Quinta 16 de Maio de 2024

Nacional

Frente à traição do PT e da burocracia da CUT

Os trabalhadores brasileiros precisam de um partido independente

20 Jan 2005   |   comentários

Os dois anos de governo de Lula e do PT em aliança com setores importantes da burguesia brasileira se completam marcados pela total submissão ao capital internacional e por brutais ataques às condições de vida dos trabalhadores. Enquanto os patrões e membros do governo comemoram os altos índices de crescimento, os trabalhadores e o povo continuam sofrendo com os baixos salários, o desemprego e a superexploração. O pouco que se conquistou em algumas categorias teve que ser arrancado através de duras lutas e enfrentamentos com a patronal, nas importantes greves que se desenvolveram em 2004, com destaque para a exemplar greve dos bancários, que há mais de uma década não protagonizavam uma greve nacional efetiva.

Porém, essa saída à cena de setores importantes dos trabalhadores brasileiros encontrou no controle do PT sobre a CUT um obstáculo, visto que ela, que é uma organização dos trabalhadores, atuou, uma vez mais, contendo a radicalização, colaborando com as políticas da patronal e negociando acordos pelas costas dos próprios trabalhadores. Como se não bastasse, esta influência vêm garantindo completo apoio, em nome dos milhões de trabalhadores da CUT, às reformas neoliberais que o governo implementa e vai implementar, e que constituem grandes ataques às já miseráveis condições de vida das massas, retirando ou “flexibilizando” direitos historicamente conquistados pelos trabalhadores, como férias, 13° salário, licença maternidade, e atacando as organizações de base da classe trabalhadora, os sindicatos, dando todo o poder de decidir sobre a vida do trabalhadores a uma burocracia que representa os interesses do governo e dos patrões dentro das centrais sindicais. Por isso o movimento operário, ainda que na maior parte das vezes não tenha se colocado diretamente contra o governo de Lula, em qualquer luta por reivindicação salarial teve, e terá cada vez mais, que se enfrentar com aqueles que defendem os interesses da patronal e do governo dentro do movimento dos trabalhadores e de suas organizações.

Assim, os sindicatos estão pressionados a fazer política, pois são colocadas a eles basicamente duas possibilidades: colaborar com a política do governo de contenção das massas ou se enfrentar a essa política. Uma parte minoritária desses sindicatos já começa a se organizar, rompendo com o governo e com o PT e construindo a Conlutas. Esta vanguarda do movimento sindical deve, a partir de se constituir como um pólo antiburocrático, voltar-se aos trabalhadores que ainda confiam no governo e lutar para recuperar a CUT e seus sindicatos para a luta dos trabalhadores, livrando-os do controle do PT. É preciso também revolucionar o funcionamento dos sindicatos. Construir verdadeiros sindicatos militantes, cercados de ativistas e baseados na democracia operária, onde se elejam novos dirigentes, que atuem respeitando o mandato de suas assembléias, que sejam revogáveis e substituíveis por outros a qualquer momento e que não tenham nenhum privilégio com relação aos outros trabalhadores. Mas esta luta para recuperar as organizações da classe trabalhadora, que é a força social que move todas as coisas, deve se desenvolver até o final no terreno político, colocando uma saída dos trabalhadores e do conjunto das classes oprimidas para acabar com a fome, a miséria e a exploração.

A traição do PT

Quando os operários que, em meio à ditadura militar, deram sua vida nas heróicas greves do ABC no final dos anos 1970 e começo dos 80 decidiram que a classe trabalhadora brasileira necessitava de um partido próprio, que defendesse seus interesses, opostos aos dos patrões com seus partidos, deram um passo importante no sentido de compreender que a luta por salário em cada categoria e a organização sindical não eram suficientes. Que os trabalhadores são mais fortes quanto mais eles estiverem unificados entre as diferentes categorias. O capitalismo nos divide ’ primeiro em empregados e de-sempregados, depois entre as distintas categorias, e ainda entre cada empresa e função que se ocupa dentro dela ’ para poder melhor nos explorar. Construir um partido da classe trabalhadora de conjunto representava para estes operários, elevar esta classe à luta política, construir uma alternativa independente dos trabalhadores para a crise do país.

No entanto, desde o início, os trabalhadores tiveram muito pouca voz dentro deste partido que supostamente seria seu. Os dirigentes sindicais que haviam traído as greves, negociando ganhos muito reduzidos, depois de as greves terem colocado em xeque a estabilidade do regime no país, se aliaram aos intelectuais e setores “progressistas” da Igreja que se uniram ao processo de construção do PT, e foram eles que, desde o início, concentraram todas as decisões, se constituindo como políticos profissionais, enquanto aos trabalhadores que enfrentavam dia-a-dia a dura realidade da exploração capitalista e que tanta energia depositaram na construção do PT, só era destinado o papel das lutas salariais, económicas, e de votar no PT de dois em dois anos. Assim, o desejo dos trabalhadores de construir sua própria ferramenta política foi apropriado e transformado em seu contrário, na manutenção da separação entre os trabalhadores que faziam greves por salário e os parlamentares que faziam política, cada vez mais adaptada à ordem capitalista, cedendo aos interesses dos patrões e traindo os dos trabalhadores.

