficialmente, e só no estado do Pará já são 22 assassinatos, onde a recente chacina de oito camponeses na semana passada ocupou as páginas dos principais jornais. A esta repressão e onda de assassinatos se somam as ações judiciais e despejos que são executados a bala pela polícia militar. Basta a menor ordem do Poder Judiciário para se iniciar a repressão em defesa dos latifundiários, transformando esse poder em um aliado incontestável dos fazendeiros.

Como se não bastasse o crescente apoio dos juízes, os latifundiários criaram organizações que funcionam como verdadeiros grupos paramilitares, com o objetivo de reprimir e assassinar sem terras. Estes bandos armados, como é o caso do Primeiro Comando Rural, grupo montado por grandes latifundiários, visam combater e assassinar os trabalhadores do campo, e não se fazem de rogados ao anunciar aos “quatro ventos” a criação do grupo e exibir seu arsenal de guerra.

Soma-se a isso a campanha de cri-minalização dos sem terra, culminando na prisão de dezenas de trabalhadores rurais e de dirigentes dos camponeses, entre os que se destaca José Rainha e Diolinda, figuras públicas nacionais. É necessário montar uma grande campanha nacional e internacional pelo fim das agressões e assassinatos, que ocorrem há anos, exigindo cadeia para os assassinos.

Se desde 1980 até os dias de hoje, o número de assassinatos já ultrapassa a marca de 1.500, sendo que destes só 121 foram a julgamento e apenas 58 foram condenados, o que mostra bem como funciona a democracia dos ricos que faz vistas grossas aos bandos armados dos latifundiários e absolve os P.M”™s que mataram os trabalhadores, como os de Eldorado do Ca-rajás. Enquanto isso, con dena a a mais de 4 anos de cárcere José Rainha, sob o argumento de portar uma simples espingarda. A justiça não é neutra e age em favor dos patrões e, por isso, os camponeses sem terra nada devem esperar dela.

A direção do MST deve ser responsável e não deixar que os milhares de trabalhadores que lutam pela terra fiquem à mercê da “fúria” dos latifundiários. Mas, lamentavelmente, diante de todas essas chacinas a atitude dos dirigentes do MST foi sentar-se com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marcio Thomas Bastos, o mesmo que defendeu a postura do Juiz que encarcerou Rainha; e também com o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, para continuar pedindo o desarmamento dos latifundiários e uma intervenção do Estado.

Como bem vimos o Estado e a Justiça estão a serviço dos latifundiários, e são os que afirmam que os recentes assassinatos dos camponeses não tem nada a ver com o conflito agrário, tal como se expressou a Ouvidoria Agrária no caso do Pará, onde alegou que a chacina dos 8 sem terra que foram executados com tiros na cabeça não estava ligada à luta pela terra. Tendo atitudes como essas, os dirigentes do MST fazem com que os camponeses pobres acreditem que seja possível ter sua segurança garantida pela democracia dos ricos e sua polícia.

Todos estes fatos evidenciam que é mais do que necessário que a ampla massa de camponeses sem terra se organize para ter condições estruturais de se defender dos latifundiários, garantindo as reais condições para sua defesa, a dos seus familiares, dos seus companheiros e dos assentamentos. Por isso é importante lutar pelo direito de autodefesa dos camponeses pobres.

Os sem terra devem, hoje mais do nunca, colocar para si a necessidade da união com a classe operária urbana e agrícola, para unificar as lutas e enfrentar a política de conjunto do governo e da patronal.

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