Aa experiência com o PT está muito marcada na classe operária brasileira e, em seu atual estágio de desenvolvimento, traz consigo elementos contraditórios de avanço e atraso. Apesar de sua traição aberta, a ampla maioria dos trabalhadores e do povo ainda nutrem muitas esperanças no governo de Lula e do partido no qual depositaram tanta energia e confiança durante mais de duas décadas como se fosse seu. É nisso que se sustenta a força do governo para implementar seus ataques e os altos índices de popularidade de Lula. É por isso que hoje se faz necessário minar a influência que o PT e o governo exercem sobre os trabalhadores.

A principal referência organizativa dos trabalhadores hoje no Brasil são os seus sindicatos. A própria influência que o PT exerce sobre a classe trabalhadora se dá em grande medida a partir da burocracia sindical ligada a este partido. Para se contrapor conseqüentemente ao PT, é necessário partir desse nível de consciência, buscando elevar os sindicatos à luta política. É necessário dizer aos trabalhadores que o PT desde sua origem separou as decisões tomadas pelo partido das decisões tomadas pelos trabalhadores organizados nos sindicatos; que essa separação permitiu que os parlamentares e governantes petistas se aliassem com a burguesia pelas costas e contra os trabalhadores.

Com a exigência de que a CUT e seus sindicatos rompam com o governo Lula e com o PT, adotem um programa operário de saída para a crise e impulsionem a construção de um grande partido operário, dirigido pelos trabalhadores a partir de seus sindicatos e organizações de base, a Conlutas pode e deve construir frações revolucionárias nos sindicatos que ainda são dirigidos pela burocracia; frações que sejam capazes de expulsar os burocratas e fazer com que a Conlutas vá além da influência que tem hoje sobre setores minoritários e de vanguarda e passe a ter influência sobre a maioria dos sindicatos e sobre as massas.

Por um partido realmente dirigido pelos trabalhadores, a partir de seus sindicatos e organizações de base

É preciso, com base no melhor da tradição que deixaram os trabalhadores da década de 1980 e tirando lições da traição do PT, completar a experiência de construir um partido próprio da classe trabalhadora, desta vez realmente independente dos patrões e onde sejam os trabalhadores que tudo decidam, a partir de cada sindicato e local de trabalho, ao contrário do que se deu com o PT. Dentro deste partido haveria total liberdade de atuação de tendências operárias, desde que tudo fosse decidido pelos trabalhadores, empregados e desempregados, a partir de suas assembléias e organizações de luta.

Esta é a forma de demonstrar aos milhões de trabalhadores que não vêem na esquerda brasileira alternativas ao PT, mas que tem referência em seus sindicatos, e que mais cedo ou mais tarde se desiludirão com Lula, que a experiência da classe trabalhadora brasileira que hoje dá sinais claros de recuperação ’ aliada à energia de uma juventude trabalhadora que não amarga os anos de derrotas sofridas durante a década de 1990 ’ nos brinda com bases sólidas para a construção de um partido independente, que expresse o peso social dos milhões que compõem a classe trabalhadora brasileira.

Não podemos permitir que a desilusão com o PT resulte na prostração dos trabalhadores, num aumento da influência dos partidos burgueses sobre estes, ou ainda deixá-los à mercê de novas saídas conciliadoras que certamente buscarão canalizar as energias dessa ruptura para um projeto reformista reciclado, por dentro do regime capitalista, que repita em forma de farsa a tragédia que significaram os vinte e cinco anos que este mês completa o PT.

Os ritmos da experiência das massas com o governo Lula e com o PT podem se acelerar em 2005, já que sequer crescimento do ano passado, que não se reverteu em melhorias significativas nas condições de vida das massas, deve se repetir e crises eco-nómicas profundas não estão descartadas. Não podemos mais permitir que essas crises sejam descarregadas sobre as costas dos trabalhadores e que suas vidas sejam negociadas no balcão de apostas das bolsas de valores.

O Partido Operário Independente deve discutir em assembléias e congressos de trabalhadores um programa operário de saída para a crise do país. Para nós este programa deve dar resposta aos problemas fundamentais, como a dívida externa, que é um dos principais mecanismos através dos quais o imperialismo usurpa nossas riquezas. Por isto é necessário lutar pelo não pagamento da dívida externa e pela ruptura com o FMI.

Não podemos continuar permitindo que dezenas de milhões de trabalhadores vivam com salários miseráveis enquanto outros milhões trabalham de forma precária ou sofrem com o desemprego. É necessário lutar por um salário mínimo capaz de suprir as necessidades de uma família (que segundo o DIEESE seria de R$ 1.470), reajustado mensalmente de acordo com o aumento do custo de vida. É necessário lutar por um seguro desemprego universal, sem qualquer restrição de tempo. Não podemos permitir mais nenhuma demissão. Toda a empresa que feche ou demita deve ser ocupada pelos trabalhadores e colocada para produzir sob seu controle, destinando sua produção ao atendimento das necessidades da população. Mas para acabar de fato com o desemprego e a superexploração existe uma saída simples: reduzir a jornada de trabalho sem reduzir os salários, o suficiente para garantir que todos sejam incorporados à produção. Uma forma simples de criar muitos postos de trabalho é desenvolver um grande plano de obras públicas, sob controle dos trabalhadores e financiado com o não pagamento da dívida externa e com impostos progressivos às grandes fortunas, para construir todas as casa, escolas e hospitais necessários à população

Mas o grande norte deste Partido deve ser promover a auto-organização operária, organismos de coordenação de trabalhadores empregados e desempregados que conquistem a confiança do povo pobre, na luta para derrotar os capitalistas e o seu Estado, e substituí-lo por um verdadeiro governo dos trabalhadores e do povo.

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